O dia que mais temo que chegue é o da morte do Roberto Carlos. Se o Michael Jackson já foi aquilo tudo, se o translado do corpo do Ayrton Senna foi acompanhado por imensas multidões nas ruas, imagina o “Rei”! E o noticiário? E as viúvas? Não! Não!
Deus, por favor, atenda meu pedido: Vida longa ao Rei.
Faz tempo que não assistia a um show do Roberto Carlos. Fiquei satisfeito com o que aconteceu, aliás, na verdade gostei mesmo do que não aconteceu.
Acompanhei atentamente, devido à ligação entre o cantor e a Beija-Flor de Nilópolis, que tem como enredo para 2011: “Roberto Carlos, A Simplicidade de Um Rei.”
No primeiro bloco as mesmas músicas que fizeram dele um símbolo de romantismo, enfeitadas com uma levada meio bossa nova, pra combinar com o ambiente, com a cidade, com Copacabana. Achei interessante.
Eu não conhecia a cantora Paula Fernandes, convidada no segundo bloco do show. Bela cruzada de pernas. Lá do Leme dava pra ver e ficar louco! Também gostei da voz. Mas o jeito de cantar... Parece a Sandy amanhã!
Terceira parte do show eu pedi arrego! Bruno e Marrone? Aqui é Rio de Janeiro, “mermão”! Vai tocar música sertaneja lá no Oeste! Não dá! Hora de ir à cozinha, fazer um sanduba, lanchar.
Quarta parte do show. A hora esperada por mim: Roberto Carlos convida para o palco o grupo Exaltasamba. Ao fundo a bateria da Beija-Flor preparada para tocar. Este seria o momento crucial para o relacionamento entre a escola e o cantor homenageado no seu enredo.
Com todo respeito à carreira do RC, mas esta história de Rei Roberto Carlos é uma imposição apelativa massificada pela mídia, assim como a tal idéia da “Simplicidade do Rei”, tema da Beija-Flor. De simples ele não tem nada! Só pode ser ironia.
Depois da “Guerra da Vila Cruzeiro” e da “Tomada do Alemão” pelas forças do bem do Cabral, este show foi o assunto mais falado nos últimos dias. Estava esperando uma chatice, depois de ontem ver a Xuxa, com quase oitenta anos, chegando de vestidinho de princesa em uma carruagem, para seu programa especial de fim de ano.
Rainhas à parte, quando eu soube do enredo da Beija não recebi a idéia com otimismo. Além de não acreditar na tal simplicidade, acho que personalidades de grande fama como Roberto Carlos tendem a entrar em conflito com as escolas que os homenageiam. A menos que haja um envolvimento, uma compreensão da importância das escolas de samba na cultura carioca ou uma real simplicidade, o choque de egos é quase inevitável.
Tem que ser um Dorival Caymmi, um Carlos Drummond de Andrade ou um Chico Buarque para compreender e sentir a honra de ser homenageado.
Divulgada a sinopse do enredo, a Beija-Flor, como de praxe, mandou confeccionar camisas para as apresentações em shows, ensaios técnicos, etc. A camisa estampava uma rosa, o nome do enredo e uma foto discreta do Roberto. Ao saber que havia uma foto sua nas camisas o “Rei” não permitiu e mandou que fossem recolhidas todas as que já haviam sido distribuídas. Assim foi feito. Crise Um: Contornada.
Crise Dois: Erasmo Carlos, Paulo Sérgio Valle e o maestro da banda do RC, Eduardo Lages inscrevem um “samba” para concorrer na escola.
Justifico as aspas: Nem de longe aquilo era samba. Era uma música de gênero indefinido e muito, muitíssimo ruim. A música do Silvio Santos que dizia que “a pipa do vovô não sobe mais” dava um banho na do Tremendão.
Só que lobby é coisa poderosa. Grana também. Uma indústria de alimentos bancaria, no caso de vitória do “samba Tremendão”, contando não sei com que retorno, a quantia modesta de 10 milhões de reais. Caraça! Isso paga qualquer carnaval na Avenida. Não sei se a escola levaria algum, mas comenta-se que o trio de compositores, mesmo perdendo, levou um milhão cada um!
E eles, acreditando na força dos seus nomes, estavam certos que iriam ganhar. E o Roberto Carlos, provavelmente também. Por força do lobby levaram “o samba”, entre os 54 outros concorrentes iniciais, até a eliminatória onde escolheriam os seis sambas semifinalistas. A derrota foi surpreendente para eles.
No início de dezembro a escola se sentiu honrada ao ser convidada por Roberto Carlos para participar do show do dia de Natal, em Copacabana.
Quinta-feira, 23 de dezembro. A bateria da escola chegou às cinco da tarde no local do show, para o único ensaio. Ali uma surpresa: Roberto Carlos também convidara o grupo Exaltasamba.
A idéia do cantor era a bateria da escola tocar para o Exaltasamba cantar, acreditem, o “samba” perdedor, do amigo Erasmo Carlos! E o grupo também gravaria, ou gravará (para seu azar) a tal “música”!
Isso é inadmissível no mundo das escolas de samba! Gravar e divulgar, antes do carnaval, um samba perdedor! Imaginem se os 54 concorrentes fizessem isso? Perdeu? Esquece! Faz de conta que não existiu. Quer gravar? Deixa ao menos passar o carnaval.
A bateria ficou contrariada, assim como todas as pessoas da escola que souberam do fato.
A escola poderia, por força do lobby e do dinheiro, mesmo se o “samba” fosse ruim, pegar uma parte ou outra e encaixar no samba vencedor, dar a autoria aos nove, em vez de dá-la aos seis legítimos vencedores. Mas o “samba” não era ruim. Era péssimo! Sem chances de aproveitamento de coisa nenhuma.
Eu assisti ao show aguardando o resultado do impasse. Queria saber se a Beija-Flor de Nilópolis iria ceder à Rede Globo e ao Roberto Carlos e seus amigos. Quando vi a bateria preparada para tocar na hora que o Exaltasamba entrou no palco eu fiquei decepcionado. Na boa. Termo certo: fiquei puto mesmo!
Aí eu percebi o sorriso no rosto do Rodney, um dos diretores da bateria. Vi nas expressões dos colegas ritmistas uma satisfação que indicava que não estavam contrariados. E o Exaltasamba não cantou o “samba” do Tremendão. A bateria até acompanhou, discretamente, o grupo que cantou “... primeiro a gente foge, depois a gente vê...” Ah! Não foge!
Depois entraram a Raíssa, nossa musa, o mestre Binho, o Marcinho da frigideira, o Nilsinho Néon da cuíca e toda rapaziada acompanhando Claudinho e Selminha Sorriso, mestre-sala e porta-bandeira da escola, e o cantor Neguinho da Beija-Flor. Todos felizes, cantando o legítimo samba enredo da escola.
O “Rei” convidou a “banda” da escola, que só desceu a mão nos tambores quando ele corrigiu: - “Perdão, a bateria da Beija-Flor, minha escola de coração!”
Quem ainda não foi a Nilópolis e nunca pisou na quadra da Beija-Flor, quando for vai se arrepiar ao ver o orgulho e a garra com que o povo leva o punho fechado ao coração enquanto canta:
“... Comunidade impõe respeito! Bate no peito: Eu Sou Beija-Flor!”
É uma brasa, mora? (o que hoje quer dizer: É sinistro, tá ligado?)
O que a Globo não mostrou:
ResponderExcluirhttp://www.sidneyrezende.com/noticia/114678+muita+emocao+rei+faz+show+vivendo+momento+lindo+em+copacabana
Aqui fala que esse samba do Erasmo foi cantado antes do samba de 2011... Será??
Cris, é possível que tenham cantado, mas não foi ao ar. Talvez por algum acordo entre a Beija-Flor e a produção, cantaram durante o intervalo. Vou confirmar amanhã, no ensaio da bateria.
ResponderExcluirValeu!
Mauro