quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Eis que uma vez, num dia mágico, o encontrei e ao conversarmos lhe falei sobre os reis, sobre as leis. E ele falou: A grande lição é dar amor e receber, de volta, amor.

Nature Boy
(eden ahbez)

There was a boy
A very strange, enchanted boy
They say he wondered very far
Very far, over land and sea
A little shy and sad of eye
But very wise was he

And then one day,
One magic day he passed my way
While we spoke of many things
Fools and Kings
This he said to me…

The greatest thing you'll ever learn
Is just to love and be loved in return.


Vou confessar uma coisa, que provavelmente já foi percebida pelas pessoas mais próximas ou mais observadoras: sou bastante vaidoso.
Quem bater o olho em mim saberá que não é da parte física que falo. Estou confessando a minha ... – vou me aliviar... -  meu "orgulho" em relação ao meu intelecto.
Ser vaidoso com minha parte intelectual não quer dizer que eu me ache um gênio. Apenas percebi que tenho uma ferramenta espetacular em mãos, e que, quando não tenho preguiça de usá-la, consigo realizar alguns trabalhos interessantes.
Existe, contudo, uma parte do meu ser que cobra que eu utilize cada vez melhor esta ferramenta. Para que isto se cumpra, eu devo analisar e criticar a maneira como a utilizo, descobrir as falhas e acertos, apurar as técnicas,  aperfeiçoar seu uso.
Apaixonado pelo que representam as palavras “comunicação social”, sempre digo que existem dois brasileiros vivos que eu admiro intensamente pela maneira clara como utilizam seus intelectos, um ao expor suas ideias pela fala, outro pela música e textos: Caetano Veloso e Chico Buarque.
Fico observando encantado a precisão das palavras, no tempo e significado exatos, do compositor baiano quando fala, e do carioca quando compõe. Eles possuem uma capacidade invejável de comunicação e de raciocínio, a ponto de fazerem disso suas artes, evidentemente reforçados pelo rico e excelente vocabulário que os dois possuem e, acima de tudo, inteligência para organizar ideias através das palavras.
Em busca de minhas soluções, curtindo palavras, acabei de ler um texto que me deu algumas chaves para desvendar os meus mais frequentes mistérios, e delas tento lançar mão.
No meio destas chaves está a simples distinção entre as palavras raciocinar e racionalizar.
Sempre pensei em mim como uma pessoa que usa bem o intelecto para raciocinar, mas ao analisar a distinção entre os dois termos, percebi que na verdade meu cérebro tem mecanismos que sempre procuram a racionalização dos fatos e das coisas.
A diferença entre os dois é que pelo raciocínio você pode chegar à explicação científica das coisas, e pela racionalização se chega a uma zona de conforto construída pelo intelecto para justificar de maneira verossímil as coisas e fatos. O raciocínio busca a verdade e nunca aceita definitivamente uma conclusão. A racionalização busca a conclusão, mesmo que seja necessário negar a verdade.
Em outros termos, se eu não tomar cuidado estarei sempre gerando ideologias, o que pode, pela minha cobrança moral, transformar minha vaidade em vergonha.
Outro aspecto da minha personalidade que me dá narcisicamente prazer é a certeza de possuir um conjunto de características que em sua soma me conferem, sem falsa modéstia, um certo fascínio sobre algumas poucas pessoas.
Algumas delas, mais antenadas, tentando explicar tal fascínio, o atribuem ao fato de eu ter boa parcela, se não incorporada, pelo menos claramente percebida, de uma visão feminina sobre as coisas.
Mas o que significa esta visão feminina? Acredito que o senso comum distingue, além das evidentes diferenças físicas, homens e mulheres pela maneira como encaram as coisas. O homem enxerga o mundo pelo lado da razão, a mulher pelo lado da emoção. Sendo razão e emoção dois ideais extremos raramente alcançados, pois sendo mediócre a maioria da humanidade, o que se atinge e se reforça, de um modo geral, são homens que racionalizam e mulheres que sentimentalizam.
Sentimentalizar está para a emoção assim como racionalizar está para a razão. São exemplos de como os dois ideais extremos podem ter forte interferência de “ruídos”.
A mente masculina cria racionalizações e a feminina cria sentimentalismos para justificar o mundo.
No geral, devido a inconsciente guerra dos sexos, o homem rejeita os sentimentalismos femininos e se satisfaz com sua racionalização. Já a mulher tem postura exatamente oposta.
Tendo em mãos estas ideias eu consigo explicar o fascínio que consigo exercer sobre algumas pessoas por ter aspectos que esboçam um ser ideal (apesar de estar a uma distância interestelar dele), capaz de conter aspectos racionais e emocionais, reunindo e desfazendo esta distinção intensa,  estabelecida pelos próprios interesses dos seres humanos neles mesmos, entre o que é masculino e feminino, tornando quase impossível um ser humano pleno de qualidades racionais e emocionais.
Por eu sempre tentar ser racional, com muita interferência de racionalismos e ao mesmo tempo ser emocional, com pouca interferência de sentimentalismos (pois meus filtros masculinos dispensam o que não considero o “filé”) é que minha amiga Rosa Sagaria, que me conhece intensamente há muito tempo, e por não conseguir me encaixar na sua visão crítica do que é masculino, diz que eu não sou homem, "sou pessoa".
Utilizando ainda a mesma linha de raciocínio, eu consigo entender o motivo pelo qual as mulheres que demonstram ser inteligentes mas ao mesmo tempo imensamente emocionais são as que mais me atraem. Principalmente as que demonstram emoções por mim incompreensivelmente belas e sentimentalismos capazes de me tirar do sério, abalar meu raciocínio e minha capacidade de racionalizar.
Segundo Nietzsche, “todo idealismo perante a necessidade é um engano”.
Abaixo, portanto, o ideal! Mais do que explicar e entender o mundo, eu preciso, simplesmente, amar e ser amado.

"Hoje eu vim minha nega

Como venho quando posso
Na boca as mesmas palavras
No peito o mesmo remorso
Nas mãos a mesma viola onde eu gravei o teu nome
Nas mãos a mesma viola onde eu gravei o teu nome..."

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Não se afobe não que nada é pra já

Minha grande amiga Edite Maltez, há anos vivendo na França e com pouco contato com o nosso Português, comentou um link que coloquei no Facebook - O vídeo de Chico Buarque cantando "Futuros Amantes" - e disse que não entendeu nada da letra.
O interessante é que a letra da música ilustra em suas passagens como o desuso de uma língua pode torná-la morta, por esquecimento.
Minha interpretação da letra foi a seguinte:

Futuros Amantes

(Chico Buarque)


Não se afobe, não
Que nada é pra já
O amor não tem pressa
Ele pode esperar em silêncio
Num fundo de armário
Na posta-restante
Milênios, milênios
No ar
E quem sabe, então
O Rio será
Alguma cidade submersa
Os escafandristas virão
Explorar sua casa
Seu quarto, suas coisas
Sua alma, desvãos
Sábios em vão
Tentarão decifrar
O eco de antigas palavras
Fragmentos de cartas, poemas
Mentiras, retratos
Vestígios de estranha civilização
Não se afobe, não
Que nada é pra já
Amores serão sempre amáveis
Futuros amantes, quiçá
Se amarão sem saber
Com o amor que eu um dia
Deixei pra você


 Imagino um homem falando para a sua amada que seu amor não carece de pressa, pois pode aguardar ser vivido.
O interessante que ele fala do amor como uma energia que independe de sua própria existência, pois o mesmo pode sobreviver e esperar “milênios, milênios no ar”.
Aí começa a imaginar uma paisagem futurista, na qual a cidade do Rio de Janeiro poderá estar submersa, e mergulhadores irão explorá-la, e na casa da  mulher amada irão encontrar “as cartas, o quarto, as coisas”, a sua própria alma e esconderijos (lugares secretos ou pouco usados – desvãos).
Por terem se passado milênios, a língua dos textos escritos já será uma língua morta que nem os sábios saberão decifrar "os vestígios de tão estranha e antiga civilização".
Termina confirmando que seu amor, assim como outros, permanecerá “no ar” (pois amores serão sempre “amáveis”, quer dizer, permanecerão com a capacidade de serem vividos) e o amor que ele hoje dedica à sua amada, que pela vagarosidade dela em aceitá-lo (ou por desdém) talvez nunca seja por ela correspondido, irá se manter vivo e perdido, até que futuros amantes, mesmo sem saber, acabem por encontrá-lo e finalmente vivê-lo.


E agora, querida Edite, clareou?
A nossa amizade sobreviverá à nossa existência e futuros amigos a viverão.
Vão se dar muito bem.

A lição nós sabemos de cor. Só nos resta aprender

“A gente ensina melhor o que precisa aprender”

A frase é do “Manual do Messias”, que sempre roubo pra mim e que, mais uma vez, se confirmou.
Mesmo sem estar nas melhores condições físicas, por necessidade e urgência, ontem fui ao dentista, de carro, no Largo do Machado, em pleno meio-dia.
Havia dias que não saia de casa, mas mesmo assim só percebi a beleza da tarde ao olhar pela janela do consultório, durante o período que estava aguardando a anestesia fazer efeito.
É impressionante como cariocas como eu permitem que o dia passe, que o estresse venha, que a correria do cotidiano e as falsas urgências tomem conta e a gente passe “batido” pelas belezas que o Rio de Janeiro oferece. Estas belezas podem nos energizar positivamente, podem trazer paz e tranqüilidade.
Saí do consultório querendo compartilhar o dia com alguém. Estava na “cara do gol”. A maioria dos meus amigos, frutos da roda de samba da Praça São Salvador, mora nas imediações de Laranjeiras.
Liguei de primeira para uma amiga que me atendeu e confessou, chorando, estar deprimida.
Apelei para a beleza do dia e a convidei para dar um passeio e bater um breve papo, na mureta em frente ao Bar Urca.
Seus instintos de reação falaram mais alto e ela aceitou. Falamos dos problemas, analisamos, fizemos uma lista de ações e intenções para que as coisas se resolvessem.
Conversamos sobre respiração, sobre ocultismo, sobre equilíbrio do corpo, da mente e das emoções.
Ao entrarmos no carro, voltando para casa, ela me pediu que lhe mostrasse um cd que eu havia gravado para ela, com diversos sambas que cantamos na nossa roda.
Coloquei o cd no aparelho e, após a primeira música, ela começou a pular algumas canções assim que começavam. Perguntei:

- Por que está pulando, não gosta?
- Estou pulando apenas as músicas tristes.

Fomos ouvindo as músicas alegres até o lugar onde a deixei e segui correndo para a minha casa, fugindo da “hora do rush”.
 Fiquei pensando nas pessoas que estão tristes e deprimidas. Como ajudá-las? Por que estão assim? Como chegaram a tal ponto?

Para cada pessoa uma solução.
Sei, contudo, que todas precisam de amor, carinho e atenção. E todas precisam comprovar o quanto são ou podem ser úteis.
Esta amiga é uma ótima companhia. Sempre me faz bem e é um prazer estar com ela.
Tomara que o Sol da Urca e o meu desejo pela sua felicidade tenham-lhe causado um bom efeito. Espero que tenha aprendido que deve fazer com os pensamentos, portais de sentimentos, o mesmo que fez com as músicas tristes: Não permitir que continuem sendo executados: - Pule-os, cancele-os. Esta é a lição que ela sem perceber me ensinou a ensiná-la.
Obrigado flor.

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Eu Não Sou Cachorro Não!

Quase todos os dias eu recebo mensagens falando de amizade, algumas em PowerPoint. Tudo bem, curto muito o assunto, louvo a amizade.
O problema são as fotos.
Confesso que sinto agonia na medida em que clico e as imagens de pessoas abraçando cachorros vão aparecendo. Fico achando que as pessoas estão extremamente solitárias, e que a desilusão com outras pessoas as levam considerar realmente que seus cães são seus melhores amigos.
Comentei isto com minha filha e ela respondeu: - “É! Que troca! Você dá um beijo e leva uma lambida.”
Tudo bem que o comportamento dos cães é muito interessante, cativante mesmo. Acho que muita coisa boa pode ser extraída deste convívio, apesar de sempre tê-lo evitado.
Já vi cenas comoventes envolvendo cães e pessoas. Em geral, a atitude dos cães é mais louvável: a fidelidade, o companheirismo, a presença. Os seus donos os amam, muitas vezes, mas também deles reclamam muito e por eles sentem-se aprisionados! Engraçado isto! Domestica-se um animal, faz-se dele um ser dependente e depois atribui a ele os grilhões desta dependência!
Justificando a agonia das fotos, acho que os amigos que precisamos devem ser humanos. Somos animais sociais, mas temos o telencéfalo altamente desenvolvido e polegar opositor, como foi dito inúmeras vezes no curta “Ilha das Flores”. Somos seres humanos e não apenas o desejo de liberdade nos diferencia. Temos a necessidade de amar e sermos amados, e de termos amigos. Amigos humanos.
E qual o motivo desta amizade entre humanos ser tão rara, ou tão escassamente reconhecida, mesmo sendo real? Acho que é uma questão de ruído na construção da nossa personalidade.
Queremos o melhor para nós, mas não o que há de melhor no nosso mundo. Queremos que o nosso mundo seja tão bom quanto imaginamos que ele possa ser. E idealizamos tudo: desde os amigos até as horas de cada dia. E se as coisas não acontecem ou não são como gostaríamos, ficamos contrariados e as rejeitamos ou delas reclamamos.
É uma eterna insatisfação, que azeda a vida e principalmente qualquer relacionamento, impedindo o surgimento da amizade.
Mas se você insiste em fazer do seu cão o seu melhor amigo, ao menos aprenda com ele: Minimize o fato de ser contrariado, de não ser atendido ou entendido. Fique por perto de quem ama, mesmo se aparentemente esta pessoa não esteja lhe dando a mínima e, sobretudo, seja leal.
Voltando às características humanas, converse. Palavras e peito aberto são verdadeiros imãs para atrair amigos.
E quando encontrá-los, não deixe de abraçá-los e de festejar com eles.
E tenham a coragem de enviar mensagens em PowerPoint para todo mundo, com suas fotos, orgulhosos em festa, quando quiserem falar sobre amizade.

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

De repente me lembro do verde, a cor verde, a mais verde que existe. A cor mais alegre, a cor mais triste, o verde que tu vestes, o verde que vestistes, no dia que te vi, no dia que me vistes...

Ontem eu revi os olhos verdes mais lindos que já conheci em toda a minha vida.
Não são lindos apenas por sua cor, mas pelas expressões que manifestam. São olhos que riem. São também portas de entrada, para quem os olha com atenção e ousadia, para conhecer a sua maravilhosa dona.

Ela é uma eterna paixão. Lembro-me da primeira vez que a vi. Embora tendo entrado na mesma turma que eu, a recebi como “caloura”. Eu já estava no meu segundo ano de universidade, onde iniciei na Faculdade de Física e depois me transferi, no ano seguinte, para a faculdade de Meteorologia.

Bastou vê-la para escolhê-la como alvo da minha aproximação, das minhas brincadeiras e cantadas. Levei assim todo aquele primeiro dia de aula.
O incrível foi que, no dia seguinte, eu simplesmente me dei conta que não conseguia identificá-la entre as demais colegas. Não sabia como era o seu cabelo, seu corpo, seu jeito. Só consegui reconhecê-la quando vi seus olhos.

Tornamo-nos grandes amigos, tentamos um curtíssimo namoro que não foi adiante, assim como não fomos adiante com a faculdade de Meteorologia. Eu fui estudar Jornalismo, ela Geografia.

Levamos vinte e cinco anos para nos reencontrar. Foi como eu tivesse voltado no tempo através de seus olhos. Conversamos por horas e horas. Falamos do que aconteceu neste intervalo desde o nosso último encontro. Surgiu então a gratificante e indescritível sensação do reconhecimento.

Reencontrei a bela e apaixonante amiga. Voltei para casa e passei a noite como se tivesse visto um anjo. Não uma figura santificada, angelical, digna de auréolas e asinhas.

Um anjo bastante humano que me falou e me ouviu falar sobre as pessoas que nós amamos, sobre as que não conseguimos amar e as que deixamos de amar.

Falamos de nós. Rimos de nós como sempre fizemos.

Aliás, ninguém neste mundo jamais conseguiu me acompanhar com tanta intensidade e sincronia nas minhas “risadas de barriga” como ela: Uma linda mulher intensamente madura de olhos intensamente verdes.

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Arriscando tudo por uma miragem, pois sabem que há uma fonte oculta nas areias...

Após anos tomados de mim mesmo pela sonolência a qual me permiti, distribuindo culpas nas pessoas e na rotina, tenho vivido há meses a sensação de viver cada vez mais plenamente.

No início atribui tal sensação à liberdade, ao domínio do tempo, das ações. Agora chegou a hora de atribuir e agradecer o grande bem-estar às pessoas que conheci e aos velhos amigos de quem me reaproximei.

Outro dia perguntei a uma amiga se ela poderia encontrar uma explicação ao fato de eu dar tanta importância às pessoas, fazendo delas parte importantíssima da minha vida.
Uma das explicações plausíveis foi o desejo da recíproca. Outra do prazer narcísico de ser amado por quem eu amo e trato bem.

O fato é que eu não consigo ser diferente. Não vejo motivos para conter o desejo de abraçar, de fazer carinho, de tratar bem. Não temo declarar amor e prazer pela companhia.

Há um temor entre as pessoas de declararem amor por outras. Acho que a idéia é o conceito falso de que isto fragiliza. Não acredito nisto. Acho que é bom falar e acho incrível que existam pessoas que se incomodam em ouvir e sentir que são amadas.

É bom demais ter festa em cada encontro. Perceber que cada abraço se transforma em mais um laço de ternura, cada olhar trocado mais prolongado é uma permissão concedida para que um se aproxime mais do outro, se torne mais amigo.

Quando se percebe em um ambiente assim, o prazer é tão grande que a gente percorre os olhos e percebe detalhes: Da amiga que desde cedo dedicou seu dia para te receber, trabalhou, preparou pratos, arrumou a casa, perfumou o ambiente. 

É dedicação, é entrega, é o melhor presente que se pode ganhar.

Belas músicas, em geral, me emocionam. Mas eu levo um tempo e carece de um ritual para que eu seja assim atingido por elas. Tenho que relaxar, dedicar atenção, procurar silêncio e concentração para sentir a música.

Ontem aconteceu diferente. A alegria e o prazer de receber amigos em sua casa foram tão grandes que levou uma amiga a se levantar de sua cama, onde sofria com dores nos braços por conta de tendões e músculos adoecidos, ir ao piano e tocar maravilhosamente músicas lindíssimas, entre elas “A Miragem”, de Marcus Viana.

O presente desta amiga foi superar a dor pelo prazer de levar aos nossos corações a beleza profunda da arte que ela consegue fazer com seus doloridos dedos. Isto não se faz à toa. Somente por amor.

“Somente por amor
A gente põe a mão
No fogo da paixão
E deixa se queimar
Somente por amor...
Movemos terra e céus
Rasgando sete véus
Saltamos do abismo
Sem olhar prá trás
Somente por amor
E a vida se refaz...”

Obrigado amiga, pelo carinho e pela lição de amor.

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Longe Se Vai Sonhando Demais. Mas Onde Se Chega Assim?

Outro dia eu ouvi uma pessoa associando seus sonhos com fatos que os sucedem. Ela dizia, por exemplo, que todas as vezes que sonha com cobras acontece a morte de alguma pessoa conhecida.  
Eu, em silêncio, ouvia e pensava: - Bobagens!
Dispersou-se o momento e meus pensamentos não foram além daquela crítica. Mas agora, diante do teclado do computador, enquanto assistia o DVD Tambores de Minas e ouvia a canção “Caçador de Mim”, de Milton Nascimento, me reportei, por um segundo, àquele instante.

Para que servem os sonhos, afinal? Não tenho nenhum conhecimento técnico sobre isto, mas sei, por experiência e pelo senso comum, que o sono é reparador. Ele descansa nossos corpos, pausa nossos cérebros dos raciocínios e reações necessárias a cada momento enquanto estamos despertos. Mas por que sonhar? Há algum benefício nos sonhos?

Existem sonhos que começam tranquilos e assim terminam. Em geral o efeito que causam em nós é um despertar também tranquilo. Outros sonhos iniciam bruscamente, com situações terríveis e agonizantes de perigo ou pavor, de perda ou lamento. São pesadelos que nos despertam imediatamente, no meio da noite. O cérebro exige este despertar, já que o sono não está cumprindo sua função. Aí a gente levanta, vai à janela ou à geladeira, percebe que ainda é cedo, volta para a cama e dorme, aí sim, obtém o sono reparador necessário.
Há, no entanto, sonhos que nos confundem. Começam em verdes campos, em reinos de felicidade onde tudo é alegre e feliz, onde as pessoas são gentis, fraternas e equilibradas. É o sonho dentro do sonho. É um momento tão delicioso que o cérebro se permite relaxar, entrega-se às delícias do sono, entrega nosso corpo, nos entrega, enfim, inteiros para aquele paraíso.
Aí vem a cilada. Desprovido das defesas do cérebro ficamos sujeitos às mudanças de rumo que podem acontecer nos sonhos. Basta um momento, um segundo e tudo se transforma em pesadelo. Tudo perde a beleza, o paraíso se desfaz inexplicavelmente. E sofremos com este sonho enganador, pois o cérebro demora a retornar ao comando, e quando o faz tem imenso trabalho em separar o que ainda é sonho e o que é realidade. Despertamos lentamente e os dias, algumas vezes as semanas, que o seguem são tensos, pesados, tristes. Sofremos pelo que acreditamos ter perdido, sem perceber que nada perdemos, pois nada tivemos. Era sonho. Lamentamos, sofremos e tememos o que aconteceu no sonho e nos entristeceu, ignorando que não há motivo para tal, pois era apenas um pesadelo.
Então para que sonhar? Se o sono serve para nos esvaziar do cansaço do dia anterior, por qual motivo ele nos permite entrar em um estado que pode nos esgotar e arrasar nos dias posteriores?

Há especialistas que afirmam que sonhamos todas as noites durante dormir, várias vezes em cada uma delas.  O que acontece é que, no geral, não nos lembramos dos sonhos. Acho que isto não deveria ter exceção: Deveríamos não sonhar ou apenas sonhar durante o sono e ao final dele tudo ser esquecido. A vida desperta e real não deveria nem merecia ser influenciada,  confundida,  alterada ou desviada pelas irrealidades dos sonhos, sejam eles considerados bons ou ruins.

Então, o grande legado do sono que perduraria após o despertar seria o raro e reparador silêncio, e uma capacidade imediata de detectar e esquecer o que nunca foi real. Isto nos ajudaria a reduzir nossos enganos ou pelo menos nos levaria a aprender imediatamente com eles, sem que fosse necessário gastar tempo, trabalho e sofrimento,  distinguindo  e separando as vozes que vem da razão das que surgem do coração.

PS.: Sonhar não custa nada? Depois que passou a pensar assim a Mocidade Independente de Padre Miguel nunca mais ganhou o carnaval. 

Caia na real, Mocidade, enquanto há tempo.


domingo, 11 de setembro de 2011

Porque és o avesso do avesso do avesso do avesso

Existe uma parte do nosso ser que a gente luta o tempo todo para manter adormecida, oculta, calada. Esta parte é imensa, equivale à porção invisível de um iceberg.
O que mostramos é a superfície sobre a qual temos certo domínio de atuação e utilizamos tal domínio para criar uma imagem que acreditamos ser a melhor aceita pelas demais pessoas e por nós mesmos. Esta pessoa que gostaríamos de ser e chamamos de “nós”, é na verdade a negação do que somos, pois a nossa parte mais interna é tão profunda, misteriosa, densa, de difícil compreensão, que nos sentimos mais confortáveis vivendo na superfície, deixando trancadas as portas deste nosso desconhecido porão.
Tememos esta nossa parte porque, de um modo geral, só entramos em contato com ela em momentos de crise e de dor. Aí surge o equívoco, pelas dificuldades que trazem estes momentos, de que ela é ruim, que é o lugar onde moram nossas dores, que é um monstro que deve permanecer encarcerado. Mas se nos piores momentos ela se apresenta, é porque nossas respostas se encontram nela. É nela que verdadeiramente estamos. Nós somos esta parte.
Nela habita a nossa essência,  o que torna cada um de nós um ser único no universo.
Em situações raras, duas pessoas se encontram, se comunicam e se conhecem diretamente neste nível mais profundo, sem passar pela superfície. E quando retornam à superfície, estas pessoas  encontram no outro um ser estranho, difícil de relacionar e identificar como a pessoa conhecida na essência.
E tais pessoas se perdem em suas superficialidades, mantém-se em seus rasos papéis e se dizem felizes, sempre morrendo de medo de que lhe caiam as máscaras.
E se cercam de pessoas e coisas efêmeras e fúteis, e depois não conseguem entender como podem, mesmo entre tantos, se sentirem tão sós e tão vazios.

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Quando o Sol bater na janela do teu quarto

Hoje eu acordei com a luz dos primeiros raios de Sol invadindo meu quarto por uma fresta da cortina. Resisti um pouco mas me levantei da cama e abri a janela... do Facebook!

Desde a semana passada, após ouvir críticas aos sites de relacionamentos, passei a prestar mais atenção no meu comportamento diante deles. A analogia entre janelas das nossas casas e sites da Internet é tão precisa que Bill Gates, há muito, teve a sacada de batizar o seu sistema operacional com o nome de Windows.

Eu costumo elogiar o Facebook. O site dá oportunidade da troca de informações diretas, através do bate-papo, e também permite que se compartilhe músicas, vídeos, imagens e textos de maneira rápida e ampla. E é possível realizar toda esta troca de maneira restrita, pessoa a pessoa, sem que as mensagens caiam no conhecimento dos demais “amigos”. Fascinante.

Agora me pergunto se eu, alguma vez na vida, fiquei por tantas horas debruçado na janela, como fico diante do computador. Claro que não. E todas as vezes que eu vou à janela é para tentar ver algo que me despertou interesse. Saber o que está acontecendo ao alcance dos olhos, permitir uma surpreendente visão do que é belo, novo ou simplesmente ver o tempo passar.

Mas o Facebook, além de janela, é também vitrine. A gente fica exposto, na medida que se permite, ali. Se não tivermos isto em mente estaremos sujeitos a uma superexposição que pode reverter em danos. Como tudo que “dá barato”, que “dá onda”, deve ser usado com moderação.

E nunca deve substituir os prazeres do encontro pessoal, do abraço, do bate-papo olhando nos olhos, dos jantares, das cervejas e dos cafés.

Vou dar um tempo. Gerarei mais tempo para a leitura de livros, irei mais à locadora para pegar DVDs. Comprarei uma bicicleta, irei mais à feira, curtirei mais shows e conhecerei novas rodas de samba. Farei mais amigos. Tomarei muitos chopes com eles e irei adicioná-los, por fim, ao meu Facebook, para que saibam, através dele, que eu escrevi novas postagens no Batuque Meteórico.

E assim gira o mundo.

sábado, 23 de julho de 2011

Tanta escuridão pode tornar em vão a luz que acendeu fora de ocasião

Outro dia, na Praça São Salvador, eu e uma amiga travamos um curto diálogo após minha recusa em aceitar a caipirinha que ela me oferecia:

- vai dirigir? – perguntou.
- Não. É que hoje eu estou curtindo minha lucidez.

Acontece algumas vezes. É que eu tenho consciência que existem muitas coisas capazes de interferir no meu mais amplo raciocínio. Algumas delas são bem mais dissimuladas ou ocultas que caipirinhas, mas acrescentar a estas coisas alguns mililitros de cachaça no momento errado é pedir para cair numa cilada.

Estados emocionais como paixão, encantamento ou ciúmes são craques nisto. A gente fica meio bobo quando está encantado por alguém. Se o encantamento atinge a fase da paixão, aí mesmo é que o discernimento fica comprometido.

Contudo, encantamento e paixão dão barato, geram a maior onda. É bom sentir enquanto dura a festa. Quando termina é que vem a pancada: A ressaca é igual a um trator te atropelando. Quase óbito.

Aí tem que ficar inventando artifícios para sobreviver. Tenta esquecer, tirar da cabeça. Mas a única coisa que consegue esquecer é da velha lição que diz que só o vagaroso tempo é quem vai curar a maldita saudade dos tempos da alegria.

Pior quando a gente acha que está curado, inteiro, pronto para outra e do nada sente no ar um perfume que lembra o cheiro dela, ou encontra na memória da câmera uma foto, um retrato da flor. Dizem que a gente vive e morre uma só vez. A exceção é quando se morre de paixão: A gente morre varias vezes e ainda vira masoquista, igual criança que não sabe nadar quando vê um “toboágua”: Quer voltar para morrer de novo.

Outra noite eu cheguei cansado e decidi dormir cedo. Fiquei procurando algo para ler e acelerar a chegada do sono. Peguei um livro que desejo reler há anos. Abri e li na última página:

"(…) tudo o que estava escrito neles era irrepetível desde sempre e por todo o sempre, porque as estirpes condenadas a cem anos de solidão não tinham uma segunda oportunidade sobre a terra”.         
(Cem Anos de Solidão – Gabriel García Márquez)

A frase do livro se ligou a outra, que me veio à lembrança:

“Quero te contar um segredo agora. Eu vejo gente morta, andando por aí como gente comum. Uma não vê a outra. Elas só vêem o que querem ver. Não sabem que estão mortos. Estão em toda parte.”
(Coler Sear, o menino do filme O Sexto Sentido)

Eis aqui outras características dos que morrem de paixão: Eles também só vêem o que querem ver. E estão por toda parte.

Conclui que devo fazer parte das estirpes citadas em “Cem Anos de Solidão”, pois pessoas, coisas e oportunidades por mim perdidas são sempre, por mais que eu tente remover montanhas por elas, inevitavelmente irrecuperáveis.

Deitei e dormi feito pedra. E curti isto.

sexta-feira, 8 de julho de 2011

Felicidade é uma cidade pequenina, uma casinha, uma colina, qualquer lugar que se ilumina quando a gente quer amar

Minha amiga Sandra Costa e eu conversávamos outro dia sobre o filme Meia-Noite em Paris, de Woody Allen. Ela falou que esperava mais do filme, devido a expectativa gerada nos comentários e críticas. E eu disse que comigo aconteceu o contrário. Eu desconhecia opiniões e fiquei surpreso com o filme, que me agradou. Não é um clássico, nem sei se é um excelente filme diante da crítica. Mas fala da insatisfação com o tempo em que se vive, da esperança de felicidade futura tendo referência "eras de ouro" - tempos passados nos quais não vivemos e acreditamos terem sido melhores que o presente.

Hoje Sandra enviou este texto, da jornalista Leila Ferreira. Tem a ver com o personagem Gil, do filme, que projeta sua felicidade a partir do sonho de se tornar um grande escritor, e que se transporta, dentro da realidade fantástica do autor, literalmente para o passado e encontra ídolos que naqueles tempos viveram.
Com o tempo Gil acaba por caindo na realidade e descobre que há felicidade em caminhar sob chuva, nas ruas de Paris, ao lado de uma mulher bem real.

Então: Ctrl C + Ctrl V - Eis o texto de Leila Ferreira, que por coincidência cita Paris:


A felicidade é a soma das pequenas felicidades. Li essa frase num outdoor em Paris e soube, naquele momento, que meu conceito de felicidade tinha acabado de mudar. Eu já suspeitava que a felicidade com letras maiúsculas não existia, mas dava a ela o benefício da dúvida.

Afinal, desde que nos entendemos por gente aprendemos a sonhar com essa felicidade no superlativo. Mas ali, vendo aquele outdoor estrategicamente colocado no meio do meu caminho (que de certa forma coincidia com o meio da minha trajetória de vida), tive certeza de que a felicidade, ao contrário do que nos ensinaram os contos de fadas e
os filmes de Hollywood, não é um estado mágico e duradouro.

Na vida real, o que existe é uma felicidade homeopática, distribuída em conta-gotas. Um pôr-de-sol aqui, um beijo ali, uma xícara de café recém-coado, um livro que a gente não consegue fechar, um homem que nos faz sonhar, uma amiga que nos faz rir. São situações e momentos que vamos empilhando com o cuidado e a delicadeza que merecem alegrias de pequeno e médio porte e até grandes (ainda que fugazes) alegrias.

'Eu contabilizo tudo de bom que me aparece', sou adepta da felicidade homeopática. 'Se o zíper daquele vestido que eu adoro volta a fechar (ufa!) ou se pego um congestionamento muito menor do que eu esperava, tenho consciência de que são momentos de felicidade e vivo cada segundo.

Alguns crescem esperando a felicidade com maiúsculas e na primeira pessoa do plural: 'Eu me imaginava sempre com um homem lindo do lado, dizendo que me amava e me levando pra lugares mágicos Agora, se descobre que dá pra ser feliz no singular:
'Quando estou na estrada dirigindo e ouvindo as músicas que eu amo, é um momento de pura felicidade. Olho a paisagem, canto, sinto um bem-estar indescritível'.
Uma empresária que conheci recentemente me contou que estava falando e rindo sozinha quando o marido chegou em casa. Assustado, ele perguntou com quem ela estava conversando: 'Comigo mesma', respondeu. 'Adoro conversar com pessoas inteligentes'.

Criada para viver grandes momentos, grandes amores e aquela felicidade dos filmes, a empresária trocou os roteiros fantasiosos por prazeres mais simples e aprendeu duas lições básicas: que podemos viver momentos ótimos mesmo não estando acompanhadas e que não tem sentido esperar até que um fato mágico nos faça felizes.

Esperar para ser feliz, aliás, é um esporte que abandonei há tempos. E faz parte da minha 'dieta de felicidade' o uso moderadíssimo da palavra 'quando'. Aquela história de 'quando eu ganhar na Mega Sena', 'quando eu me casar', 'quando tiver filhos', 'quando meus filhos crescerem', 'quando eu tiver um emprego fabuloso' ou 'quando encontrar um homem que me mereça', tudo isso serve apenas para nos distrair e nos fazer esquecer da felicidade de hoje.

Esperar o príncipe encantado, por exemplo, tem coisa mais sem sentido? Mesmo porque quase sempre os súditos são mais interessantes do que os príncipes; ou você acha que a Camilla Parker-Bowles está mais bem servida do que a Victoria Beckham?

Como tantos já disseram tantas vezes, aproveitem o momento, amigos. E quem for ruim de contas recorra à calculadora para ir somando as pequenas felicidades.

Podem até dizer que nos falta ambição, que essa soma de pequenas alegrias é uma operação matemática muito modesta para os nossos tempos. Que digam.

Melhor ser minimamente feliz várias vezes por dia do que viver eternamente em compasso de espera.

terça-feira, 5 de julho de 2011

Atravessei o Largo da Carioca, o bueiro estava quente e explodiu na minha cara! Ala la Ô...

A gente mal se livrou das balas perdidas e começou a onda dos bueiros perdidos. Em breve o noticiário informará assim:

Rio de Janeiro - Blindados da Marinha tentam conter a intensa troca de bueiros entre as duas facções concessionárias, a Light e a Rioluz. Foram identificados alguns modelos de bueiros de uso exclusivo das forças armadas
O governo do estado afirma que não houve dano significativo após as explosões, mas ficou constatado que existem pelo menos 423 bombeiros moralmente feridos e a imagem do Governador totalmente queimada.
Deprimido, Cabral vai passar 15 dias na mansão de Mangaratiba, longe das ruas “embueiradas” do Rio.
Apesar dos problemas o Governador do Rio já anunciou que a Empresa Delta, que vencerá a licitação para a recuperação das ruas e avenidas danificadas ou sob ameaça de novas explosões de bueiros, já iniciou as obras no submundo, digo, subsolo, e até já constatou que o valor previsto das obras é insuficiente, pois não previam que terão que conter as portas do inferno, que assim como nossos presídios, está lotado, quase jogando cristão pelo ladrão.

Chupa esta manga!
Um abraço!
Mauro Sá

A Praça e a Cachaça

Uma garrafa de cachaça levada para a Praça São Salvador gerou pelo menos duas situações engraçadas, envolvendo Haroldo, o morador de rua que vive ali e adora dar uns goles.

A primeira foi no momento imediato em que Tânia nos oferecia a bebida em pequenas doses. Haroldo se aproximou e ficou ao lado dela. Sua silenciosa expressão dizia tudo. Ele olhava para ela com cara de “me dá aí!”.
Comovida, a “Síndica da Praça” decidiu ceder-lhe um pouco da valiosa cachaça, explicando, contudo:

- Olha Haroldo, presta a atenção: Isto não é quaquer cachaça! Isto é “Nega Fulô”!
 
A expressão de satisfação do Haroldo ao receber a dose da cachaça não escondeu a outra, que lhe diviviu a face. Seu rosto dizia claramente: - “Nega Fulô? Caguei!”.
 
Minutos depois chega à Praça o Alex, “Maluco Problema”. Surgiu fazendo escândalo, gritando de longe. No caminho, caiu sozinho. Levantou e aproximou-se, pedindo cachaça. Aí o Haroldo se adiantou:
 
- Você não! Você não sabe beber! Caiu sozinho e fica dizendo que tropeçou! Tá fora!
 
Inacreditável, hilário e profundo.
Não existe quem, em algum momento, não se sinta superior a um semelhante.
 
Haja cachaça.

Um abraço!
Mauro Sá


Do Cauim Ao Efó, Com Moça Branca, Branquinha
 

Samba-enredo do Salgueiro em 1977
(Geraldo Babão e Renato de Verdade)

A moça branca é amiga
Não há quem diga que não tenha valor
Só por ser tão boa
Vive assim à toa, sem querer se impor
Ela dá coragem, dá vantagem
Dá inspiração
Não admite
Falta de apetite numa refeição (bis)
No Salgueiro tem

Tem gente que bebe pra esquecer ê ê
Tem gente que sabe beber e comer ê, ê, ê, ê (bis)

Churrasco no Sul
Buchada no Norte
Tutu à milanesa
Com pinga da forte
Comendo Efó
Jerimum com jabá
Feijoada, peixada
Ou o bom vatapá
Tem que ter cachaça

Ela não pode faltar...
... E depois quindim (bis)
E doce de elite com amendoim
A moça branca



Essa negra fulô
(Jorge de Lima)

Ora, se deu que chegou
(isso já faz muito tempo)
no bangüê dum meu avô
uma negra bonitinha,
chamada negra Fulô.

Essa negra Fulô!
Essa negra Fulô!

Ó Fulô! Ó Fulô!
(Era a fala da Sinhá)
— Vai forrar a minha cama
pentear os meus cabelos,
vem ajudar a tirar
a minha roupa, Fulô!

Essa negra Fulô!

Essa negrinha Fulô!
ficou logo pra mucama
pra vigiar a Sinhá,
pra engomar pro Sinhô!

Essa negra Fulô!
Essa negra Fulô!

Ó Fulô! Ó Fulô!
(Era a fala da Sinhá)
vem me ajudar, ó Fulô,
vem abanar o meu corpo
que eu estou suada, Fulô!
vem coçar minha coceira,
vem me catar cafuné,
vem balançar minha rede,
vem me contar uma história,
que eu estou com sono, Fulô!

Essa negra Fulô!

"Era um dia uma princesa
que vivia num castelo
que possuía um vestido
com os peixinhos do mar.
Entrou na perna dum pato
saiu na perna dum pinto
o Rei-Sinhô me mandou
que vos contasse mais cinco".

Essa negra Fulô!
Essa negra Fulô!

Ó Fulô! Ó Fulô!
Vai botar para dormir
esses meninos, Fulô!
"minha mãe me penteou
minha madrasta me enterrou
pelos figos da figueira
que o Sabiá beliscou".

Essa negra Fulô!
Essa negra Fulô!

Ó Fulô! Ó Fulô!
(Era a fala da Sinhá
Chamando a negra Fulô!)
Cadê meu frasco de cheiro
Que teu Sinhô me mandou?
— Ah! Foi você que roubou!
Ah! Foi você que roubou!

Essa negra Fulô!
Essa negra Fulô!

O Sinhô foi ver a negra
levar couro do feitor.
A negra tirou a roupa,
O Sinhô disse: Fulô!
(A vista se escureceu
que nem a negra Fulô).

Essa negra Fulô!
Essa negra Fulô!

Ó Fulô! Ó Fulô!
Cadê meu lenço de rendas,
Cadê meu cinto, meu broche,
Cadê o meu terço de ouro
que teu Sinhô me mandou?
Ah! foi você que roubou!
Ah! foi você que roubou!

Essa negra Fulô!
Essa negra Fulô!

O Sinhô foi açoitar
sozinho a negra Fulô.
A negra tirou a saia
e tirou o cabeção,
de dentro dêle pulou
nuinha a negra Fulô.

Essa negra Fulô!
Essa negra Fulô!

Ó Fulô! Ó Fulô!
Cadê, cadê teu Sinhô
que Nosso Senhor me mandou?
Ah! Foi você que roubou,
foi você, negra fulô?

Essa negra Fulô!

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Perca esta mania de bamba. Todos sabem qual é o teu diploma no samba.

Meu amigo Fernando, velho vascaíno, me enviou um e-mail comemorando o título da Copa do Brasil. Uma cruz de malta e um orgulhoso "Vasco Campeão!"
Parabéns Fernando!
Você é o primeiro vascaino a comemorar de uma maneira coerente. Talvez pelo fato de já ter um histórico, antigo, mas consistente, de comemorações. O pessoal de menos de 20 anos, que comemorou pouco ou quase nada, saiu dos bares e pelas ruas da cidade, imediatamente após a merecida conquista do título da Copa do Brasil pelo Vasco contra o Coritiba, gritando (perdoem os palavrões):

"TOMÁÁÁ NO CÚ MENGOOOO! (Alguém me explica a associação? Flamengo=Coritiba? Acho que é um desejo velado de gritar o Mengooo, no final da frase).

"VICE É O CARALHO!" (Incrível, mas o vice, neste caso, é o Coritiba. Caralho=Coritiba? Por extensão, pela "lógica" dos meninos vascainos, Flamengo=Caralho? E se os vascainos não esquecem o Flamengo, logicamente não esquecem o falo. Do Mengo!

Essa foi demais:
"OBRIGADO CEARÁ!" (Caraca! Ceará! Relembrando: o Ceará eliminou o Flamengo nesta mesma Copa do Brasil. Agradecer ao Ceará é admitir que não passaria pelo Flamengo, mais uma vez, caso fossem os dois para a final.´Realmente é muito apego.

De uma coisa serviu este título do Vasco. Aqueles vizinhos jovens, que eu acreditava que não torciam para time algum, são vascaínos. Saíram do silêncio, da timidez, da vergonha.

Caros vascaínos (os jovens, não você, meu amigo Fernando), umas dicas de quem tem hábito de volta e meia comemorar:
Ao vencer um campeonato pela primeira vez, grita-se: É campeão! (referindo-se ao próprio time. O Flamengo, a rigor, dificilmente gritará desta maneira. Se vencer a Copa do Brasil, gritará tricampeão, se conquistar o Mundial de Clubes, dirá bicampeão, no caso do Brasileirão, heptacampeão, e por aí vai.).

O Vasco é um grande clube! Percam este complexo de inferioridade. Quanto ao Flamengo, decidam: Amem ou deixe-o!

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Ou tire ela da cabeça ou mereça a moça que você tem.

Os colegas evolucionistas protestaram contra a minha última postagem, “Coisa Nenhuma no Mundo Interfere Sobre o Poder da Criação”, citando Charles Darwin, apelando para o meu lado racional, intelectual, prático. Calma moçada! “Há muitas coisas entre os céus e a terra do que julga...”

Andei pensando com meu lado evolucionista e concluí que muitas agonias humanas surgem do choque entre instintos e comportamentos sociais adaptados para novas realidades. Vou tentar explicar:

É notória a diferença entre homens e mulheres no que diz respeito a executar múltiplas tarefas. A incrível capacidade feminina de distribuir sua atenção a várias tarefas ao mesmo tempo contrasta com a intensidade de concentração masculina em apenas um objetivo por vez. Eu, por exemplo, nunca compreendi um fogão de seis bocas para apenas uma pessoa cozinhar! E elas ainda falam, ao mesmo tempo, ao telefone, lavam umas louças, reparam que tem uma sujeirinha na parede...

Apelando para a minha compreensão do evolucionismo, creio que os seres humanos que sobreviveram por melhor se adaptarem às hostilidades conseguiram tal feito pela escolha acertada de viver em sociedade.

A associação entre homens e mulheres tornou-se útil e necessária já a partir da ideia de reprodução e manutenção da espécie, visto que a fragilidade da fêmea aumenta durante a longa gestação. O homem assumiu a função de protetor, durante este período. Mas não dava para ficar protegendo a fêmea o tempo todo!

Era necessário sair para caçar. A solução foi aumentar o grupo, de modo que, mesmo as fêmeas não prenhas pudessem auxiliar às que estavam grávidas. Assim os homens ficavam livres para a caça e a guerra.

Nas matas, longe da tribo, os homens se concentravam na caça. Não podiam perdê-la de vista, sob pena da fuga e o fracasso do evento. Assim, os detalhes ao redor eram, de um modo geral, ignorados.
Olho no ser a ser caçado: Alcançá-lo é o que importa! Detalhes que existem entre caçador e caça só são relevantes se puderem interferir no processo da captura.

No abrigo, as mulheres cuidavam de si e dos filhotes. Precisavam manter o ambiente organizado, para um  melhor controle. Tudo precisava, a todo momento, ser avistado. A atenção se dividia aos movimentos e a tudo o que havia no ambiente. Elas garantiam a casa. Eles a caça. Elas deixavam tudo preparado para o grande e fundamental momento do retorno dos caçadores. Eles traziam comida e as permitiriam relaxar um pouco com a vigilância.

Milhares de anos após, os reflexos destes comportamentos básicos que, embora sociais, são baseados firmemente nos instintos de sobrevivência e manutenção da espécie, podem estar interferindo na vida social atual.

O mundo mudou. Homens e mulheres tem praticamente as mesmas funções em muitas sociedades ocidentais. Se assim não é de fato, é de direito. As necessidades podem ser supridas pelo macho ou pela fêmea. Excetuando, pelas vias normais, a gestação.

Mas nossos instintos estão aqui, registrados nas nossas profundezas. Homens desatentos a tudo o que não é o seu objetivo, mulheres ligadas em tudo. Homens voltados para fora do lar, mulheres para dentro. Homens objetivos, mulheres subjetivas. Estes concretos, estas, abstratas. Eles cuidam do que veem. Elas temem o que não veem.

Eis que se forma um casal. A mulher quer do homem o que ela sempre, raramente, desfrutou. Quer os prazeres que os homens traziam das matas com ele: Comida fresca, sexo, proteção, relaxamento na defesa de predadores.

O homem quer apenas comer, transar e repousar.

A companhia que os dois desfrutavam no encontro era muito mais intensamente percebida pela mulher. O homem a obtinha mas a relacionava a todo o ambiente. Mulher e caverna eram uma só delícia. A mulher era o próprio lar para os homens. O homem era o que faltava no lar, para a mulher.

Hoje homens chegam, transam e descansam, sentem-se muito bem com isto. Mulheres querem muito mais que transar e descansar. Querem companhia, querem conversa, querem ajuda. Querem segurança.

A mulher, na sua solidão, pensa nestas coisas o tempo todo. Deseja o tempo todo.
Nós homens, na nossa solidão, achamos que é assim mesmo. Não imaginamos, não desejamos, não queremos nada, por não sabermos o que querer. Pelo simples fato de não criarmos, em nossas mentes, soluções para nossa solidão.

E a solução é um perceber o outro. Entender suas carências e perceber que, na verdade, elas são comuns aos dois. E procurar dar o que se deseja, fazendo o outro perceber o que se deseja, para ele receber também.

Então segue a dica: Machos da espécie que vivem nas regiões ocidentais do planeta, conheçam suas fêmeas! Desfrutar com elas o que elas desejam vai ser muito bom para vocês. E vão viciar!

Fêmeas da mesma espécie e região, tenham calma. Percebam as diferenças. E, podem acreditar: O que os seus machos querem, mesmo sem saber, depois de um dia de caça, são seus braços, seus carinhos e sob certos aspectos, sua proteção. Por se sentirem seguros e satisfeitos em seus braços eles cometem a indelicadeza de adormecer deixando-as sonhar com suas companhias.

Por ignorância, nós, machos, desfrutamos muito pouco do que vocês tem a oferecer.

Conversem conosco, insistam. Um dia isto muda.

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Coisa Nenhuma no Mundo Interfere Sobre o Poder da Criação

No princípio criou Deus os céus e a Terra.


Criou a luz no primeiro dia, separou águas e céus no segundo, terras das águas no terceiro e as fez frutificar. Criou o Sol e a Lua para governarem o dia e a noite. Era o quarto dia.


No quinto dia Deus encheu as terras e os mares de seres viventes. No sexto dia decidiu criar o homem e pouco depois a mulher. Os abençoou e os mandou povoar e melhorar a Terra. Deu-lhes sementes, frutas e tudo o que lhes fosse necessário.


Após o sexto dia Deus deu-se por satisfeito com sua criação. Fez do sétimo um dia de contemplação de sua divina obra concluída no dia anterior.


Seis dias. O tempo entre o nada e o tudo, entre o vazio e o pleno.


Seis dias. O tempo que Deus levou para concluir sua obra.


Seis dias. Será este o tempo divinamente oculto em que Deus acabou com a solidão, deu-se por satisfeito e deixou o homem e a mulher viverem suas ilusões até que elas acabem, até que eles percebam que não é necessário viver em busca do alimento, pois todo o alimento necessário já havia sido dado por Ele.


Não é necessário viver em busca de abrigo, pois há muito mais terra e água do que todos os seres podem precisar.


Não é necessário se lamentar pela solidão, pois nos seis dias entre o nada e o tudo Deus criou também a felicidade, a paz e o conforto e entendeu que, apesar de serem indivíduos solitários, seria bom que homens e mulheres tivessem companhia.


Seis dias. O tempo dos homens é diferente, relativamente maior. Os homens passam todo o tempo de suas vidas e não conseguem perceber tudo o que Deus lhes deu em apenas seis dias de criação.


Sorte do homem que tem a felicidade de descobrir que há algum lugar, em algum momento, pleno do que necessita. Que toda uma vida humana de procura foi por Deus divinamente resolvida, antes mesmo que a sua criação chegasse ao sétimo dia.

Seis dias...