Última noite de
agosto. A roda de samba desde o início dava sinais que seria
especial.
Duas violas, um cavaco, uma cuíca, cinco tamborins, três pandeiros e um par de caxixis. Ausência de tantãs ou surdos para a marcação. Ah, desculpem-me! Havia também “o cajon”!
Duas violas, um cavaco, uma cuíca, cinco tamborins, três pandeiros e um par de caxixis. Ausência de tantãs ou surdos para a marcação. Ah, desculpem-me! Havia também “o cajon”!
Primeiros raios de luar
e Manoel Jorge entoou, como primeira música, “Trenzinho Caipira”,
de Villa Lobos. A Praça se transformou: Quem estava longe se
aproximou. Os que estavam por perto entraram na roda para ouvir. Quem
já estava na roda começou a bailar.
Entre tantos, chegaram, cada um de seu lado, dois personagens que escreveram a história da noite.
Entre tantos, chegaram, cada um de seu lado, dois personagens que escreveram a história da noite.
Com a vinda de um deles
a segunda música não poderia ser outra: Anunciando que “Chegou a
Bonitona”, os olhos do Cantor da Voz Aveludada brilhavam com o
reflexo dos ornamentos, que, segundo a língua do povo, são frutos
da furtada e derretida Taça Jules Rimet, desaparecida há trinta
anos da sede da CBF, agora na Praça São Salvador.
Outros olhos também brilharam. Do outro extremo da roda de samba, o lendário Haroldo retornava em grande estilo. Ao invés das joias e brilhos, chegou Haroldo, fosco de sujeira. Sobre suas costas, como uma grande capa, um cobertor igualmente imundo.
Outros olhos também brilharam. Do outro extremo da roda de samba, o lendário Haroldo retornava em grande estilo. Ao invés das joias e brilhos, chegou Haroldo, fosco de sujeira. Sobre suas costas, como uma grande capa, um cobertor igualmente imundo.
Desta vez, diferente de
tantas outras em que esteve presente ao samba, Haroldo não ficou em
torno da roda, circulando. Encontrou um banquinho perfeito para ele,
pois atrás do banco havia um poste, onde se encostou e ficou, ao som
das melodias, curtindo o visual da incansável e reluzente bonitona,
que em momento algum parou de dançar no meio da roda.
Lá pela décima
música, talvez por algum gingado especial da nossa atual musa,
Haroldo sentou-se ereto. Parecia que todo o álcool por ele ingerido
havia desaparecido subitamente de seu organismo. Encarou a bonitona,
fixou o olhar em seus olhos e, atento, fazia um gesto com a mão toda
vez que os olhares se cruzavam. Completava o gesto com um charmoso
“vem”.
A dançarina, indiferente,
preferiu dançar com outros. Haroldo, contrariado, voltou a se
encostar no poste e adormeceu.
Nove da noite. Manoel
Jorge lembra que é importante “correr o chapéu”. Disse o cantor: - ...Pois temos
que pagar o rapaz que carrega toda esta tralha (apontou para os
bancos e equipamento de som), fazer reparos nos aparelhos, etc.
Bastam dois reais de cada um! - Adivinhem quem correu o chapéu pela
roda, com todo o seu poder de sedução? Ela, a nossa bonitona.
Os amigos da roda de
samba, entre eles muitos que ali estavam pela primeira vez, foram
generosos e, encerradas as doações, verificamos que nos renderam mais
que as do Criança Esperança, que tentava concorrer conosco na telinha
da Globo. O chapéu foi colocado sobre a mesa, diante do Manoel e do
Átila, transbordando de cédulas de dois reais.
Haroldo despertou. Seus
olhos voltaram a brilhar, mas desta vez não era pela mulher que
bailava diante dele. O objeto de desejo era outro. Lentamente
levantou-se, olhou em volta, parecia curtir a participação e o
envolvimento das pessoas que cantavam, acompanhando Inês e Manoel em
“Água de Chuva no Mar”.
Todos distraídos,
menos Haroldo, que se encaminhou passo a passo, embora sem cerimônia
alguma, até o recheado chapéu,
pinçando uma nota de dois reais com os mesmos dedos com os quais
horas antes tentava atrair a bonitona.
Sorrateiramente se retirando foi interpelado pelo nosso atento cantor, que diante rápida negociação, cujos termos jamais saberemos, trocou a nota pinçada do chapéu por uma de seu bolso. Dai ao samba o que é do samba.
Sorrateiramente se retirando foi interpelado pelo nosso atento cantor, que diante rápida negociação, cujos termos jamais saberemos, trocou a nota pinçada do chapéu por uma de seu bolso. Dai ao samba o que é do samba.
Beleza
pura!
Morango ao leite!
Mamão com açúcar!
Ótimo relato, Mauro, mas creio que devemos ser mais cautelosos, há lobo em pele de cordeiro no Batuque. Qual o motivo de o Zé Carlos continuar recebendo multas? Foi acordado em reunião que e comunicado da realização da roda seria entregue na IV RA por pessoas diferentes a cada semana, que faríamos um manifesto? Tudo foi desfeito, não entendíamos mais nada e eu ainda fui tachada de "louca, mentirosa". Dr. Attila levando comunicação à RA e Zé Carlos sendo multado. Estranho...
ResponderExcluirEstaria o Obama ouvindo nossas ligações? Seja lá quem for, bom sujeito não é!
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