segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Longe Se Vai Sonhando Demais. Mas Onde Se Chega Assim?

Outro dia eu ouvi uma pessoa associando seus sonhos com fatos que os sucedem. Ela dizia, por exemplo, que todas as vezes que sonha com cobras acontece a morte de alguma pessoa conhecida.  
Eu, em silêncio, ouvia e pensava: - Bobagens!
Dispersou-se o momento e meus pensamentos não foram além daquela crítica. Mas agora, diante do teclado do computador, enquanto assistia o DVD Tambores de Minas e ouvia a canção “Caçador de Mim”, de Milton Nascimento, me reportei, por um segundo, àquele instante.

Para que servem os sonhos, afinal? Não tenho nenhum conhecimento técnico sobre isto, mas sei, por experiência e pelo senso comum, que o sono é reparador. Ele descansa nossos corpos, pausa nossos cérebros dos raciocínios e reações necessárias a cada momento enquanto estamos despertos. Mas por que sonhar? Há algum benefício nos sonhos?

Existem sonhos que começam tranquilos e assim terminam. Em geral o efeito que causam em nós é um despertar também tranquilo. Outros sonhos iniciam bruscamente, com situações terríveis e agonizantes de perigo ou pavor, de perda ou lamento. São pesadelos que nos despertam imediatamente, no meio da noite. O cérebro exige este despertar, já que o sono não está cumprindo sua função. Aí a gente levanta, vai à janela ou à geladeira, percebe que ainda é cedo, volta para a cama e dorme, aí sim, obtém o sono reparador necessário.
Há, no entanto, sonhos que nos confundem. Começam em verdes campos, em reinos de felicidade onde tudo é alegre e feliz, onde as pessoas são gentis, fraternas e equilibradas. É o sonho dentro do sonho. É um momento tão delicioso que o cérebro se permite relaxar, entrega-se às delícias do sono, entrega nosso corpo, nos entrega, enfim, inteiros para aquele paraíso.
Aí vem a cilada. Desprovido das defesas do cérebro ficamos sujeitos às mudanças de rumo que podem acontecer nos sonhos. Basta um momento, um segundo e tudo se transforma em pesadelo. Tudo perde a beleza, o paraíso se desfaz inexplicavelmente. E sofremos com este sonho enganador, pois o cérebro demora a retornar ao comando, e quando o faz tem imenso trabalho em separar o que ainda é sonho e o que é realidade. Despertamos lentamente e os dias, algumas vezes as semanas, que o seguem são tensos, pesados, tristes. Sofremos pelo que acreditamos ter perdido, sem perceber que nada perdemos, pois nada tivemos. Era sonho. Lamentamos, sofremos e tememos o que aconteceu no sonho e nos entristeceu, ignorando que não há motivo para tal, pois era apenas um pesadelo.
Então para que sonhar? Se o sono serve para nos esvaziar do cansaço do dia anterior, por qual motivo ele nos permite entrar em um estado que pode nos esgotar e arrasar nos dias posteriores?

Há especialistas que afirmam que sonhamos todas as noites durante dormir, várias vezes em cada uma delas.  O que acontece é que, no geral, não nos lembramos dos sonhos. Acho que isto não deveria ter exceção: Deveríamos não sonhar ou apenas sonhar durante o sono e ao final dele tudo ser esquecido. A vida desperta e real não deveria nem merecia ser influenciada,  confundida,  alterada ou desviada pelas irrealidades dos sonhos, sejam eles considerados bons ou ruins.

Então, o grande legado do sono que perduraria após o despertar seria o raro e reparador silêncio, e uma capacidade imediata de detectar e esquecer o que nunca foi real. Isto nos ajudaria a reduzir nossos enganos ou pelo menos nos levaria a aprender imediatamente com eles, sem que fosse necessário gastar tempo, trabalho e sofrimento,  distinguindo  e separando as vozes que vem da razão das que surgem do coração.

PS.: Sonhar não custa nada? Depois que passou a pensar assim a Mocidade Independente de Padre Miguel nunca mais ganhou o carnaval. 

Caia na real, Mocidade, enquanto há tempo.