sábado, 12 de outubro de 2013

Nossos ídolos? Ainda são os mesmos...

Alguns dos nossos maiores artistas que, pela qualidade da obra, conquistaram admiração e respeito, e por conta disso em alguns momentos da nossa história se puseram à frente das multidões, embaralhando suas verdades com a do povo (que mantém o nocivo hábito de gerar e seguir ídolos - e que geralmente o decepcionam), mais uma vez mostram sua verdadeira face. 

Decepcionado desde o Réveillon de 1995 no Rio quando, no mega-show promovido pela nossa prefeitura, Paulinho da Viola foi considerado um "artista menor" pelos demais figurões (Caetano, Gil, Gal, Chico Buarque, Milton Nascimento) ou por quem os representava e recebeu cerca da terça parte do cachê dos demais.

Agora, neste momento em que o povo volta a tentar valer os ideais democráticos, não como discursos de sustentação de políticos e instituições sem ética, mas para tornar menos obscuro e corrupto o país que chamamos de nosso, os artistas que são contrários a biografias não autorizadas resolveram criar um grupo chamado de "Procure Saber".

Como diz Ruth de Aquino, deveria chamar-se " Procure Esconder".
É censura! É proibir o proibido proibir! É contrário ao que eles dizem quando lhes dão (e como dão) a palavra para falar em nome do povo. 

Por isso detesto idolatria. Não suporto a ideia de existirem celebridades. Ninguém é melhor que ninguém e não existem sobre-humanos.


É PROIBIDO PROIBIR - Ruth de Aquino

(http://epoca.globo.com/colunas-e-blogs/ruth-de-aquino/noticia/2013/10/e-proibido-bproibirb.html)
"Eu digo não ao não. Eu digo. É proibido proibir. É proibido proibir. É proibido proibir. É proibido proibir.” As repetições não são minhas. São de Caetano Veloso, em música-hino contra a censura e a ditadura, em 1968. Franzino e rebelde, ele reagia às vaias no festival gritando: “Os jovens não entendem nada. Querem matar amanhã o velhote inimigo que morreu ontem”.

Caetano hoje é a favor – com Chico Buarque, Gilberto Gil, Erasmo Carlos, Milton Nascimento, Djavan e Roberto Carlos – de proibir biografias sem autorização prévia dos biografados ou de seus herdeiros. Essa aliança entre a Tropicália e a Jovem Guarda quer liberar só as biografias chapa-branca. Nossa “intelligentsia” musical é formada por mitos enrugados e calejados por seus atos e desatinos. São músicos brilhantes, mas péssimos legisladores.

Claro que Caetano tem o direito de mudar de campo e querer proibir. A idade mudou e, com ela, a cor dos cabelos. Aumentou o tamanho da sunga e a conta no banco. Anda com lenço e documento. Pode mudar o pensamento. Por que não? Não seria o primeiro. Quem não se lembra da admiração tardia de Gláuber Rocha por Golbery do Couto e Silva? Depois do exílio, em 1974, antes de voltar ao Brasil, Gláuber disse achar Golbery “um gênio”. Pagou por isso.

Caetano só precisa sair do armário. Abraçado a Renan Calheiros e aos podres poderes do reacionarismo – hoje travestidos, na América Latina, de defensores do povo. Na Venezuela, na Argentina, no Equador, na Bolívia, o movimento é o mesmo de nossos compositores no Olimpo. A liberdade de expressão é relativa e tem de ser monitorada e pré-censurada.

Arauto da vanguarda, Caetano tem o direito de reescrever sua história. Em vez de matar o amanhã, o chefão da máfia do dendê quer matar o passado, quando for clandestino e incômodo. Ele agora diz sim ao não. As lembranças privadas, quando tornadas públicas, podem incomodar a sesta depois do vatapá.

O grupo de músicos contra biografias não autorizadas foi intitulado “Procure saber”. Deve ser uma licença poética da MPB, porque significa o oposto: “Procure esconder”. Ou, quem sabe: “Procure aparecer”. Querem acossar nossa Constituição, favorável à liberdade de expressão, com um artigo pernicioso do Código Civil. O Artigo 20 estabelece que textos, palavras e livros poderão ser proibidos por qualquer pessoa, “a seu requerimento e sem prejuízo da indenização que couber, se lhe atingirem a honra, a boa fama ou a respeitabilidade, ou se se destinarem a fins comerciais”.

Os termos são tão subjetivos que poderiam ser usados para cortar e censurar colunas e composições de nossos músicos combativos. Muita gente já sentiu sua honra ferida pela verve da MPB e pelas polêmicas de Caetano na imprensa. Incomoda, portanto, a contradição do libertário provocador. Só ele pode dizer o que pensa sem pedir permissão?

Há outro detalhe que explica a patrulha contra Caetano. Um detalhe moreno de 1,73 metro de altura, coxas fortes e cabelos compridos. É sua ex, Paula Lavigne, que aos 13 anos começou a namorá-lo. Hoje produtora e empresária, Paula ocupa o cargo pomposo de “presidente da diretoria do grupo Procure Saber”, que ela chama de “uma plataforma profissional de atuação política em defesa dos interesses da classe”...

É a mesma que arremessou um BMW blindado contra a garagem do flat onde se hospedava Caetano logo após a separação. Barrada pelos seguranças, derrubou o portão de 270 quilos. Gaba-se de ter multiplicado a fortuna de Caetano. Passou depois a produzir filmes, discos e shows. Presenteou os fãs com uma foto, em rede social, de Caetano pelado. Nu frontal.

Paula tenta ler reportagens antes da publicação, porque acha que pode. Age como imperatriz louca da Tropicália. Sua resposta, no Twitter, a uma colunista da Folha de S.Paulo, dizendo que “mulher encalhada é f...”, não faz jus a seu cargo. “Tw ñ paga minhas contas”, tuitou Paula, isso é “muita baixaria” (!). Ter um porta-voz como ela é suicídio para qualquer causa. Feliz é Chico que se casou com Marieta Severo, atriz com luz própria, discrição, inteligência. Quem acredita no discurso de Paula, de que a preocupação dos músicos é com os lucros do biógrafo e com o sensacionalismo? No Brasil, biógrafo nenhum fica rico com os livros.

O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, afirmou que vetar a publicação de biografias que não tenham autorização prévia é “censura” e, por isso, “inadmissível” no estado de direito. Disse que qualquer eventual calúnia ou difamação deve ser reparada pelo Judiciário. O músico Alceu Valença concorda: “Arrisco em dizer que cercear autores seria uma equivocada tentativa de tapar, calar, esconder e camuflar a história no nosso tempo e espaço”.

Em seus artigos, Caetano costuma perguntar se nós, brasileiros, perdemos nossa capacidade de indignação. Ele diz que detesta demagogia. Nós também. Detestamos demagogia, caretice e obscurantismo. Apesar de vocês, amanhã há de ser outro dia.

quarta-feira, 2 de outubro de 2013

E além de tudo, me deixou mudo o violão.


Para acabar com a fome, a comida. Para matar a sede, a água.
Para o fim da escuridão, a luz.
Para o frio: o calor.
Insônia: o sono
Barulho: o silêncio.
Tédio: a mudança.
Tristeza: a alegria.
Estagnação: o movimento.
Dúvida: o esclarecimento.
Insegurança: a firmeza.

Já que
tudo é assim,
(a gente resolve preenchendo com o oposto)
por que as pessoas tentam solucionar a solidão
ficando sós?

domingo, 29 de setembro de 2013

Ele me deu um beijo na boca e me disse: - A vida é oca como a touca de um bebê sem cabeça - E eu ri à beça


Outro dia eu comentei sobre o bom texto que Pedro Bial escreveu após a morte do Bussunda, e tentei ir além de sua ideia de que morrer é ridículo. Concluí que o ridículo, pra mim, é a expectativa de que as coisas aconteçam como desejadas.
Posso parecer pessimista, mas garanto que tal conclusão a meu respeito é um equívoco. Talvez minha confiança na vida seja tão grande a ponto de eu cometer a loucura – na visão de muitos - de pensar quase nada no futuro.

Nada garante nada. Talvez por isso a paixão pelo futebol seja tão intrigante: Placares injustos acontecem com frequência e marcam as histórias dos campeonatos. De alguma forma ali aprendemos em pequenas doses o que nos traz a vida.
Mas as dores das derrotas no futebol não duram mais que uma semana, e todo mundo sabe disso.
Algumas dores da vida, contudo, duram muito tempo, às vezes por toda a vida. E doem porque, seja pela lógica ou pelo suposto merecimento, acreditamos que a realidade poderia ser diferente do que de fato é.
O que ocorre, na verdade, é que o desejo se sobrepõe à lógica e a falta de informação ou a interpretação errônea da realidade alimenta os sonhos difíceis de tornarem-se reais.
Um ataque cardíaco, por exemplo, pode levar hoje à morte o atleta que até ontem corria pelas ruas, almejando as próximas Olimpíadas. Basta que ele desconheça seu problema no coração e por conta disso espere que um esforço maior lhe traga rendimentos físicos, nunca o óbito.
Tal atleta projetou o futuro contando com a saúde de seu corpo, ignorando a história dele, seus detalhes e seus pontos fracos.
O homem que se aproxima da bela mulher, atraído por seu sorriso e beleza, e obtém gentis respostas às suas perguntas, acaba por desejá-la, se ilude mergulhando na paixão, ignorando seu passado e a história que ela guarda em seu coração, que obstruem a entrada de novas experiências: Amores, desilusões, medos, desejos e esperanças.
Ele não sabe, mas não lhe sobrou espaço. Não vai rolar.

- Mas então, - hão de perguntar - Como viver sem expectativas, como seguir sem sonhar?
 Acredito ser eficiente viver o que diz a música de Almir Sater, Tocando em Frente, ou o conselho da peixinha Dori, da animação Procurando Nemo:

- Quando a vida decepciona, qual é a solução? - perguntou Dori.
- Não sei qual é a solução! - Disse o pai de Nemo.
- Continue a nadar! Continue a nadar! Continue a nadar!
Com a prática vai-se descobrindo que isso traz leveza, talvez porque, vivendo em tal atitude, consegue-se – por tornar-se necessário - jogar fora o peso do passado inútil, que carregamos o tempo todo por conta da intenção velada de lançarmos mãos dele nos momentos em que desejarmos pensar no futuro, devido à necessidade - que teimosamente criamos - de buscar segurança.

E em busca desta inalcançável segurança, nós aprisionamos o futuro sem dar a ele a chance de cumprir o seu delicioso e fundamental papel de nos surpreender.




Tocando Em Frente

 (Almir Sater)

Ando devagar por que já tive pressa
E levo esse sorriso por que já chorei demais
Hoje me sinto mais forte, mais feliz quem sabe,
Só levo a certeza de que muito pouco eu sei
Nada sei.

Conhecer as manhas e as manhãs,
O sabor das massas e das maçãs,
É preciso amor pra poder pulsar,
É preciso paz pra poder sorrir,
É preciso a chuva para florir

Penso que cumprir a vida seja simplesmente
Compreender a marcha e ir tocando em frente
Como um velho boiadeiro levando a boiada
Eu vou tocando dias pela longa estrada eu vou
Estrada eu sou.

Conhecer as manhas e as manhãs,
O sabor das massas e das maçãs,
É preciso amor pra poder pulsar,
É preciso paz pra poder sorrir,
É preciso a chuva para florir.

Todo mundo ama um dia todo mundo chora,
Um dia a gente chega, no outro vai embora
Cada um de nós compõe a sua história
Cada ser em si carrega o dom de ser capaz
E ser feliz.

Conhecer as manhas e as manhãs
O sabor das massas e das maçãs
É preciso amor pra poder pulsar,
É preciso paz pra poder sorrir,
É preciso a chuva para florir.

Ando devagar porque já tive pressa
E levo esse sorriso porque já chorei demais
Cada um de nós compõe a sua história,
Cada ser em si carrega o dom de ser capaz
E ser feliz.

Conhecer as manhas e as manhãs,
O sabor das massas e das maçãs,
É preciso amor pra poder pulsar,
É preciso paz pra poder sorrir,
É preciso a chuva para florir.

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Para abraçar meu irmão e beijar minha menina na rua, é que se fez o meu lábio, o seu braço e a minha voz


Depois de dias sem encontrar uma grande amiga, sentindo saudades, peguei o telefone e... Whatsapp! Mensagens de texto:

 - Posso ligar pra você?

- Lóóóóógico!

Repetindo: Eu estava com saudades, há dias sem encontrar... minha AMIGA! Amigona! Dessas que a gente vira a noite rindo de barriga, falando bobagens, falando de sentimentos e da alma. A amiga que a gente deve procurar quando está triste, pra quem a gente deve correr para o abraço quando está alegre. Caramba, pra quê o Whatsapp?
Encontrei uma séries de justificativas: - Ela poderia estar em um momento importante de trabalho, ou poderia estar no teatro, cinema, médico, namorando... Não queria atrapalhar...

Por trás de tudo isso a  justificativa que melhor parece explicar a mensagem de texto: O hábito contemporâneo do agendamento.

Fato: Eu enviei uma solicitação para agendar uma ligação. Caso não pudesse ser encaixado imediatamente, aguardaria resposta indicando data e hora (Ela, minha amiga dos porres e das gargalhadas. Minha amiga do coração).
Por que agendar? O “lógico” de sua resposta, com todos os onomatopeicos “ós”, indicou-me o quanto tal agendamento era absurdo, trouxe na memória momentos nos quais mensagens de texto substituem o calor da voz, assim com outros em que formalidades congelam a sinceridade e o abraço.

O padrão de aviso de demissão atualmente utilizado nas empresas:
"- Senhor funcionário, convocamos esta reunião para informar que a partir de hoje não é mais do interesse da empresa mantê-lo como nosso colaborador.” - Já foi usado comigo, com algumas adaptações, para o término de um relacionamento. A sensação de estar sendo demitido foi, acreditem, o pé na bunda mais eficiente que já recebi! Saí sem aviso prévio pra nunca mais voltar.
Houve com outra amiga (espero que assim ainda me considere), carência de conversa importante que nunca aconteceu. Não por falta de tentativas, via SMS, de marcar o papo. Tal conversa foi abortada definitivamente após minha derradeira e ousada ligação via celular, sem agendamento, no início de uma tarde de domingo, quando ouvi do outro lado da linha uma voz destruidora, num sussurro com desejo de matar:
- Eu não acredito que você me acordou!

Há outros casos semelhantes, mas o que desejo é definir minha estratégia, meu movimento neste jogo. Assim, pra encurtar conversa tão longa e não previamente combinada, cito o que acabei de ler de Pablo Neruda:

“Se sou amado
quanto mais amado
correspondo ao amor.
Se sou esquecido,
devo esquecer também.
Pois amor é como espelho:
- tem que ter reflexo.”

Então deixarei sempre ligado meu celular. Dispenso agendamento, não importa a hora. Precisou, desejou, sentiu saudades, me amou ou quis me xingar, digite meu número e a gente se fala. Se por algum motivo eu não atender na hora, pode ter certeza do retorno. É como espelho.
Obrigado Neruda!

domingo, 8 de setembro de 2013

Tudo vai bem, tudo legal: Cerveja, samba... E amanhã, seu Zé, se acabarem com o teu Carnaval?


Helicópteros nos céus, batalhões de choque nas ruas, bombas sobre manifestantes. Correria e fuga.
Assim estava Laranjeiras no Dia da Pátria, quando já ia tarde a tarde.
Incrivelmente a Praça São Salvador manteve-se ilhada. Sem manifestantes, sem batalhão de choque, sem explosões e medo.
Nós, poucos, após conversarmos sobre o contraste das situações vizinhas, decidimos fazer nossa roda de samba, mesmo sabendo que aqui teríamos samba e alegria e ali, lágrimas e revolta.
Se cometemos um pecado ao sambar, que a culpa tenha sido pequena. Precisamos da alegria do nosso samba que é também nossa forma particular de manifestação e resistência contra a opressão que há anos sofremos por parte da Prefeitura do Rio de Janeiro.
Sei que as mesmas Marias e Clarisses que choram no solo do Brasil são também quem sobre ele sambam suas alegrias, na corda bamba de sombrinha, mesmo sabendo que podem se machucar.
Manoel Jorge, voz do Batuque no Coreto ao microfone, nos levou a cantar, em homenagem aos manifestantes que preferiram gritar a sambar naquele dia, a música Comportamento Geral, de Gonzaguinha.
Bela lembrança, belo momento. Perdemos o ritmo, mas encontramos as vozes. Cantamos para todos. Cantamos para nós, só para pensar que:


Nem todos os brasileiros estão indignados com os rumos do Brasil.
Nem todos os indignados com os rumos do Brasil são manifestantes.
Nem todos os manifestantes tem uma razão única motivadora que lhes levam às ruas.
Nem todos que estão nas ruas são manifestantes.
Nem todos que se manifestam escondem seus rostos.
Nem todos que escondem os rostos são manifestantes.
Nem todos manifestantes que usam máscaras são vândalos.
Nem todos vândalos escondem seus rostos com máscaras.
Nem todas as máscaras escondem rostos de vândalos.
Nem todos que se calam são covardes.
Nem todos covardes estão calados.
Nem todos mascarados são covardes.
Nem todos que usam preto são vândalos.
Nem todos que usam branco são de paz.
Nem todos que tacam pedras são vândalos.
Nem todos que gritam palavras de ordem tem coragem.
Nem todos que cantam o amor são dóceis.
Nem todos que se manifestam são bem informados.
Nem todos os bem informados pensam por si.
Nem todos os carnavais são de máscaras.
Nem todas as máscaras são de carnavais.
Nem todos que cantam samba são alienados.
Nem todo carnaval é uma máscara.




Comportamento Geral
(Gonzaguinha)

Você deve notar que não tem mais tutu
e dizer que não está preocupado
Você deve lutar pela xepa da feira
e dizer que está recompensado
Você deve estampar sempre um ar de alegria
e dizer: tudo tem melhorado
Você deve rezar pelo bem do patrão
e esquecer que está desempregado
Você merece, você merece
Tudo vai bem, tudo legal
Cerveja, samba, e amanhã, seu Zé
Se acabarem com o teu Carnaval?
Você merece, você merece
Tudo vai bem, tudo legal
Cerveja, samba, e amanhã, seu Zé
Se acabarem com o teu Carnaval?
Você deve aprender a baixar a cabeça
E dizer sempre: "Muito obrigado"
São palavras que ainda te deixam dizer
Por ser homem bem disciplinado
Deve pois só fazer pelo bem da Nação
Tudo aquilo que for ordenado
Pra ganhar um Fuscão no juízo final
E diploma de bem comportado
Você merece, você merece
Tudo vai bem, tudo legal
Cerveja, samba, e amanhã, seu Zé
Se acabarem com o teu Carnaval?
Você merece, você merece
Tudo vai bem, tudo legal
Cerveja, samba, e amanhã, seu Zé
Se acabarem com o teu Carnaval?
Você merece, você merece
Tudo vai bem, tudo legal
E um Fuscão no juízo final
Você merece, você merece
E diploma de bem comportado
Você merece, você merece
Esqueça que está desempregado
Você merece, você merece
Tudo vai bem, tudo legal

domingo, 1 de setembro de 2013

Na aba do meu chapéu, você não pode ficar. Meu chapéu tem aba curta você vai cair e vai se machucar

Última noite de agosto. A roda de samba desde o início dava sinais que seria especial.
Duas violas, um cavaco, uma cuíca, cinco tamborins, três pandeiros e um par de caxixis. Ausência de tantãs ou surdos para a marcação. Ah, desculpem-me! Havia também “o cajon”!
Primeiros raios de luar e Manoel Jorge entoou, como primeira música, “Trenzinho Caipira”, de Villa Lobos. A Praça se transformou: Quem estava longe se aproximou. Os que estavam por perto entraram na roda para ouvir. Quem já estava na roda começou a bailar.
Entre tantos, chegaram, cada um de seu lado, dois personagens que escreveram a história da noite.
Com a vinda de um deles a segunda música não poderia ser outra: Anunciando que “Chegou a Bonitona”, os olhos do Cantor da Voz Aveludada brilhavam com o reflexo dos ornamentos, que, segundo a língua do povo, são frutos da furtada e derretida Taça Jules Rimet, desaparecida há trinta anos da sede da CBF, agora na Praça São Salvador.
Outros olhos também brilharam. Do outro extremo da roda de samba, o lendário Haroldo retornava em grande estilo. Ao invés das joias e brilhos, chegou Haroldo, fosco de sujeira. Sobre suas costas, como uma grande capa, um cobertor igualmente imundo.
Desta vez, diferente de tantas outras em que esteve presente ao samba, Haroldo não ficou em torno da roda, circulando. Encontrou um banquinho perfeito para ele, pois atrás do banco havia um poste, onde se encostou e ficou, ao som das melodias, curtindo o visual da incansável e reluzente bonitona, que em momento algum parou de dançar no meio da roda.
Lá pela décima música, talvez por algum gingado especial da nossa atual musa, Haroldo sentou-se ereto. Parecia que todo o álcool por ele ingerido havia desaparecido subitamente de seu organismo. Encarou a bonitona, fixou o olhar em seus olhos e, atento, fazia um gesto com a mão toda vez que os olhares se cruzavam. Completava o gesto com um charmoso “vem”.
A dançarina, indiferente, preferiu dançar com outros. Haroldo, contrariado, voltou a se encostar no poste e adormeceu.
Nove da noite. Manoel Jorge lembra que é importante “correr o chapéu”. Disse o cantor: - ...Pois temos que pagar o rapaz que carrega toda esta tralha (apontou para os bancos e equipamento de som), fazer reparos nos aparelhos, etc. Bastam dois reais de cada um! - Adivinhem quem correu o chapéu pela roda, com todo o seu poder de sedução? Ela, a nossa bonitona.
Os amigos da roda de samba, entre eles muitos que ali estavam pela primeira vez, foram generosos e, encerradas as doações, verificamos que nos renderam mais que as do Criança Esperança, que tentava concorrer conosco na telinha da Globo. O chapéu foi colocado sobre a mesa, diante do Manoel e do Átila, transbordando de cédulas de dois reais.
Haroldo despertou. Seus olhos voltaram a brilhar, mas desta vez não era pela mulher que bailava diante dele. O objeto de desejo era outro. Lentamente levantou-se, olhou em volta, parecia curtir a participação e o envolvimento das pessoas que cantavam, acompanhando Inês e Manoel em “Água de Chuva no Mar”.
Todos distraídos, menos Haroldo, que se encaminhou passo a passo, embora sem cerimônia alguma, até o recheado chapéu, pinçando uma nota de dois reais com os mesmos dedos com os quais horas antes tentava atrair a bonitona.
Sorrateiramente se retirando foi interpelado pelo nosso atento cantor, que diante rápida negociação, cujos termos jamais saberemos, trocou a nota pinçada do chapéu por uma de seu bolso. Dai ao samba o que é do samba.
Beleza pura! 
Morango ao leite!
Mamão com açúcar!

domingo, 28 de julho de 2013

Coisas Que a Gente Se Esquece de Dizer, Frazes Que O Vento Vem As Vezes Me Lembrar

A velocidade tirou o trem, na Espanha, dos trilhos.
Noticiam o drama dos mortos e esquecem o drama dos vivos,
para quem ainda haverá
Espanhas, trens e trilhos.

sábado, 15 de junho de 2013

Atordoado Eu Permaneço Atento, Na Arquibancada Pra a Qualquer Momento, Ver Emergir O Monstro da Lagoa


Tenho acompanhado, muito menos que desejaria, os noticiários sobre os protestos nas ruas das grandes cidades brasileiras.

Estava observando e pensando sobre o tema, pensando em publicar alguma coisa aqui, quando meu amigo Márcio Maturana, jornalista, postou no Facebook o texto “O Outono da Ignorância”, de Ruth de Aquino, publicado na Revista Época. Faço minhas as suas palavras.

Acho curiosa a reação aos fatos, tanto da população que não participa dos protestos como da mídia. Os jornais, em especial os telejornais, iniciaram dando destaque ao vandalismo, praticamente ignorando, muito menos interpretando o significado destas manifestações, acreditando serem pontuais, isoladas e independentes. Serviram como porta-voz dos governantes, reforçando seus discursos de que eram ações articuladas com cunho puramente político.

Mudaram de atitude quando jornalistas se tornaram vítimas da violenta e desorientada repressão por parte da polícia. Começam a perceber que os fatos podem ser consequência da gota d'água que faltava, o peso visível que um aumento das passagens causa em um orçamento doméstico.

Virou corrida contra o tempo. Estão incomodados os políticos, tentando conter a possível bola de neve, pois sabem que, se ela se formar, irá rolar sobre suas cabeças e seus atos corporativos e corruptos. Está assustada a parte da população que durante anos e anos é pisoteada, achincalhada, roubada e explorada, e que nunca teve reação, por falta de fé ou de coragem, de ir para as ruas protestar. O fato é que, até agora, as manifestações estão ganhando corpo, crescendo.

Vamos ver se o futebol, com o início da Copa das Confederações, na função de circo, irá distrair a falta do pão.

Repasso o link:

terça-feira, 21 de maio de 2013

Quando A Atitude de Viver É uma Extensão do Coração, É Muito Mais Que Um Prazer, É Toda Carga da Emoção... É Bom Dizer: Viver, Amar Valeu


Depois de uma pausa de mais de um ano, esta semana eu voltei a escrever e a publicar no Batuque Meteórico. Fiquei surpreso, no dia seguinte, quando um amigo do trabalho me agradeceu. É que ele havia reclamado, na semana anterior, acusando-me por eu ter abandonado meu blogue.
Aquilo foi uma provocação.
Não era verdade. Eu sabia que, no momento em que as minhas palavras pedissem para serem expressas de forma escrita, eu voltaria a escrever. E assim aconteceu: Um retorno tímido, como os movimentos de quem se espreguiça após uma longa noite.
Tal ausência de textos escritos não aconteceu, contudo, por motivo que pudesse causar preocupação a quem por eles, e talvez por mim, reserva alguma simpatia. É que eu estava navegando em uma onda de dias felizes na minha vida. Eu vivia, como cantava Gal, um “Barato Total”:

“Quando a gente tá contente (...)
(...)Tudo que você disser deve fazer bem
Nada que você comer deve fazer mal
Quando a gente tá contente
Nem pensar que está contente
Nem pensar que está contente a gente quer
Nem pensar a gente quer, a gente quer
A gente quer, a gente quer é viver”

Sem nada me fazer mal, curti minha adorável onda, experimentando sensações e sentimentos nunca tão límpidos, claros e leves. Estive feliz desde antes do começo, nos primeiros olhares, nos estudados movimentos:


“Vivia a te buscar
Porque pensando em ti
Corria contra o tempo
Eu descartava os dias
Em que não te vi
Como de um filme
A ação que não valeu
Rodava as horas pra trás
Roubava um pouquinho
E ajeitava o meu caminho
Pra encostar no teu
Subia na montanha
Não como anda um corpo
Mas um sentimento
Eu surpreendia o sol
Antes do sol raiar
Saltava as noites
Sem me refazer...”


Então vieram os dias, firmando sua característica de constante mutação, nos quais nada se mantém como está. Nem parado, nem em movimento, nem bom, nem ruim, nem alegre, nem triste. Sempre oscilando, sempre mudando, veloz, veloz. São dias que ensinam que nunca se é, apenas se está.
A vantagem, nestes dias, é que nem mesmo a morte é definitiva. E, sobretudo, ela dura pouco. Lembro-me de uma amiga que, resumindo sua recente desilusão, disse:
- Mauro, eu morri aqueles três dias.
Reparem que ela não disse que esteve morta. - “Morri aqueles três dias”. - Ela se viu morrendo a todo momento e imediatamente após percebendo-se viva e assim, e também por isso, morrendo novamente, sem parar de morrer e permanecer viva, após cada sentimento gerado por cada pensamento a cada segundo.
Degustação da morte. A estranha contradição de pensar (logo, cartesianamente, existir), estar morto.
Como são devastadoras as dores emocionais!
Mas as músicas sugerem que deixemos de coisas e cuidemos da vida, senão chega (realmente) a morte ou coisa parecida, e que a vida é cigana.
Aí a gente fica só com a gente mesmo, sem abraço, sem o perfume.
É momento de deixar o que passou guardado dentro da gente e avaliar o que foi feito de nós e sabermos o que somos. Reparar as velas no cais e seguir, atento, alternando dias bons e ruins, vivendo e aprendendo. E escrevendo. Eis, portanto, o que me trouxe aqui.


"O meu coração ateu quase acreditou
Na tua mão que não passou de um leve adeus
Breve pássaro pousado em minha mão
Bateu asas e voou

Meu coração por certo tempo passeou
Na madrugada procurando um jardim
Flor amarela, flor de uma longa espera
Logo meu coração ateu

Se falo em mim e não em ti
É que nesse momento já me despedi
Meu coração ateu não chora e não lembra
Parte e vai-se embora"

(Coração Ateu – João Medeiros e Sueli Costa)




"Súbito me encantou
A moça em contraluz
Arrisquei perguntar: quem és?
Mas fraquejou a voz
Sem jeito eu lhe pegava as mãos
Como quem desatasse um nó
Soprei seu rosto sem pensar
E o rosto se desfez em pó

Por encanto voltou
Cantando a meia voz
Súbito perguntei: quem és?
Mas oscilou a luz
Fugia devagar de mim
E quando a segurei, gemeu
O seu vestido se partiu
E o rosto já não era o seu

Há de haver algum lugar
Um confuso casarão
Onde os sonhos serão reais
E a vida não
Por ali reinaria meu bem
Com seus risos, seus ais, sua tez
E uma cama onde à noite
Sonhasse comigo
Talvez

Um lugar deve existir
Uma espécie de bazar
Onde os sonhos extraviados
Vão parar
Entre escadas que fogem dos pés
E relógios que rodam pra trás
Se eu pudesse encontrar meu amor
Não voltava
Jamais"

(A Moça dos Sonhos – Chico Buarque e Edu Lobo)

domingo, 19 de maio de 2013

Tanta Coisa Que Eu Tinha A Dizer, Mas Eu Sumi Na Poeira Das Ruas


“Olá, como vai?”
Esta simples pergunta pode ser respondida em diversos níveis de profundidade, dependendo do grau de intimidade que se deseja alcançar.
Quase sempre banal, dita por educação ao encontrarmos pessoas conhecidas nos elevadores, no mercado, na praça. Obtém respostas que, em geral, seguem o padrão das palavras sem importância, mecanicamente proferidas e distraidamente ignoradas por quem perguntou.
É comum ser respondida com um vazio “tudo bem”, na maioria das vezes, mentiroso.
Apesar de gerar tal curiosa situação, esta pergunta, quando assim ocorre, é praticamente inofensiva. Não altera em nada o momento, o dia ou a vida do autor ou de quem a responde.
O drama começa quando já houve uma intimidade maior entre as pessoas que se encontram. Sempre fica a dúvida sobre o que realmente se está perguntando.
Você encontra o antigo amor que já não desperta o mesmo interesse do passado, faz a pergunta no “nível elevador”, e o outro, que sonhava com o encontro, responde do fundo do coração. O desencontro só é percebido no silêncio constrangedor que sucede ao mico.
Se as mesmas pessoas se encontram e as falas se invertem, a pessoa que pergunta sente o vazio da desilusão na resposta.
Este primeiro momento dos reencontros dá o tom do prazer que eles podem ou não proporcionar. Quando ocorre a sintonia, diz-se, mesmo anos após o último encontro, com prazerosa surpresa - “Parece que foi ontem que nos encontramos. Nada mudou.”
Quando ocorre a dessintonia, ao contrário, muitos encontros passam a ser evitados. O diálogo, neste caso, perde o calor e o sentido e, ao longo do tempo, as pessoas acabam se perdendo. Sinal fechado.


Sinal Fechado
Paulinho da Viola

Olá, como vai ?
Eu vou indo e você, tudo bem ?
Tudo bem eu vou indo correndo
Pegar meu lugar no futuro, e você ?
Tudo bem, eu vou indo em busca
De um sono tranquilo, quem sabe ...
Quanto tempo... pois é...
Quanto tempo...
Me perdoe a pressa
É a alma dos nossos negócios
Oh! Não tem de quê
Eu também só ando a cem
Quando é que você telefona ?
Precisamos nos ver por aí
Pra semana, prometo talvez nos vejamos
Quem sabe ?
Quanto tempo... pois é... (pois é... quanto tempo...)
Tanta coisa que eu tinha a dizer
Mas eu sumi na poeira das ruas
Eu também tenho algo a dizer
Mas me foge a lembrança
Por favor, telefone, eu preciso
Beber alguma coisa, rapidamente
Pra semana
O sinal ...
Eu espero você
Vai abrir...
Por favor, não esqueça,
Adeus...