quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Supervia, paixão pela demofobia - texto de Elio Gaspari

       Atendendo a um pedido do Ministério Público, a 13ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro determinou que a SuperVia, concessionária dos serviços de transporte ferroviário da cidade, conserte e mantenha em funcionamento as escadas rolantes que dão acesso às estações do Méier e de Madureira.
O Tribunal de Justiça teve que entrar no caso porque a empresa não cuidava das escadas, atrapalhando o acesso da patuleia às estações. Pior. Ela se recusou a assinar um Termo de Ajustamento de Conduta e, segundo a Promotoria, argumentou que, para o correto funcionamento das escadas, seria necessária “uma mudança nos padrões culturais da população, reeducando-a a preservar o patrimônio público”.

A SuperVia produziu um documento histórico, primoroso exemplo de demofobia, o horror ao povo. Quem vai reeducar a população? A SuperVia, que foi multada em cerca de R$ 150 mil porque em 2009 seus jagunços chicotearam passageiros que estavam na estação de Madureira. Na ocasião, o diretor de marketing da empresa procurou educar a população, ensinando: “Todos os passageiros que cumprem as regras são excelentemente tratados. Aqueles que são marginais, prendem a porta e fazem baderna não podem ter o mesmo tratamento”. Falso.

Imagens gravadas mostravam capangas agredindo passageiros que estavam dentro do vagão. O doutor foi mantido no cargo e quatro jagunços, aos quais havia sido dado apenas um dia de treinamento, foram sumariamente demitidos.

A ideia de que o brasileiro precisa ser reeducado é uma interessante manifestação demofóbica. Todos os brasileiros? Inclusive os diretores da SuperVia? Só aqueles que usam os serviços da empresa? Que tal reeducar a SuperVia?

O Metrô mantém dezenas de escadas rolantes, inclusive aquelas que dão acesso ao lindo edifício da velha Central do Brasil. Funcionam perfeitamente. Aqui e ali aparecem problemas e atos de vandalismo.

Daí a se atribuir à população uma genérica falta de educação vai distância enorme. Problemas sempre ocorrem, uns provocados por vândalos, outros por doutores.
Até hoje a SuperVia não cumpriu suas próprias metas e, com alguma razão, diz que o governo do Estado descumpriu parte do que havia combinado. Este, por sua vez mimou a empresa prorrogando por 25 anos o contrato de concessão do serviço.

Em novembro, acreditava-se que todos ficariam felizes porque a Odebrecht parecia prestes a ficar com o negócio. Essas encrencas não seriam suficientes para se achar que os empresários e governantes brasileiros precisam ser reeducados para que se possa preservar o patrimônio público. Assim como nas estações de Madureira e do Méier, basta ficar de olho na freguesia, dissuadindo visigodos que destroem escadas e ostrogodos que negociam privatarias.

Choldra mal-educada, herança escravocrata, legado da colonização ibérica, preguiça tropical e outros menosprezos , são artifícios criados pelo andar de cima para defender seus interesses em nome do horror ao povo. Quando um sujeito diz que o brasileiro não sabe fazer isso ou aquilo, cabe sempre a pergunta: “Inclusive você?” Nunca, o brasileiro inepto é sempre o outro, e o argumento da sua incapacidade frequentemente serve a um interesse. No caso, um cascalho, não consertar as escadas rolantes das estações do Méier e de Madureira.

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

E realmente a gente era, a gente era um casal Ah! Um casal sensacional...

Depois que eu toquei o alarme, várias pessoas passaram a me ajudar a procurar um texto do Veríssimo, da década de 1980, chamado “Conversando”. É, na verdade, um diálogo. Uma reprodução do encontro do Liberato, um cara que só se comunicava por frases feitas, com uma amigo.
Finalmente a Sylvia o encontrou na sua "Caixinha do Passado" e eu estou digitando para depois postar. Vocês vão gostar.

Inspirado no Liberato decido descrever o dia utilizando trechos de músicas:

 
5:13 da manhã

 Eu acordei tarde, de bode.

Hoje a menina do sonho não veio me acordar
Quem sabe até tenha vindo e eu não soube sonhar
Quem sabe até tenha tentado me descobrir
Em meio ao sono pesado a dormir, a dormir
Quem sabe até tenha vindo visitar meu sono
E quem sabe era só o abandono da alma dormida na vida
O que havia no fundo de mim pra se ver
Que ela, menina do sonho, ficou comovida
E não fez nada mais que sorrir
Partindo logo em seguida a buscar por aí
Outra morada pro sonho, por ser ela fada
Fadada a viver, com seu corpo no nada
O instante, o espaço, o abraço real da ilusão de existir
Quem terá tido essa noite
O sonhar visitado por ela ou por um querubim
Já que a menina do sonho não veio pra mim?

7 horas:

Telefonei
Pr'um toque tenha qualquer
E não tinha
Ninguém respondeu
Eu disse: "Deus, Nostradamus
Forças do bem e da maldade
Vudoo, calamidade, juízo final
Então és tu?"

Entre 10 e 11 horas:

Vou de lá pra cá. Vou daqui pra lá


Você vai pensar que eu
Não gosto nem mesmo de mim
E que na minha idade
Só a velocidade
Anda junto a mim.
Só ando sozinho
E no meu caminho
O tempo é cada vez menor...


– Olá! Como vai?
– Eu vou indo. E você, tudo bem?
– Tudo bem! Eu vou indo, correndo pegar meu lugar no futuro... E
você?
– Tudo bem! Eu vou indo, em busca de um sono tranqüilo...
Quem sabe?
– Quanto tempo!
– Pois é, quanto tempo!
– Me perdoe a pressa - é a alma dos nossos negócios!
– Qual, não tem de quê! Eu também só ando a cem!
– Quando é que você telefona? Precisamos nos ver por aí!
– Pra semana, prometo, talvez nos vejamos...Quem sabe?
– Quanto tempo!
– Pois é...quanto tempo!
– Tanta coisa que eu tinha a dizer, mas eu sumi na poeira das
ruas...
– Eu também tenho algo a dizer, mas me foge à lembrança!
– Por favor, telefone - Eu preciso beber alguma coisa,
rapidamente...
– Pra semana...
– O sinal...
 – Adeus!
– Eu procuro você...
– Vai abrir, vai abrir...
– Eu prometo, não esqueço, não esqueço...
– Por favor, não esqueça, não esqueça...
– Adeus!
– Adeus!


Depois, no bar:

Seu garçom faça o favor de me trazer depressa
Uma boa média que não seja requentada,
Um pão bem quente com manteiga à beça,
Um guardanapo e um copo d'água bem gelada.
Feche a porta da direita com muito cuidado
Que eu não estou disposto a ficar exposto ao sol.
Vá perguntar ao seu freguês do lado
Qual foi o resultado do futebol.

diante da mesa,
no fundo do prato,
comida e tristeza.
A gente se olha,
se toca e se cala
E se desentende
no instante em que fala.
Cada um guarda mais o seu segredo,
sua mão fechada
sua boca aberta
seu peito deserto,
sua mão parada,
lacrada,
selada,
molhada de medo.

15 horas, no MSN:

- Acontece que na vida gente tem
Que ser feliz por ser amado por alguém
Porque eu te amo
Eu te adoro, meu amor

Vou pedir prá você gostar
Vou pedir prá você me amar
Eu te amo
Eu te adoro, meu amor
A semana inteira
Fiquei esperando
Prá te ver sorrindo
Prá te ver cantando
Quando a gente ama
Não pensa em dinheiro
Só se quer amar
Se quer amar
Se quer amar
De jeito maneira
Não quero dinheiro
Quero amor sincero
Isto é que eu espero
Grito ao mundo inteiro
Não quero dinheiro
Eu só quero amar


Ó menina vai ver nesse almanaque
como é que isso tudo começou

Me diz, me diz, me responde por favor
Pra onde vai o meu amor
Quando o amor acaba

Vê se tem nesse almanaque, menina,
Como é que termina um grande amor
Me diz, me diz... Um grande amor

Se adianta tomar uma aspirina
Ou se bate na quina aquela dor
Me diz, me diz
Me diz... Aquela dor

Se é chover o ano inteiro chuva fina
Ou se é como cair do elevador

Me responde por favor
Pra que que tudo começou
Quando tudo acaba.

Não perca tempo assim contando história
Pra que forçar tanto a memória
Pra dizer
Que a triste hora do fim se faz notória
E continuar a trajetória
É retroceder
Não há no mundo lei que possa condenar
Alguém que a um outro alguém deixou de amar
Eu já me preparei, parei para pensar
E vi que é bem melhor não perguntar
Porque é que tem que ser assim
Ninguém jamais pôde mudar
Recebe menos quem mais tem pra dar
E agora queira dar licença, que eu já vou
Deixa assim, por favor
Não ligue se acaso o meu pranto rolar, tudo bem
Me deseje só felicidade, vamos manter a amizade
Mas não me queira só por pena
Nem me crie mais problemas
Nem perca tempo assim contando história...


E a vida passa na TV
E o meu caso é com você
Fico louco sem saber
Sim pro sol, sim pra lua
Eu quero você toda nua
Sim pra tudo que você quiser

Hoje é festa na floresta, toda tribo ateia som
Toda taba ateia sol, só tomando água de coco
Infeliz de quem tá triste
No meio dessa confusão


Ah, meu coração que não entende
O compasso do meu pensamento
E o pensamento se protege
E o coração se entrega inteiro e sem razão
Se o pensamento foge dela o coração a busca aflito
E o corpo todo sai tremendo, massacrado e ferido no conflito


A sorrir eu pretendo
levar a vida
Pois chorando eu vi
a mocidade perdida
Finda a tempestade
O sol nascerá
Finda esta saudade
Hei de ter outro
alguém para amar

20 horas:

Criar meu web site
Fazer minha home-page
Com quantos gigabytes
Se faz uma jangada
Um barco que veleja
Que veleje nesse informar
Que aproveite a vazante da infomaré
Que leve um oriki do meu orixá
Ao porto de um pen-drive de um micro em Taipé
Um barco que veleje nesse infomar
Que aproveite a vazante da infomaré
Que leve meu e-mail até Calcutá
Depois de um hot-link
Num site de Helsinque
Para abastecer
Eu quero entrar na rede
Promover um debate
Juntar via Internet
Um grupo de tietes de Connecticut
De Connecticut de acessar
O chefe da Mac Milícia de Milão
Um hacker mafioso acaba de soltar
Um vírus para atacar os programas no Japão
Eu quero entrar na rede para contatar
Os lares do Nepal,os bares do Gabão
Que o chefe da polícia carioca avisa pelo celular
Que lá na praça Onze tem um videopôquer para se jogar...
 

Meia-noite e meia:

Tutu-Marambá não venha mais cá
Que a mãe da criança te manda matar''
Tutu-Marambá não venha mais cá
Que a mãe da criança te manda matar''
Ai, como essa moça é descuidada
Com a janela escancarada
Quer dormir impunemente
Ou será que a moça lá no alto
Não escuta o sobressalto
Do coração da gente
Ai, quanto descuido o dessa moça
Que papai tá lá na roça
E mamãe foi passear
E todo marmanjo da cidade
Quer entrar
Nos versos da cantiga de ninar
Pra ser um Tutu-Marambá
Ai, como essa moça é distraída
Sabe lá se está vestida
Ou se dorme transparente
Ela sabe muito bem que quando adormece
Está roubando
O sono de outra gente
Ai, quanta maldade a dessa moça
E, que aqui ninguém nos ouça
Ela sabe enfeitiçar
Pois todo marmanjo da cidade
Quer entrar
Nos sonhos que ela gosta de sonhar
E ser um Tutu-Marambá
Boi, boi, boi, boi da cara preta
Pega essa menina que tem medo de careta''


...Infeliz de  quem tá triste no meio desta confusão...


Zzzzzzz

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Buemba! Buemba! O Macaco tá certo!

Eu recebi por e-mail as previsões de José Simão para os próximos anos no Brasil. Como dizia Chacrinha, “aqui nada se cria, tudo se copia”. Agora então, Velho Guerreiro, depois que inventaram o Ctrl C e o Ctrl V, a festa é nossa!

Segue o texto. Buemba! Buemba!

PREVISÕES DO ZÉ SIMÃO

De 2010 a 2015

1. ONGs vão pipocar dizendo que apóiam o esporte, tiram crianças das ruas e as afastam das drogas. Após as olimpíadas estas ONGs desaparecerão e serão investigadas por desvio de dinheiro público. Ninguém será preso ou indiciado.
2. Um grupo de funk vai fazer sucesso com uma música que diz: vou pegar na tua tocha e você põe na minha pira.
3. Uma escola de samba vai homenagear os jogos, rimando “barão de coubertin” com “sol da manhã”. Gilberto Gil virá no último carro alegórico vestido de lamê dourado representando o “espírito olímpico do carioca visitando a corte do Olimpo num dia de sol ao raiar do fogo da vitoria”.
4. Haverá um concurso para nomear a mascote dos jogos que será um desenho misturando um índio, o sol do Rio, o Pão de Açúcar e o carnaval, criado por Hans Donner. Os finalistas terão nomes como: “Zé do Olimpo”, “Chico Tochinha” e “Kaíque Maratoninha”.
5. Luciano Huck vai eleger a Musa dos jogos, concurso que durará um ano e elegerá uma modelo chamada Kathy Mileine Suellen da Silva.
Abertura dos jogos
1. A tocha olímpica será roubada ao passar pela baixada fluminense. O COB vai encomendar outra com urgência para um carnavalesco da Beija flor.
2. Zeca Pagodinho, Dudu Nobre e a bateria da Mangueira farão um show na praia de Copacabana para comemorar a chegada do fogo olímpico ao Rio. Por motivo de segurança, Zeca Pagodinho será impedido de ficar a menos de 500 metros da tocha.
3. Durante o percurso da tocha, os brasileiros vão invadir a rua e correr ao lado dela carregando cartolinas cor de rosa onde se lê GALVÃO FILMA NÓIS, 100% FAVELA DO RATO MOLHADO.
4. Pelé vai errar o nome do presidente do COI, discursar em um inglês de m... elogiando o povo carioca e, ao final, vai tropeçar no carpete que foi colado 15 minutos antes do início da cerimônia.
5. Claudia Leite e Ivete Sangalo vão cantar o “Hino das Olimpíadas” composto por Latino e MC Medalha. As duas vão duelar durante a música para aparecer mais na TV.
6. O Hino Nacional Brasileiro será entoado a capella por uma arrependida Vanuza, que jura que "não bota uma gota de álcool na boca desde a última copa". A platéia vai errar a letra, em homenagem a ela, chorar como se entendesse o que está cantando, e aplaudir no final como se fosse um gol.
7. Uma brasileira vai ser filmada varias vezes com um top amarelo, um shortinho verde e a bandeira dos jogos pintada na cara. Ela posará para a Playboy sem o top e sem o shortinho e com a bandeira pintada na bunda.
8. Por falta de gás na última hora, já que a cerimônia só foi ensaiada durante a madrugada, a pira não vai funcionar. Zeca Pagodinho será o substituto temporário já que a Brahma é um dos patrocinadores. Em entrevista ao Fantástico ele dirá que não se lembra direito do fato.
9. Setenta e quatro passistas de fio-dental vão iniciar a cerimônia mostrando o legado cultural do Rio ao mundo: a bala perdida, o trafico, o funk, o sequestro-relâmpago e a favela.
10. Durante os jogos de tênis a platéia brasileira vai vaiar os jogadores argentinos obrigando o árbitro a pedir silencio 774 vezes. Como ele pedirá em inglês ninguém vai entender e vão continuar vaiando. Galvão Bueno vai dizer que vaiar é bom, mas vaiar os argentinos é melhor ainda. Oscar concordará e depois pedirá desculpas chorando no programa do Gugu.
11. Um simpático cachorro vira-lata furará o esquema de segurança invadindo o desfile da delegação jamaicana. Será carregado por um dos atletas e permanecerá no gramado do Maracanã durante toda a cerimônia. Será motivo de 200 reportagens, apelidado de Marley, e será adotado por uma modelo emergente que ficará com dó do pobre animalzinho e dirá que ele é gente como a gente.
12. Adriane Galisteu posará para a capa de CARAS ao lado do grande amor da sua vida, um executivo do COB.
13. Os pombos soltos durante a cerimônia serão alvejados por tiros disparados por uma favela próxima e vendidos assados na saída do maracanã por “dois real”.

Durante os jogos

1. Caetano Veloso dará entrevista dizendo que o Rio é lindo, a cerimônia de abertura foi linda e que aquele negão da camiseta 74 da seleção americana de basquete é mais lindo ainda.
2. Uma modelo-manequim-piranha-atriz-exBBB vai engravidar de um jogador de hóquei americano. Sua mãe vai dar entrevista na Luciana Gimenez dizendo que sua filha era virgem até ontem, apesar de ter namorado 74 homens nos últimos seis meses, e que o atleta americano a seduziu com falsas promessas de vida nos EUA. Após o nascimento do bebê ela posará nua e terá um programa de fofocas numa rede de TV.
3. No primeiro dia os EUA, a China e o Canadá já somarão 74 medalhas de ouro, 82 de prata e 4 de bronze. Os jornalistas brasileiros vão dizer a cada segundo que o Brasil é esperança de medalha em 200 modalidades e certeza de medalha em outras 64.
4. Faltando 3 dias para o fim dos jogos, o Brasil terá 3 medalhas de bronze e 1 de ouro, esta ganha por atletas desconhecidos no esporte “caiaque em dupla”. Eles vão ser idolatrados por 15 minutos (somando todas as emissoras abertas e a cabo) como exemplos de força e determinação. A Hebe vai dizer que eles são “uma gracinha” ao posarem mordendo a medalha, e nunca mais se ouvirá deles.
5. A seleção brasileira de futebol comanda por Ronaldo Fenômeno vai chegar como favorita. Passara fácil pela primeira fase e entrará de salto alto na fase final, perdendo para seleção de Sumatra.
6. A seleção americana de vôlei visitará uma escola patrocinada pelo Criança Esperança. Três meninos vão ganhar uma bola e um uniforme completo dos jogadores, sendo roubados e deixados pelados no dia seguinte.
7. Os traficantes da Rocinha vão roubar aquele pó branco que os ginastas passam na mão. Um atleta cubano será encontrado morto numa boate do Baixo Leblon depois de cheirá-lo. O COB, a fim de não atrasar as competições de ginástica, vai substituir o tal pó pelo cimento estocado nos fundos do ginásio inacabado.
8. Um atleta brasileiro nunca visto antes terminará em 57º lugar na sua modalidade e roubará a cena ao levantar a camiseta mostrando outra onde se lê: JARDIM MATILDE NA VEIA.
9. Vários atletas brasileiros apontados como promessa de medalha serão eliminados logo no inicio da competição. Suas provas serão reprisadas em 'slow motion' e 400 horas de programas de debate esportivo vão analisar os motivos das suas falhas.

Após os jogos

1. Um boxeador brasileiro negro de 1,85m estrelará um filme pornô para pagar as despesas que teve para estar nos jogos e por não obter patrocínio.
2. Faustão entrevistará os atletas brasileiros que não ganharam medalhas. Não os deixará pronunciar uma palavra sequer, mas dirá que esses caras são exemplos no profissional tanto quanto no pessoal, amigos dos amigos, e outras besteiras.
3. No início do ano seguinte, vários bebês de olhos azuis virão ao mundo e as filas para embarque nos voos para a Itália, Portugal e Alemanha serão intermináveis, com mães "ofendidas", segurando seus rebentos...

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Como É Grande Meu Amor Por Você (meu texto idem)

Recebi um comentário sobre a última postagem, “Não Paguem o Resgate! Eu Consegui Fugir! ”, pedindo que eu explicasse o que eu quis dizer quando citei Cazuza, na letra da música “Todo Amor Que Houver Nessa Vida”, quando ele diz:

“Eu quero a sorte de um amor tranqüilo
Com sabor de fruta mordida” (...)

Como “quem percura acha”, senta que lá vem explicação!

Alterei a letra, ao falar do amor que desejo, esperando que seja tranqüilo, mas sem o sabor de fruta mordida.

Interpretar textos líricos é fácil. Difícil é determinar como correta e definitiva uma única interpretação. Carlos Drummond de Andrade disse, em 1981, que seria reprovado no vestibular no qual um de seus textos foi utilizado para ser interpretado. Ele não concordou com o “gabarito”.

O que mais gosto de textos assim é exatamente essa capacidade de ter múltiplas interpretações. Algumas vezes o poeta possui em seus segredos o significado de seus textos. Em outras, ele usa das palavras para gerar, conscientemente, tal multiplicidade.

Um exemplo sensacional é Samba do Grande Amor, de Chico Buarque, que volta e meia freqüenta as páginas do Batuque Meteórico:

Tinha cá pra mim
Que agora sim
Eu vivia enfim
O grande amor
Mentira
Me atirei assim
De trampolim
Fui até o fim um amador
Passava um verão
A água e pão
Dava o meu quinhão
Pro grande amor
Mentira
Eu botava a mão
No fogo então
Com meu coração de fiador

Hoje eu tenho apenas
Uma pedra no meu peito
Exijo respeito
Não sou mais um sonhador
Chego a mudar de calçada
Quando aparece uma flor
E dou risada do grande amor
Mentira

Fui muito fiel
Comprei anel
Botei no papel
O grande amor
Mentira
Reservei hotel
Sarapatel
E lua de mel
Em Salvador
Fui rezar na Sé
Pra São José
Que eu levava fé
No grande amor
Mentira
Fiz promessa até
Pra Oxumaré
De subir a pé o Redentor

Hoje eu tenho apenas
Uma pedra no meu peito
Exijo respeito
Não sou mais um sonhador
Chego a mudar de calçada
Quando aparece uma flor
E dou risada do grande amor
Mentira

Chico Buarque, um dos Magos das Palavras, descreve uma sequência de atitudes tomadas após encontrar um novo amor.

Em diversos momentos do texto ele insere a palavra “Mentira”, o que gera toda a dúvida: O que é mentira? As ações que diz ter realizado? As impressões que teve? Ou a palavra “mentira” entra no texto como um resmungo, um lamento, durante a narrativa? Culmina quando ele diz que “chega a mudar de calçada, quando aparece uma flor, e dá risada do grande amor” e encerra com uma última, definitiva e enigmática repetição da palavra “mentira”, num tom que sugere decepção... ou deboche!

Agora vamos lá, sejamos justos com o Cazuza: A letra de Todo Amor Que Houver Nessa Vida é show de bola:

Eu quero a sorte de um amor tranqüilo
Com sabor de fruta mordida
Nós na batida, no embalo da rede
Matando a sede na saliva

Ser teu pão, ser tua comida
Todo amor que houver nessa vida
E algum trocado pra dar garantia

E ser artista no nosso convívio
Pelo inferno e céu de todo dia
Pra poesia que a gente não vive
Transformar o tédio em melodia

Ser teu pão, ser tua comida
Todo amor que houver nessa vida
E algum veneno antimonotonia

E se eu achar a tua fonte escondida
Te alcanço em cheio, o mel e a ferida
E o corpo inteiro como um furacão
Boca, nuca, mão e a tua mente não

Ser teu pão, ser tua comida
Todo amor que houver nessa vida
E algum remédio que me dê alegria


Ao descrever o amor que deseja (deseja não, Ele quer!), Cazuza promete uma entrega total, mas cobra, ao mesmo tempo, uma parceria auto-sustentável. Nada a procurar fora dela:
Ser teu pão, ser tua comida, Todo amor que houver nessa vida. Matar a sede na saliva.

Ter o poder de satisfazer todas as necessidades e, para fugir de inevitáveis insatisfações vindas da rotina, sugere que tenham algum trocado para dar garantia, algum veneno antimonotonia, algum remédio que lhe dê alegria.

No mais, o amor proposto é com muita transa (na batida, no embalo da rede), a busca da poesia no cotidiano (pra poesia que a gente não vive transformar o tédio em melodia).

E manterá a pessoa amada praticamente como refém, quando lhe descobrir os segredos (E se eu achar a tua fonte escondida). Saberá extrair o mel, mas também cutucar a ferida. Aí, tenta imaginar a posse total, mas sempre esbarra na possibilidade do abandono, fragilidade que lhe entristece, por não poder possuir, controlar, impedir os pensamentos do outro (a tua mente não).

O amor do Cazuza, belo, a princípio, e forte, sem dúvidas, é, no entanto, possessivo e egoísta. Longe da inocência, tem o sabor de fruta mordida (é o pecado bíblico ou é um foco sensual, por exigência imediata)

O amor que eu desejo, e que acredito vir a tê-lo apenas por sorte, terá, certamente, traços de egoísmo, por eu ser humano, demasiado... (quem me conhece complete as reticências). Mas, até por uma estratégia egoísta, deverá ter o mínimo de desejo de posse, de domínio. A sensualidade será natural. Estará mais de acordo com Rita Lee:
“Baila comigo, como se baila na tribo.”

Minha gente, a regra é clara (diria Arnaldo César Coelho): Nas relações humanas o toma lá dá cá é inevitável. Se eu cobro lealdade terei que ser leal. Se eu quero entrega terei que me entregar. Se desejo companhia terei que acompanhar...

“São as trapaças da sorte, são as graças da paixão”:

A prisão é inevitável. Fim da liberdade.

Todo santo dia ela ia
Ela ia lá me chamar
Pra dançar coco
À beirada da saia querendo rodar.

Pelo jeito dela
Pelo dengo, pela simpatia
Se eu caio na roda
Essa moça pode me segurar.

Aí ela vai querer que eu deixe de ir pro samba
Aí ela vai querer que eu não vá na ciranda de Lia
Aí ela vai querer que eu não saia de perto dela
E eu olhando pra beira da saia querendo rodar.

Ah, se eu vou.

(Lula Queiroga)

Sim, eu quero a sorte de um amor tranqüilo. Tão tranqüilo a ponto de viver dentro dele e manter as liberdades, minha e da mulher amada.

Amor assim não se conquista, se descobre. A diferença entre conquistar e descobrir é que na conquista há luta, há vencedor e vencido. Alguém tem que ceder. Geralmente os dois. Na descoberta tudo está completo, tudo é paraíso.

Utilizando as Américas como exemplo, podemos dizer que Pedro Álvares Cabral descobriu o paraíso. Leia a carta de Pero Vaz de Caminha e confirmará:

(...) “A saber, primeiramente de um grande monte, muito alto e redondo; e de outras serras mais baixas ao sul dele; e de terra chã, com grandes arvoredos...”

"(...) Pardos, nus, sem coisa alguma que lhes cobrisse suas vergonhas.”

(...) “Pois aqui, em se plantando tudo dá!”.

Já Francisco Pizarro, o espanhol, conquistou o paraíso.
E transformou-o em um inferno, exterminando o Império Inca.

Outro dia descrevi a probabilidade de viver meu amor sonhado: É a mesma de eu encontrar duas penas flutuando levemente, juntas, lado a lado, como numa dança, ao sabor dos ventos da liberdade.

Eu já vi algumas penas flutuando, mas nunca duas juntas, em tamanha harmonia.

Quem sabe meu Bom Deus, um dia, possa-me conceder tal graça?

É a tal fruta madura que cairá sobre quem pacientemente a aguarda, embaixo ou em torno da árvore, sem fazer esforços para arrancá-la prematuramente do pé, que falei na postagem em referência, sobre a qual me pediram explicação.

Como diria Beto: Sim, todo amor é sagrado.
Como diria Arlindo: Sim, o amor é lindo!

Tá explicado?

Mauro Sá