terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Não paguem o resgate! Eu consegui fugir!

Seria uma boa desculpa simular um sequestro. Mas o fato é que os leitores do Batuque Meteórico perceberam que estivemos fora do ar por alguns dias. Do ar, das redes, inclusive as de televisão. Trabalho de campo da equipe do blogue, minha gente: Antropológico, puramente antropológico.

Fora do ar, com os pés na terra, desfrutando dos últimos dias de férias, caminhando e cantando, tocando cuíca pelas rodas de samba, batendo papo com novos amigos e à procura do novo amor. Sim, pois atrás desta cuíca também bate um coração, que quer a sorte de um amor tranquilo, mas sem o sabor de fruta mordida, da letra do Cazuza.

Prefiro o sabor imaginado de fruta ainda na árvore, amadurecendo e desde já sendo desejada por quem sob ela passa e aguarda seu amadurecimento. Para tê-la há de se ter sorte mesmo, já que é necessário estar por perto quando natureza entregar a fruta ao seu destino: Àquele que vai comê-la, morder sua polpa, se lambuzar de seu sumo.

E vem aí o carnaval. A Beija-Flor se prepara intensamente, com muita garra, corrigindo erros, acrescentando novidades e ousadias. É comunidade em renovação. Tem Beija-Florzinho ainda quebrando a casca do ovo!

Triste, muito triste ver o incêndio na Cidade do Samba. Estive lá na última quinta-feira. A Grande Rio orgulhosa pela sua organização e pelo fato de estar com tudo quase pronto. A Portela com trabalho intenso, assim como a União da Ilha.

Lembro da felicidade que senti quando pisei pela primeira vez naquele lugar. A Cidade do Samba teve papel, diante das escolas de samba, semelhante àquele conjunto de casas novinhas que são dadas às pessoas removidas de velhos barracos construídos em área de risco. Ali, até o incêndio de ontem, só morava a alegria. Mas o pessoal do samba é tão alto astral que, ainda enxugando as lágrimas, já falava em reconstrução, já buscava força e alegria e prometia um grande carnaval.

Eu acredito nessas pessoas. Teremos sim um grande carnaval. E a União da Ilha do Governador, Portela e Acadêmicos do Grande Rio vão aprender e ensinar que a mais bela alegoria que existe é o sorriso e a mais bela fantasia está nas nossas cabeças, na nossa alegria, na nossa espontaneidade.

Lembro-me do desfile de 1983, quando a Caprichoso de Pilares estreava entre as grandes.
A escola vinha animada, cantando um samba-enredo que falava da culinária brasileira, quando faltou luz na Marquês de Sapucaí, que ainda não era o atual Sambódromo.

A reação dos componentes e do público foi cantar, quase gritando, o samba. Numa euforia crescente, a escola fez de uma situação gravíssima um dos maiores shows, com imensa participação das arquibancadas. Desfilou sob aplausos e lágrimas de emoção. Este desfile deu gás durante anos à Caprichosos.

E no ano seguinte a escola fez questão de registrar em seu samba, que homenageava Chico Anísio, o “apagão” do ano anterior:


A VISITA DA NOBREZA DO RISO A CHICO REI NUM PALCO NEM
SEMPRE ILUMINADO

Sorria meu povo
Sorria, "Chico rei" chegou
Nesse palco todo iluminado
Que um dia, por pecado, se apagou
Ôôôôôôôô
E Popó mandou cair na folia
A festa é nossa no reinado da folia
É cascata, o pacotão
No combate, como bate o coração
Na agonia com a corda no pescoço
A piada rói o osso e alegra o meu povão
Salomé, Salomé
Bate um fio pro João
Que dureza não dá pé
Tantas loucuras
Dos ministros, "Os Trapalhões"
Brasil, "Brazil", brazuca
É Alice num país de ilusões
Meu sorriso brasileiro
Tempero nacional
Do Azambuja trambiqueiro
Do Turuna dando bronca Federal
Palmas pro velho guerreiro
Que o ano inteiro faz o carnaval
Pai, painho no abaitolá
Dando axé
Até o dia clarear

E no ano seguinte:

...”Tem bumbum de fora pra chuchu
Qualquer dia
Todo mundo nu”...

Assim, com estas lembranças de superação, desejo aos cariocas um grande carnaval. Uma força especial para o pessoal das três escolas prejudicadas pelo incêndio.
Segue um samba-reconstrução, um convite à ação e ao Renascer da Cinzas:

Vamos renascer das cinzas
Plantar de novo o arvoredo
Bom calor nas mãos unidas
Na cabeça de um grande enredo
Ala de compositores
Mandando o samba no terreiro
Cabrocha sambando
Cuíca roncando
Viola e pandeiro
No meio da quadra
Pela madrugada
Um senhor partideiro

Sambar na avenida
De azul e branco
É o nosso papel
Mostrando pro povo
Que o berço do samba
É em Vila Isabel

Tão bonita a nossa escola!
E é tão bom cantarolar
La, la, iá, iá, iá, iá, ra iá
La, ra, iá

(Zé Catimba – Renascer das Cinzas)

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Envie seus comentários