sexta-feira, 4 de novembro de 2011

De repente me lembro do verde, a cor verde, a mais verde que existe. A cor mais alegre, a cor mais triste, o verde que tu vestes, o verde que vestistes, no dia que te vi, no dia que me vistes...

Ontem eu revi os olhos verdes mais lindos que já conheci em toda a minha vida.
Não são lindos apenas por sua cor, mas pelas expressões que manifestam. São olhos que riem. São também portas de entrada, para quem os olha com atenção e ousadia, para conhecer a sua maravilhosa dona.

Ela é uma eterna paixão. Lembro-me da primeira vez que a vi. Embora tendo entrado na mesma turma que eu, a recebi como “caloura”. Eu já estava no meu segundo ano de universidade, onde iniciei na Faculdade de Física e depois me transferi, no ano seguinte, para a faculdade de Meteorologia.

Bastou vê-la para escolhê-la como alvo da minha aproximação, das minhas brincadeiras e cantadas. Levei assim todo aquele primeiro dia de aula.
O incrível foi que, no dia seguinte, eu simplesmente me dei conta que não conseguia identificá-la entre as demais colegas. Não sabia como era o seu cabelo, seu corpo, seu jeito. Só consegui reconhecê-la quando vi seus olhos.

Tornamo-nos grandes amigos, tentamos um curtíssimo namoro que não foi adiante, assim como não fomos adiante com a faculdade de Meteorologia. Eu fui estudar Jornalismo, ela Geografia.

Levamos vinte e cinco anos para nos reencontrar. Foi como eu tivesse voltado no tempo através de seus olhos. Conversamos por horas e horas. Falamos do que aconteceu neste intervalo desde o nosso último encontro. Surgiu então a gratificante e indescritível sensação do reconhecimento.

Reencontrei a bela e apaixonante amiga. Voltei para casa e passei a noite como se tivesse visto um anjo. Não uma figura santificada, angelical, digna de auréolas e asinhas.

Um anjo bastante humano que me falou e me ouviu falar sobre as pessoas que nós amamos, sobre as que não conseguimos amar e as que deixamos de amar.

Falamos de nós. Rimos de nós como sempre fizemos.

Aliás, ninguém neste mundo jamais conseguiu me acompanhar com tanta intensidade e sincronia nas minhas “risadas de barriga” como ela: Uma linda mulher intensamente madura de olhos intensamente verdes.

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Arriscando tudo por uma miragem, pois sabem que há uma fonte oculta nas areias...

Após anos tomados de mim mesmo pela sonolência a qual me permiti, distribuindo culpas nas pessoas e na rotina, tenho vivido há meses a sensação de viver cada vez mais plenamente.

No início atribui tal sensação à liberdade, ao domínio do tempo, das ações. Agora chegou a hora de atribuir e agradecer o grande bem-estar às pessoas que conheci e aos velhos amigos de quem me reaproximei.

Outro dia perguntei a uma amiga se ela poderia encontrar uma explicação ao fato de eu dar tanta importância às pessoas, fazendo delas parte importantíssima da minha vida.
Uma das explicações plausíveis foi o desejo da recíproca. Outra do prazer narcísico de ser amado por quem eu amo e trato bem.

O fato é que eu não consigo ser diferente. Não vejo motivos para conter o desejo de abraçar, de fazer carinho, de tratar bem. Não temo declarar amor e prazer pela companhia.

Há um temor entre as pessoas de declararem amor por outras. Acho que a idéia é o conceito falso de que isto fragiliza. Não acredito nisto. Acho que é bom falar e acho incrível que existam pessoas que se incomodam em ouvir e sentir que são amadas.

É bom demais ter festa em cada encontro. Perceber que cada abraço se transforma em mais um laço de ternura, cada olhar trocado mais prolongado é uma permissão concedida para que um se aproxime mais do outro, se torne mais amigo.

Quando se percebe em um ambiente assim, o prazer é tão grande que a gente percorre os olhos e percebe detalhes: Da amiga que desde cedo dedicou seu dia para te receber, trabalhou, preparou pratos, arrumou a casa, perfumou o ambiente. 

É dedicação, é entrega, é o melhor presente que se pode ganhar.

Belas músicas, em geral, me emocionam. Mas eu levo um tempo e carece de um ritual para que eu seja assim atingido por elas. Tenho que relaxar, dedicar atenção, procurar silêncio e concentração para sentir a música.

Ontem aconteceu diferente. A alegria e o prazer de receber amigos em sua casa foram tão grandes que levou uma amiga a se levantar de sua cama, onde sofria com dores nos braços por conta de tendões e músculos adoecidos, ir ao piano e tocar maravilhosamente músicas lindíssimas, entre elas “A Miragem”, de Marcus Viana.

O presente desta amiga foi superar a dor pelo prazer de levar aos nossos corações a beleza profunda da arte que ela consegue fazer com seus doloridos dedos. Isto não se faz à toa. Somente por amor.

“Somente por amor
A gente põe a mão
No fogo da paixão
E deixa se queimar
Somente por amor...
Movemos terra e céus
Rasgando sete véus
Saltamos do abismo
Sem olhar prá trás
Somente por amor
E a vida se refaz...”

Obrigado amiga, pelo carinho e pela lição de amor.