sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

A vida leva e traz. A vida faz e refaz. Será que quer achar sua expressão mais simples?

Não gosto de tratar os defeitos humanos como pecados. São características que a humanidade possui inadequadas para a vida em sociedade. Nós, seres humanos, animais sociais, devemos procurar corrigir tais defeitos, para nossa própria preservação.

Religiões apontam estes defeitos como características humanas e atribuem aos seres que não as possuem um caráter divino, sobre-humano. Algumas pregam que jamais nos livraremos destes defeitos. Assim, colocam em dois extremos deus e o homem.

Homens eternamente imperfeitos adorando deuses inalcançáveis em suas perfeições. Isto eterniza deus como divindade e o homem como ser que erra. Ao mesmo tempo condena e absolve, ao admitir que “errar é humano”.

Sim, errar é humano. Mas corrigir erros há de ser humano. Gosto de me ver assim, como um ser que, constantemente, procura corrigir seus erros.

Dos defeitos que temos o que mais me incomoda é a soberba, esta pretensão de superioridade sobre as demais pessoas e seres.

Somos soberbos quando nos enxergamos como os principais habitantes do planeta e nos permitimos exterminar espécies, poluir a terra, a água e o ar.

Pergunta da semana: Quantos de nós conhecíamos o TP Mazembe, que venceu e o Internacional de Porto Alegre, impedindo que o clube brasileiro chegasse à final do Campeonato Mundial? E agora que se tornou notícia, sabem de qual país ele é? Muitos respondem: - É da África.

A áfrica se divide em 54 países independentes, entre eles a República Democrática do Congo, origem do TPM (sem trocadilho), fora algumas colônias. É o terceiro maior continente do planeta, o segundo mais populoso com cerca de 900 milhões de pessoas. Muitos hão de me perguntar: - “E eu com isso?”

Vou repetir: Na África vivem cerca de 900 milhões de pessoas. Seres humanos, iguaiszinhos a nós.

Dos trinta países mais pobres do mundo, vinte e um são africanos. A pobreza, a miséria, as péssimas condições de vida se concentram escandalosamente lá. E, cá pra nós, a gente não está nem aí para isso.

A soberba do time do Internacional ao ignorar a semifinal com o TP Mazembe e pensar apenas na final contra o Inter de Milão se mantém nas manchetes que anunciam a derrota como uma vergonha. Que vergonha? Perder para um time africano! Desconhecido time africano. Desconhecido por ser africano.

A mesma soberba trouxe seres humanos africanos para trabalharem como escravos no Brasil. O racismo, uma das facetas da soberba, chegou ao ponto de considerá-los não humanos. E a história nos conta que não foi por grandiosidade de espírito que a Princesa Isabel assinou a Lei Áurea, em 1888, deixando livres os negros. Livres para continuarem em suas condições miseráveis, ignorados pelos governantes e pelo próprio povo branco.

E a tal soberba se adaptou às mudanças dos sistemas econômicos, sempre mantendo elites, sempre explorando o trabalho da nova classe dos miseráveis “livres”.

E esta classe cresceu. Entraram outros componentes, além dos negros. No Rio de Janeiro, em 1897, os soldados que exterminaram a comunidade dos Canudos vieram para a cidade em busca das recompensas prometidas: dinheiro e moradia. Sem ter onde esperar por seus prêmios, eles se estabeleceram nas encostas do morro da Providência. Logo passaram a chamar o local de morro da Favela, em homenagem a outro morro, próximo a Canudos, que assim se chamava devido a um tipo de arbusto nele abundante.

Favelas hoje são sinônimos de aglomerações de pessoas muito pobres. Surgiram e cresceram nos morros e se espalharam em áreas planas de subúrbios. O restante da cidade continuou a ignorá-las como local de habitação de seres humanos. Favelados ainda são tratados como subumanos, como cidadãos de categoria inferior.

Em ações cinematográficas como a invasão da Vila Cruzeiro, dia 25 de novembro, que nós acompanhamos em nossas TVs de LCD ou LED, ouvindo tiros em Dolby 5.1, só tínhamos olhos para policiais e bandidos (outras categorias de subumanos). No meio dos tiroteios, sendo atingidas por balas perdidas, tendo as casas invadidas, as mesmas pessoas que estamos durante toda a nossa vida a ignorar.

Queremos melhorar como homens? Precisamos nos identificar como homens. Queremos um Rio melhor? Devemos olhar, ver e sentir que nele existem cidadãos com os mesmos direitos que nós: os nossos pobres, os nossos favelados. Queremos melhorar o mundo? Olhemos para a África.

Em tempo: TP Mazembe ou Tout Puissant Mazembe – traduzindo literalmente do francês “Todo Poderoso Mazembe”. A soberba que habita aqui também mora lá.

Pobre humanidade. Pobre de mim, tão humano.

2 comentários:

  1. É Mauro, lembro de um termo que era muito usado pela midia há alguns anos: marginal. Era bem aceito, pois ficava claro que existiam dois grupos em nosso território social, a Sociedade e a uma gleba à margem desta.
    Hoje não é usado esta expressão, talvez seja um avanço.

    A soberba é intrínseca ao homem. Ao olharmos para uma favela, colocamos nela tudo que rejeitamos. A favela é uma figura imaginativa, um esteriótipo. Uma pessoa nascida, crescida em uma favela, portanto com evidências de ter um padrão de "favelado", pode muito bem ao sair, ao se projetar na Sociedade, rejeitar e discriminar um favelado com veemência mais intensa que um outro descendente direto da Sociedade.
    Hoje temos um grande exemplo para ilustrarmos nossa conversa: o presidente de nossa República.
    Em seus 8 anos de reinado o que mais fez foi pregar a separação das classes. Chama ricos e pobres. Procura levar sempre a imagem do pobre perseguido. Uma estratégia que funciona muito bem. Fala dos ricos (imaginário dele, somente uma figura para ilustrar discurso), mas foram eles que mais enriqueceram em seu governo.
    Amigo, depende sempre de que lado estamos do balcão, isso nos mostrará o peso real de nossa soberbia.

    Gostei muito desta postagem.

    Um abração.

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  2. Obrigado pelo comnetário, César!
    Você tem razão quando diz que um "ex-favelado" pode demonstrar maior rejeição à favela e seus moradores.
    Outro dia eu estava vendo uma reportagem sobre o falecido jornalista Paulo Francis e um dos entrevistados, seu amigo nos tempos do Pasquim, disse a seu respeito que "não existe pior anti-comunista que um ex-comunista". E isso pode se aplicar a quase tudo.

    Quanto ao Lula, sua formação aconteceu dentro da forte idéia de luta de classes. Ele e muitos companheiros aprenderam a ver o mundo assim e assim ele se fez sindicalista, político, deputado e presidente. Claro que, quanto maior o poder, mais embaixo fica o buraco. E ele para permanecer lá teve que agradar a "gregos e baianos". A diferença que "baianos" se contentam com pouco, com qualquer ouro de tolo. Já os "gregos"...

    Um abração!
    Mauro

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