sábado, 25 de dezembro de 2010

"Além do Reino Tão Tão Distante" ou "Quem Percura Acha!"

Uma tarde de abril de 1978

Eu estava jogando volei com alguns colegas, na SQN 102, em Brasília, onde eu morava.  Alguém deu uma cortada e a bola bateu no bloqueio e foi pra fora da quadra, quicando velozmente na direção de uma empregada doméstica estava passeando com um menino que devia ter uns 4  ou 5 aninhos de idade. O menino saiu correndo atrás da bola, e a empregada correndo atrás da criança, mandando ela parar. Claro que não parou e, antes de pegar a bola, caiu e ralou o joelho.

Como diz Arlindo Cruz, "se ralou, vai arder". O menino chorou e a empregada, impiedosa, gritou:
- Viste! Quem percura acha!


24 de dezembro de 2010, 15 horas:

Enquanto me preparava para ir trabalhar, durante a noite de Natal, meu filho e seus amigos do condomínio estavam numa grande agitação, recolhendo dinheiro para comprar bebidas que seriam consumidas durante a noite.

Ele voltou do mercado com algumas garrafas de vários tipos de bebidas alcoólicas, e eu tive de retornar aos seus tempos de menino e contei-lhe uma história antiga:

Havia um conde que se dedicou tanto ao seu isolado condado, que este cresceu e se desenvolveu a ponto de tornar-se um reino.

As comemorações da criação do reino, promovidas pelo melhor amigo do conde, o Capitão da Guarda, durariam uma semana e culminariam na coroação, transformando o conde em rei.

Foram tão intensas tais comemorações, com tanta fartura, que o futuro rei, incentivado a beber mais e mais por seu amigo que promovia a festa, acabou por embebedar-se e por ele foi traído, sendo atirado, na véspera da coroação, do alto da torre do castelo, numa simulação de acidente.

Rei morto, rei posto. Assumiu o trono do triste reino o próprio Capitão da Guarda, o assassino do conde.”

-E daí, pai? - Perguntou meu filho.

- Daí você pode tirar duas conclusões, meu filho:

1ª) Até mesmo as pessoas em que você mais confia são capazes de trair você.

2ª) Conde bêbado não tem trono!

Acho que ele entendeu.


25 de dezembro de 2010, 12 horas.

Acordei agora, ainda com muito sono.
Algum amigo do meu filho deve ter caído dentro do vaso sanitário. Ele está ajoelhado, abraçado com o "ICASA", chamando um tal de Raul.

- Viste! Quem percura acha! - c.a.e.q.d. - (Como A Empregada Queria Demonstrar)

Feliz Natal!
Pro Raul também, coitado!

Um comentário:

  1. Que texto gostoso. Vou recomendar aos meus sobrinhos o exemplo de "quem percura acha". Muito ilustratias as duas histórias.

    Beijos e Boas Festas!

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