domingo, 11 de setembro de 2011

Porque és o avesso do avesso do avesso do avesso

Existe uma parte do nosso ser que a gente luta o tempo todo para manter adormecida, oculta, calada. Esta parte é imensa, equivale à porção invisível de um iceberg.
O que mostramos é a superfície sobre a qual temos certo domínio de atuação e utilizamos tal domínio para criar uma imagem que acreditamos ser a melhor aceita pelas demais pessoas e por nós mesmos. Esta pessoa que gostaríamos de ser e chamamos de “nós”, é na verdade a negação do que somos, pois a nossa parte mais interna é tão profunda, misteriosa, densa, de difícil compreensão, que nos sentimos mais confortáveis vivendo na superfície, deixando trancadas as portas deste nosso desconhecido porão.
Tememos esta nossa parte porque, de um modo geral, só entramos em contato com ela em momentos de crise e de dor. Aí surge o equívoco, pelas dificuldades que trazem estes momentos, de que ela é ruim, que é o lugar onde moram nossas dores, que é um monstro que deve permanecer encarcerado. Mas se nos piores momentos ela se apresenta, é porque nossas respostas se encontram nela. É nela que verdadeiramente estamos. Nós somos esta parte.
Nela habita a nossa essência,  o que torna cada um de nós um ser único no universo.
Em situações raras, duas pessoas se encontram, se comunicam e se conhecem diretamente neste nível mais profundo, sem passar pela superfície. E quando retornam à superfície, estas pessoas  encontram no outro um ser estranho, difícil de relacionar e identificar como a pessoa conhecida na essência.
E tais pessoas se perdem em suas superficialidades, mantém-se em seus rasos papéis e se dizem felizes, sempre morrendo de medo de que lhe caiam as máscaras.
E se cercam de pessoas e coisas efêmeras e fúteis, e depois não conseguem entender como podem, mesmo entre tantos, se sentirem tão sós e tão vazios.