Mauro por Mauro

Eu gosto de Sol, do Flamengo, de samba, do Rio de Janeiro. Sou um carioca fanático. Gosto da resistência barulhenta e festiva da alegria do povo daqui.
Vivi em Brasília onde aprendi a curtir a beleza do céu e ter amigos. Morei também em São Paulo, onde aprendi a conviver bem com a chuva. Acontece que, quando cheguei por lá, eu nada entendi da dura poesia concreta de suas esquinas, da deselegância discreta de suas meninas. Voltei. Rio, tempo de estio, eu quero as tuas meninas!
Gosto de Milton e de Minas. Montanhas, músicas, trens, torresmos e pães de queijo. Calor do dia, frio da noite.
Não sei tocar violão, piano, violino. Nunca toquei numa guitarra. Mas, ouvindo, vou de Cartola ao Pink Floyd em um segundo.
Quando menino, no Bloco Fuzuê, de Jacarepaguá, aprendi um pouco de tamborim, reco-reco, chocalho, surdo, repique, caixa de guerra, agogô.
Hoje toco minha cuíca na bateria da Beija-Flor de Nilópolis, onde aprendo aos poucos o que é comunidade, e na Praça São Salvador, em Laranjeiras, onde o Batuque No Coreto nas noites de sábado dá um show de civilidade na roda de samba mais simpática e democrática do Rio de Janeiro.
Gosto de pessoas sensíveis, divertidas e geniais: Chico Buarque de Holanda, Gabriel Garcia Marques, Charles Chaplin, Fernando Pessoa, Mário Quintana, Machado de Assis.
Gosto de textos bem escritos. Desde que fora do PowerPoint.
Gosto de rir. Rir de barriga, como dizia o próprio Machado. E gosto de quem ri comigo. Quer me conquistar? Acompanhe-me numa gargalhada.
Mas nem sempre eu rio apenas das coisas engraçadas. Às vezes meu riso é cruel, debochado. Muitas vezes eu rio de mim mesmo.
Gosto de me perdoar. Não tenho mágoas de mim. Gosto de não condenar.
Critico muito quase tudo, quase todos. Numa boa, nada pessoal. Só para gerar transformação, se possível.
Evito falar das pessoas. Gosto de falar de pessoas.
Papo cabeça? Aprecio com moderação.
Gosto de vinho, de cerveja. Estas coisas que, na medida certa, quebram as barreiras do silêncio e da distância, aquecendo o papo e o abraço.
Gosto de cinema. Gosto de curtas. Legal aprender a expressar boas idéias com um pouquinho só de tempo.
Gosto de aprender. Procuro aprendizado em todas as coisas que vivo e vejo. Mas algumas vezes me distraio e deixo escapar até mesmo o óbvio.
Gosto de crianças, do cheiro de chuva, de mulheres bonitas, de pão fresquinho. Sexo quente, beijos molhados. Odeio cigarros.
Gosto de multidões. Gosto também de silêncio.
Gosto do tempo. Tanto do tempo meteorológico (fiz da sua observação a minha profissão) como deste tempo que passa e transforma o novo em velho, o jovem em idoso. Tempo que traz vida e morte e que mostra que somos apenas um eterno momento enquanto duramos. O tempo, implacável com as coisas fúteis.
Gosto da vida. Mas gosto também da certeza de um dia morrer. Só pra me surpreender com os enganos das idéias que temos sobre o que acontece do lado de lá. Ou vir a sentir ou saber coisa nenhuma, a não ser coisa alguma. E ser o fim.
Gosto de seres humanos. Convivo à distância com animais. Acho que nunca vou ter um cachorro como meu melhor amigo. Mas alguns amigos gostam muito mais de seus cachorros que de mim. Fizeram deles seres dependentes. Que sejam os melhores amigos de seus cachorros.
Tenho Deus e o Diabo dentro de mim. Minha conduta é divina, minha vingança é diabólica. Perfeito? Maldito? Comum.
Meus filhos? São meu curso extensivo de humanidade.
Adoro comer. Detesto engordar. Odeio ciúmes. Sinto ciúmes.
Creio que a busca eterna da felicidade é uma invenção humana para ajudar a passar o tempo entre o nascimento e a morte.
Conheço a alegria e a tristeza. Volta e meia estou com uma ou com a outra, mas acho a segunda uma péssima companhia. Reclamo dela em sua presença e falo mal dela pelas costas.
Morria de medo de encontrar a solidão, mas descobri que sempre morei dentro dela e posso torná-la algo confortável. Ou não.
Acredito que o amor é um atributo divino que a gente tenta alcançar.
Desconfio das paixões, mas volta e meia me encontro envolvido por elas.
Acho o casamento um mal desnecessário.
Adoro o bom humor, mas acho o mau humor muitas vezes divertidíssimo.
Meu objetivo na vida? A leveza. Tudo o que eu quero é ser leve.
E que a vida me leve.
Eu e você... a gente se lê por aqui.