terça-feira, 21 de maio de 2013

Quando A Atitude de Viver É uma Extensão do Coração, É Muito Mais Que Um Prazer, É Toda Carga da Emoção... É Bom Dizer: Viver, Amar Valeu


Depois de uma pausa de mais de um ano, esta semana eu voltei a escrever e a publicar no Batuque Meteórico. Fiquei surpreso, no dia seguinte, quando um amigo do trabalho me agradeceu. É que ele havia reclamado, na semana anterior, acusando-me por eu ter abandonado meu blogue.
Aquilo foi uma provocação.
Não era verdade. Eu sabia que, no momento em que as minhas palavras pedissem para serem expressas de forma escrita, eu voltaria a escrever. E assim aconteceu: Um retorno tímido, como os movimentos de quem se espreguiça após uma longa noite.
Tal ausência de textos escritos não aconteceu, contudo, por motivo que pudesse causar preocupação a quem por eles, e talvez por mim, reserva alguma simpatia. É que eu estava navegando em uma onda de dias felizes na minha vida. Eu vivia, como cantava Gal, um “Barato Total”:

“Quando a gente tá contente (...)
(...)Tudo que você disser deve fazer bem
Nada que você comer deve fazer mal
Quando a gente tá contente
Nem pensar que está contente
Nem pensar que está contente a gente quer
Nem pensar a gente quer, a gente quer
A gente quer, a gente quer é viver”

Sem nada me fazer mal, curti minha adorável onda, experimentando sensações e sentimentos nunca tão límpidos, claros e leves. Estive feliz desde antes do começo, nos primeiros olhares, nos estudados movimentos:


“Vivia a te buscar
Porque pensando em ti
Corria contra o tempo
Eu descartava os dias
Em que não te vi
Como de um filme
A ação que não valeu
Rodava as horas pra trás
Roubava um pouquinho
E ajeitava o meu caminho
Pra encostar no teu
Subia na montanha
Não como anda um corpo
Mas um sentimento
Eu surpreendia o sol
Antes do sol raiar
Saltava as noites
Sem me refazer...”


Então vieram os dias, firmando sua característica de constante mutação, nos quais nada se mantém como está. Nem parado, nem em movimento, nem bom, nem ruim, nem alegre, nem triste. Sempre oscilando, sempre mudando, veloz, veloz. São dias que ensinam que nunca se é, apenas se está.
A vantagem, nestes dias, é que nem mesmo a morte é definitiva. E, sobretudo, ela dura pouco. Lembro-me de uma amiga que, resumindo sua recente desilusão, disse:
- Mauro, eu morri aqueles três dias.
Reparem que ela não disse que esteve morta. - “Morri aqueles três dias”. - Ela se viu morrendo a todo momento e imediatamente após percebendo-se viva e assim, e também por isso, morrendo novamente, sem parar de morrer e permanecer viva, após cada sentimento gerado por cada pensamento a cada segundo.
Degustação da morte. A estranha contradição de pensar (logo, cartesianamente, existir), estar morto.
Como são devastadoras as dores emocionais!
Mas as músicas sugerem que deixemos de coisas e cuidemos da vida, senão chega (realmente) a morte ou coisa parecida, e que a vida é cigana.
Aí a gente fica só com a gente mesmo, sem abraço, sem o perfume.
É momento de deixar o que passou guardado dentro da gente e avaliar o que foi feito de nós e sabermos o que somos. Reparar as velas no cais e seguir, atento, alternando dias bons e ruins, vivendo e aprendendo. E escrevendo. Eis, portanto, o que me trouxe aqui.


"O meu coração ateu quase acreditou
Na tua mão que não passou de um leve adeus
Breve pássaro pousado em minha mão
Bateu asas e voou

Meu coração por certo tempo passeou
Na madrugada procurando um jardim
Flor amarela, flor de uma longa espera
Logo meu coração ateu

Se falo em mim e não em ti
É que nesse momento já me despedi
Meu coração ateu não chora e não lembra
Parte e vai-se embora"

(Coração Ateu – João Medeiros e Sueli Costa)




"Súbito me encantou
A moça em contraluz
Arrisquei perguntar: quem és?
Mas fraquejou a voz
Sem jeito eu lhe pegava as mãos
Como quem desatasse um nó
Soprei seu rosto sem pensar
E o rosto se desfez em pó

Por encanto voltou
Cantando a meia voz
Súbito perguntei: quem és?
Mas oscilou a luz
Fugia devagar de mim
E quando a segurei, gemeu
O seu vestido se partiu
E o rosto já não era o seu

Há de haver algum lugar
Um confuso casarão
Onde os sonhos serão reais
E a vida não
Por ali reinaria meu bem
Com seus risos, seus ais, sua tez
E uma cama onde à noite
Sonhasse comigo
Talvez

Um lugar deve existir
Uma espécie de bazar
Onde os sonhos extraviados
Vão parar
Entre escadas que fogem dos pés
E relógios que rodam pra trás
Se eu pudesse encontrar meu amor
Não voltava
Jamais"

(A Moça dos Sonhos – Chico Buarque e Edu Lobo)

domingo, 19 de maio de 2013

Tanta Coisa Que Eu Tinha A Dizer, Mas Eu Sumi Na Poeira Das Ruas


“Olá, como vai?”
Esta simples pergunta pode ser respondida em diversos níveis de profundidade, dependendo do grau de intimidade que se deseja alcançar.
Quase sempre banal, dita por educação ao encontrarmos pessoas conhecidas nos elevadores, no mercado, na praça. Obtém respostas que, em geral, seguem o padrão das palavras sem importância, mecanicamente proferidas e distraidamente ignoradas por quem perguntou.
É comum ser respondida com um vazio “tudo bem”, na maioria das vezes, mentiroso.
Apesar de gerar tal curiosa situação, esta pergunta, quando assim ocorre, é praticamente inofensiva. Não altera em nada o momento, o dia ou a vida do autor ou de quem a responde.
O drama começa quando já houve uma intimidade maior entre as pessoas que se encontram. Sempre fica a dúvida sobre o que realmente se está perguntando.
Você encontra o antigo amor que já não desperta o mesmo interesse do passado, faz a pergunta no “nível elevador”, e o outro, que sonhava com o encontro, responde do fundo do coração. O desencontro só é percebido no silêncio constrangedor que sucede ao mico.
Se as mesmas pessoas se encontram e as falas se invertem, a pessoa que pergunta sente o vazio da desilusão na resposta.
Este primeiro momento dos reencontros dá o tom do prazer que eles podem ou não proporcionar. Quando ocorre a sintonia, diz-se, mesmo anos após o último encontro, com prazerosa surpresa - “Parece que foi ontem que nos encontramos. Nada mudou.”
Quando ocorre a dessintonia, ao contrário, muitos encontros passam a ser evitados. O diálogo, neste caso, perde o calor e o sentido e, ao longo do tempo, as pessoas acabam se perdendo. Sinal fechado.


Sinal Fechado
Paulinho da Viola

Olá, como vai ?
Eu vou indo e você, tudo bem ?
Tudo bem eu vou indo correndo
Pegar meu lugar no futuro, e você ?
Tudo bem, eu vou indo em busca
De um sono tranquilo, quem sabe ...
Quanto tempo... pois é...
Quanto tempo...
Me perdoe a pressa
É a alma dos nossos negócios
Oh! Não tem de quê
Eu também só ando a cem
Quando é que você telefona ?
Precisamos nos ver por aí
Pra semana, prometo talvez nos vejamos
Quem sabe ?
Quanto tempo... pois é... (pois é... quanto tempo...)
Tanta coisa que eu tinha a dizer
Mas eu sumi na poeira das ruas
Eu também tenho algo a dizer
Mas me foge a lembrança
Por favor, telefone, eu preciso
Beber alguma coisa, rapidamente
Pra semana
O sinal ...
Eu espero você
Vai abrir...
Por favor, não esqueça,
Adeus...