quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Natureza: Complicada e perfeitinha.


Toda esta umidade que está chegando vem da região da Amazônia, das mais quentes e úmidas do mundo, e de outra área, de baixa pressão constante, na Bolívia. Uma quantidade imensa de água, nas proporções de um rio extremamente volumoso, converge como vapor d'água criando uma faixa que corta o Brasil diagonalmente do noroeste ao sudeste. Passando pelo centro do país.

Quando uma frente fria se alinha com esta faixa de umidade, alimenta esta área de convergência com mais vapor d'água e forma um canal que traz toda esta umidade acompanhando a linha da frente, em direção do Oceano Atlântico.


O centro do Brasil é plano e o "rio de vapor" segue fácil até encontrar alguma barreira em seu caminho. No caso, a Serra do Mar.


Diz o velho ditado: Água mole em pedra dura tanto bate até que fura. Não é o caso.


Vapor, imaginem, é água muito mole! Bate na montanha e não consegue furá-la. Faz o quê? Sobe.


Aí o vapor vai subindo a encosta da montanha. Só que a temperatura cai na medida em que se sobe. O que era vapor vai se condensando, virando gotículas de água.


Uma gota encontra outra, se fundem, aumenta de tamanho, as gotas ficam pesadas e a gravidade as atrai para o centro da Terra.


No caso da nossa tragédia era gota demais, água demais. E entre o topo das nuvens carregadas de água e o centro da Terra estão as cidades Três Rios, Areal, Pedro do Rio, Itaipava, São José do Vale do Rio Preto, Bonsucesso, Posse, Sumidouro, Teresópolis e Nova Friburgo. Toda esta água caiu e vai continuar caindo, até que a frente, que resolveu estacionar sobre o nosso litoral, se dissipe ou se desloque para o oceano.


Para o litoral geralmente passa o ar quente e um pouco de umidade. Quando grandes quantidades de vapor conseguem passar pela serra, o que não choveu lá choverá aqui. Não adianta guarda-chuva. Fiquem em casa.


Vem aí o final de semana. Na Cidade Maravilhosa um sábado quente, mas com o céu "sujo". Melhor.

Em dias de aquecimento excessivo, céu claro, a terra aquece e ela aquece o ar em contato. Aquecido, o ar também subirá. Vapor d'água no caminho? Leva junto!

E formam-se, durante todo o dia, aquelas nuvens lindonas, gordas, imensas. Aquilo tudo é vapor d'água pra caramba. Montanhas de vapor.

Aí a parte de cima da nuvem se resfria demais. A nuvem é tão alta em seu topo, fica tão frio lá em cima que o vapor vira gelo. Abaixo deste topo é o caos: Gelo caindo, derretendo na queda, pelo atrito com o ar. Água que não virou gelo caindo, vapor d'água ainda subindo. Atrito, atrito, energia, carga elétrica em pontos opostos da nuvem. Raios, trovoadas, e chuva. Geralmente muita chuva, em pancadas.



Céu encoberto, menor aquecimento. Chuvinha intermitente, chata, mas não mata. Só se durar muitos dias.


Vou ao samba em nome da alegria e do amor, para ajudar as pessoas da Região Serrana, e as crianças do Lar Luz e Amor, colhendo donativos.


A cooperação justifica o samba, caso contrário, faria como Paulinho da Viola:


"Não tirei minha viola,
parei, olhei e vim-me embora
Ninguém compreenderia um samba naquela hora"

3 comentários:

  1. Grande Mauro!

    Excelente. Perfeito.
    Caramba, descrição melhor é impossível.
    Vou repassar p/minha lista e, é claríssimo, que mencionando a fonte.
    Do que no momento é uma tragédia, vc se torna o porta-voz da Natureza narrando sua versão.

    Um abraço.

    Cesar Patricio

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  2. Muito bom, Mauro! Coloquei no meu Twitter (@mmaturana), com cópia para o Facebook. Abs!

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  3. Foi uma descrição deliciosa de se ler como tudo que escreve.Não sei se você consegue perder a ternura, mas não endurece jamais.

    Bj

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