segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Eu sou apenas um pobre amador, apaixonado. Um aprendiz do teu amor.

Outro dia ouvi a Cantora Teresa Cristina dizer que ela era criticada por cantar de olhos fechados, e que isso fechava uma janela entre ela e o público.

Como resposta criou a música Cantar

Cantar
Desnudar-se diante da vida
Cantar é vestir-se com a voz que se tem
Achar o tom da alegria perdida
E não ter que explicar pra ninguém
A razão desta tal melodia
Encharcada de sorriso e pranto
No cantar a lembrança se cria
E envelhece de repente
Vai solta no ar
Por isso eu canto
Canto para amenizar
Grande dor que me traz
O sorriso de alguém
Se a minha escola querida
Cruzar a avenida
Eu canto também
No canto
Vou jogando a minha vida pra você
Por isso, fecho os olhos pra não ver


“Cantar é vestir-se com a voz que se tem.”
Gosto muito desta frase. Percebo, em quem assim canta, uma entrega, um mergulho em si mesmo para trazer da alma o espírito da música. Muitas vezes toda intensidade da música que se manifesta vem na forma de som, de voz, mas também na dança, nos gestos.

Outro dia, num bate-papo pelo msn, tentei descrever o que a minha amiga Ivy transmite ao cantar:

"... Fica uma mistura deliciosa de gestos e música. Não exatamente uma dança. É como se a música fosse vento e você, árvore."

A Ivy, muitas vezes, também canta com os olhos fechados.

Eu ainda me questiono o motivo pelo qual me impressionei tanto ao ver Luisa Maita cantar no Pelas Tabelas, a ponto de “rastreá-la” em sua agenda, aguardando sua vinda ao Rio. E mais ainda, fiz do seu show um evento imperdível, ao qual fui sozinho, no sábado, dia 29 de janeiro.

Luísa, com sua voz suave, seu belo corpo, seus olhos fechados ao cantar e sua dança de garrafa que flutua no mar, ao sabor das ondas, levando as mensagens das suas composições.

Fim do show. Não resisti. Surpreendi a mim mesmo, procurando-a na saída do teatro, para elogiá-la. Porque eu acho que tem que ser assim. Como perder esta oportunidade? Alguém que com a sua arte, sua expressão, é capaz de modificar o meu comportamento, meus hábitos, merece saber desta capacidade, deste poder. E mesmo que já saiba possuí-los, isto tem que ser confirmado por cada um que se deixa impressionar.

Conversamos alguns minutos. Contei de como a conheci pela TV, da fascinação e da grande vontade e expectativa de assistir ao seu show. Falei do Batuque Meteórico e lhe perguntei sobre a possibilidade de entrevistá-la. Ela aceitou, deixou o número do seu telefone.

Nesta rápida conversa outra coisa me foi impressionante: Ela em momento algum desviou seu olhar dos meus olhos.

Um efeito semelhante ao de vê-la cantar com os olhos fechados, naquela intensidade, foi causado pelo seu olhar, nem um pouco invasivo ou provocante, muito menos vago.

Magnético. Absolutamente magnético.

Já ouvi dezenas de vezes, desde a compra após o show, o seu CD Lero-Lero. Sempre que posso fecho os olhos e a imagino cantando, com seus olhos fechados, ou falando, com olhos bem abertos, fixos nos meus, naquela  bela noite.

Descendo das nuvens, no dia seguinte fiquei em casa com minha filha durante a manhã e a tarde de domingo. Ela pediu que fizéssemos algo juntos, e decidimos assistir, ela pela primeira vez e eu nem sei quantas, ao filme Crash – No limite.

Crash é outra fantástica e intensa expressão da sensibilidade humana na forma de arte. O interessante, neste filme, é que sua sutilezas podem passar despercebidas, e mesmo assim ele não deixa de ser um excelente filme. Mas suas entrelinhas são poderosas e profundas. Mostra o quanto somos capazes, por estresse, pressa ou preconceito, de realizar gestos inaceitáveis por nós mesmos, em outras situações mais serenas.

Para nos sentirmos seguros separamos as pessoas em categorias que nos são mais ou menos interessantes e daí permitimos ou não a aproximação.

Assim, um chaveiro que vem trocar a fechadura de uma  loja deve limitar-se a fazer isso. Não importa a sua opinião em relação ao estado da porta, por exemplo, se ela está ou não empenada: - "Faça o seu trabalho. Eu lhe pago e adeus."

O filme mostra o quanto desprezamos as pessoas que cruzam anonimamente por nós. E o quanto as rejeitamos, por serem tão passageiras, quando em alguns momentos, por acidente ou não, o deixam de ser, contra o nosso desejo, e se colocam diante de nós, em nossas vidas.

Cada ser humano é uma lição de humanidade. Cada encontro é uma oportunidade de conhecermos melhor a nossa própria humanidade refletida no olhar do outro. O que falta é parar diante do outro e procurar por si no seu olhar. E, por conseguinte, o outro fazer o mesmo. Então se cria uma ligação, um laço. E através dele pode existir toda troca que, certamente, transformará as pessoas ligadas em seres humanos melhores.

Afinal, pra qual outro motivo, além de nos tornarmos seres melhores, que a gente vive mesmo?

Acordo cedo,
Com pé no freio
O mundo inteiro começa a girar


No banheiro
Olho no espelho
E crio coragem
E ponho pra andar
Carteira, chave no bolso
Tá carregando, meu celular
Acredita,
Ninguém apita,
Quem vai querer hoje me segurar


É,
Eu tô na vida é pra virar,
Que a felicidade vem,
Eu tô sonhando mais além


Não,
Nem vem aqui me atazanar
Se eu tô rindo é pra você
Eu não fui feita é pra fingir


Eu tô ligada é no amor
Que se tem pra viver


(Luisa Maita – Alento)


True or false? I need to call her.

Mauro Sá

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