terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Cantar é vestir-se com a voz que se tem

Hoje, numa carinhosa troca de e-mails com uma das minhas irmãs, lembrei que foi ela quem me deu acesso a alguns livros decisivos para a minha compreensão da parte esotérica da vida.

Existem livros e filmes que passam a fazer parte da gente, da nossa formação. Fiquei lembrando dos “meus”.

O livro Ilusões, de Richard Bach, por exemplo, ainda traz descobertas quando é relido por mim.

Lembro do quanto me encantou a maneira como Gabriel Garcia Marques escreveu Cem Anos de Solidão. É um daqueles livros que a gente “devora” e depois quer reler, em busca de detalhes.

A maneira como compreendo e me posiciono politicamente foi despertada após a leitura de livros como O ABC do Entreguismo no Brasil, de Ricardo Bueno. No mesmo ano em que li este livro eu assisti ao filme e à peça de Gianfrancesco Guarnieri, Eles Não Usam Black-Tie.
Era o final da década de 1970 e início da seguinte. Lula metalúrgico liderando o sindicato no ABC e comandando a greve desafiadora à repressão do regime militar. A anistia política, com “a volta do irmão do Henfil”, entre muitos outros. Eu lia o Pasquim, ouvia Chico Buarque e Caetano. Achava que viraria militante, mas achei muito chato o comportamento do movimento estudantil da minha época de faculdade. Muita alegoria e pouco enredo, como diria meu amigo Chicão (não o Buarque, mas o José Francisco).

O Chico (Buarque), naqueles anos, era um dos principais organizadores dos shows que aconteciam no Riocentro nas noites de 30 de abril, virando a madrugada com a apresentação de vários artistas, comemorando o Dia do Trabalhador. Eu, Forest Gump à brasileira, estava presente em 1981, no dia em que explodiram as bombas e, felizmente, saímos, eu e o público, ilesos. O que não aconteceu com o sargento Guilherme do Rosário, que iria “plantar” os artefatos junto com o então capitão Wilson Dias Machado. O sargento morreu no local, o capitão sobreviveu aos graves ferimentos. Depois virou major, coronel...

 As Veias Abertas da América Latina”, de Eduardo Galeano, me deu uma noção de quanto pecado existe no buraco no qual estamos juntos com nossos hermanos, uns do lado de baixo do equador, outros um pouco acima.

Não posso esquecer o filme The Wall, dirigido e produzido por Alan Parker, baseado no álbum de mesmo nome da banda Pink Floyd. A banda, desde menino, é uma das minhas preferidas (sim, eu gosto de rock!), e volta e meia assisto ao filme em DVD, nos meus “Momentos Diogo Mainardi” de reflexão, para lembrar que eu também tenho um lado meio azedo (agridoce, talvez).

Há poucos anos, numa tediosa espera pela saída de um vôo de férias no Galeão, eu e minha mulher, irritados com a demora, contávamos as horas, enquanto nossos filhos se divertiam brincando com os carrinhos de bagagens. Felizmente nenhum colega da Infraero viu a cena, pois seriam, certamente, repreendidos.

Dias depois, navegando pela Internet, descobri um pequeno texto do Eduardo Galeano que me fez lembrar aquele momento no aeroporto.

Hoje eu voltei a encontrar este texto, que sugiro virar uma faixa enorme na Praça São Salvador ou um imã na minha geladeira:

"Na parede de um botequim de Madri, um cartaz avisa: Proibido cantar. Na parede do aeroporto do Rio de Janeiro, um aviso informa: É proibido brincar com os carrinhos porta-bagagem. Ou seja: Ainda existe gente que canta, ainda existe gente que brinca."

Um comentário:

  1. Sabe o que estou vendo após esta postagem nostálgica? Que você tirou o dia para arrumar a estante de livros.... rs...as lembranças afloram...
    Helena

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