segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Meu Pequeno Grande Amor, Que Mistérios Tem Clarisse?

Brasília, dia 1º de janeiro de 2010.

Meu primeiro segundo do ano passado indicavam como seriam intensos os próximos 31.535.999 que viriam. Eu estava no palco montado na Esplanada dos Ministérios, em Brasília, junto com a Beija-Flor, aguardando a nossa participação no show da comemoração do início do cinqüentenário da cidade.

Atrás de mim, um imenso telão mostrava a contagem regressiva: ...3, 2, 1... Explosões de fogos de artifício escondidas pelo do palco. Sem a visão do show pirotécnico fixei os olhos na multidão e vi, emocionado, as expressões das pessoas diante do barulhento colorido no céu. Observei os abraços, as lágrimas, as euforias. O espetáculo que eu via eram os olhos das pessoas explodindo de alegria e renovação.

Hora antes, depois de doze anos, eu havia recebido um caloroso abraço da grande amiga Rosa, a primeira flor que descobri quando fui morar na Capital. A minha Rosa única, tal qual a do Pequeno Príncipe, de Saint-Exupéry. Aquele abraço mágico limpou minha mente e meu coração do vazio e das tristezas de 2009 e surpreendentemente me preencheu de mim mesmo.

Coisas de “Fada Maninha”. Voltei mais Mauro de Brasília.

Se o Luciano Huck tivesse acompanhado o meu 2010, eu seria contratado para o Lar Doce Lar. Pobre Rosenbaum, estaria desempregado!

Na minha “modesta” avaliação de fim de ano, eu concluí que dei um show de reconstrução.

“Amei daquela vez como se fosse a última
Beijei minha ex-mulher como se fosse a última
E cada filho meu como se fosse o único
E atravessei a rua com meu passo firme
Quebrei minha construção como se fosse máquina
Reergui no patamar quatro paredes sólidas
Tijolo com tijolo num desenho mágico
Cozinhei feijão com arroz como se fosse o máximo
Dancei e gargalhei tocando a minha música
E flutuei no ar como se fosse um príncipe
Sorri na contramão comemorando os sábados...”

(Obrigado... e desculpe-me, Chico Buarque!)

Rio de Janeiro, 1º de janeiro de 2011.

Do Palco Santa Clara, em Copacabana, com a mesma Beija-Flor, assisti a queima de fogos. Durante os 16 minutos de explosões eu alternava meu olhar entre o céu e a multidão. Impressionante! Um mar de gente, diante de um mar da águas, vendo estrelas caindo do céu! É muita luz! Quem sabe absorver esta energia tem “carga positiva” pra mais de ano.

Estávamos ali desde as seis da tarde do dia 31. Na areia, atrás do palco, fora montada uma praça coberta com uma imensa tenda branca, cercada pelos camarins de cada grupo que iria se apresentar naquela noite. No centro deste espaço, disponível em grandes mesas, farta variedade de comidas e bebidas. A brisa do mar deixava o ambiente mais agradável que qualquer lugar com ar condicionado.

Nilsinho Neon, mestre da cuíca, personalidade do mundo do samba, me divertia cada vez que avistava um conhecido seu. O cara sempre tem uma história diferente e engraçada para lembrar e contar. Íamos de grupo em grupo e todos demonstrando prazer em rever o mais famoso (e único) vendedor de “água-de-cuíca” da face da Terra.

Uma da manhã. Fomos ao camarim para trocarmos de roupas. Nossa apresentação estava marcada para duas e trinta, com duração de apenas meia-hora.

Entre as coisas que gosto nas escolas de samba é a sensação de insegurança. Nunca a gente sabe se a coisa vai dar certo. Na Beija-Flor, quase sempre dá. Igualzinho à própria Vida.

No caso daquela noite a surpresa foi que a montagem do repertório e o “ensaio” aconteceram em dez minutos, no camarim, durante a troca de roupas. A grande sacada do Mestre Orelha foi perceber que em meia hora não faria sentido cantar apenas sambas enredo da escola. Principalmente para uma multidão formada por gente de vários lugares do Brasil e do mundo. Decidimos abrir com a “Deusa da Passarela” (“... Beija-Flor minha escola, minha vida, meu amor...”) e depois improvisar!

Cantamos “Peguei Um Ita No Norte” (“... Explode coração, na maior felicidade...”), do Salgueiro 93, “De Bar Em Bar, Didi, Um Poeta” (“... Hoje eu vou tomar um porre, não me socorre, que eu to feliz...”) da União da Ilha 91, “Não Quero Dinheiro” do Tim Maia (...”A semana inteira, fiquei esperando, pra te ver sorrindo...”), enfim, uma salada inesperada.

Não sei ainda se o público gostou, mas das duas, uma: Ou, às três da manhã, depois de vários momentos com chuva, as areias de Copacabana ainda estavam escaldantes, ou o povo adorou, pois pulava pra caramba!

Fim do show, hora de continuar a cumprir meu roteiro. Ainda faltava encontrar o pessoal do Batuque No Coreto, na Praia do Flamengo.

Meio descrente, pelo adiantado da hora, se ainda iria encontrar alguém, estacionei em frente ao Belmonte e segui para o local marcado.

Quatro da manhã. Sete Batuqueiros resistiam embaixo de uma árvore, sob fina e constante chuva, cantando Benjor:

“Lá fora está chovendo
Mas assim mesmo eu vou correndo
Só pra ver
O meu amor...”

Lá fora? Embaixo daquela árvore encharcada estava chovendo muito mais que “lá fora”! Tudo em nome da alegria! Este é o Batuque No Coreto!

Quatro e Trinta: Fim da festa, caminho de casa. Antes, é claro, um “bonde” pra galera até as proximidades da Praça São Salvador.

Dormi de cinco e meia às cinco e meia. Da tarde. Acordei com a voz maravilhosa da Edite ao telefone. Meia hora de papo, matando as saudades. Desliguei e telefonei pra confirmar para a Cristina e para a Helena que sim, haveria o Samba Salvador... Às seis!

Corre Maurão!

Praça São Salvador, 19 horas.

Eu esperava encontrar apenas os sobreviventes. foi o que encontrei.
Felizmente todos sobreviveram! E o Zé Carlos da Cuíca fez seu retorno triunfal!
A praça estava cheia, o samba maravilhoso. Muita gente bonita e feliz. Inclusive a Cristina e sua mãe, que, aliás, têm que passar no meu escritório para pegarem as carteirinhas de sócias frequentadoras do Batuque No Coreto. Maneiro!

Quebramos o protocolo, moderadamente. Encerramos, de fato, de direito e de dever, o samba do Batuque No Coreto às dez. Mas ficamos batucando de mansinho, quase num sussurro, até...

Praça São Salvador, 2 de janeiro de 2011, 1h30min.

Tânia, a “sindica” do Batuque No Coreto”, com aquele coração de mãe, foi falar comigo:

- Ô Mauro, você não trabalha aman... daqui a pouco?
- Sim. Levanto às cinco.
-Você sabe que tem que dormir pelo menos 3 horas não é?
- Tá! Vou sair daqui duas e trinta e sete.

Caí na real. Guardei a cuíca, o repique de mão, me despedi da turma. Começava a cair uma fina chuva. Voltei para casa antes de duas da manhã.

Acordei às cinco horas, fui trabalhar no melhor estilo Jimmy (um dos amigos boêmios mais maneiros que conheci e que infelizmente vou matar quando reencontrar, pois o sacana desapareceu sem deixar vestígios. Só perdôo se me pagar uma cerveja até dezembro lá na Lapa): Trabalhei como se tivesse dormido dez horas de um sono tranqüilo.

 No final da tarde liga o Manoel, um dos resistentes que ficara cantando embaixo da árvore na madrugada do dia primeiro, e na Praça, até as três da manhã do dia dois, me chamando para casa da Vanessa, em Santa Teresa, para uma feijoada “isotônica” básica.

 - Tô dentro!

Enviei uma mensagem de texto pelo celular para meus filhos, dizendo que iria chegar um pouco mais tarde.

O samba rolou até 21h30min.

Eu confesso que não sou mais o mesmo. Depois de anos de inatividade, fiquei cansado. E estava com muita saudade da minha filha de 12 anos, a quem eu não via desde o dia 30 do ano anterior!

Dirigi para casa imaginando como ela, guardiã de seu espaço e de suas pessoas, me receberia, visto que esperava me encontrar em casa na hora habitual do meu retorno do trabalho.

Abri a porta, aguardando a “bronca”.

Fui recebido com abraços carinhosos e muitos beijos por ela e meu filho. Bela surpresa.

“Que mistério tem Clarice
Que mistério tem Clarice
Pra guardar-se assim tão firme, no coração
Clarice era morena
Como as manhãs são morenas
Era pequena no jeito
De não ser quase ninguém
Andou conosco caminhos
De frutas e passarinhos
Mas jamais quis se despir
Entre os meninos e os peixes
Entre os meninos e os peixes
Entre os meninos e os peixes
Do rio, do rio
Que mistério tem Clarice
Que mistério tem Clarice
Pra guardar-se assim tão firme, no coração
Tinha receio do frio
Medo de assombração...”

(Capinan/Caetano Veloso)

Que mistérios tem Clarisse?

Você sabe responder, meu pequeno grande amor, que é você, Gabriel?

Que mistérios tem Clarisse?


Eu amo vocês, meus filhos!

2 comentários:

  1. Comentário nº1 da Clarisse:
    - Pô pai, quase nem falou de mim!

    Comentário nº2 da Clarisse:
    - Aí pai, fiquei bolada! Ainda posta que eu ia te dar bronca! Até parece que eu te dou bronca!

    - Então tá, então!

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  2. Adorei!! Agora vou cobrar minha carteirinha... rs

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