segunda-feira, 25 de julho de 2011

Quando o Sol bater na janela do teu quarto

Hoje eu acordei com a luz dos primeiros raios de Sol invadindo meu quarto por uma fresta da cortina. Resisti um pouco mas me levantei da cama e abri a janela... do Facebook!

Desde a semana passada, após ouvir críticas aos sites de relacionamentos, passei a prestar mais atenção no meu comportamento diante deles. A analogia entre janelas das nossas casas e sites da Internet é tão precisa que Bill Gates, há muito, teve a sacada de batizar o seu sistema operacional com o nome de Windows.

Eu costumo elogiar o Facebook. O site dá oportunidade da troca de informações diretas, através do bate-papo, e também permite que se compartilhe músicas, vídeos, imagens e textos de maneira rápida e ampla. E é possível realizar toda esta troca de maneira restrita, pessoa a pessoa, sem que as mensagens caiam no conhecimento dos demais “amigos”. Fascinante.

Agora me pergunto se eu, alguma vez na vida, fiquei por tantas horas debruçado na janela, como fico diante do computador. Claro que não. E todas as vezes que eu vou à janela é para tentar ver algo que me despertou interesse. Saber o que está acontecendo ao alcance dos olhos, permitir uma surpreendente visão do que é belo, novo ou simplesmente ver o tempo passar.

Mas o Facebook, além de janela, é também vitrine. A gente fica exposto, na medida que se permite, ali. Se não tivermos isto em mente estaremos sujeitos a uma superexposição que pode reverter em danos. Como tudo que “dá barato”, que “dá onda”, deve ser usado com moderação.

E nunca deve substituir os prazeres do encontro pessoal, do abraço, do bate-papo olhando nos olhos, dos jantares, das cervejas e dos cafés.

Vou dar um tempo. Gerarei mais tempo para a leitura de livros, irei mais à locadora para pegar DVDs. Comprarei uma bicicleta, irei mais à feira, curtirei mais shows e conhecerei novas rodas de samba. Farei mais amigos. Tomarei muitos chopes com eles e irei adicioná-los, por fim, ao meu Facebook, para que saibam, através dele, que eu escrevi novas postagens no Batuque Meteórico.

E assim gira o mundo.

sábado, 23 de julho de 2011

Tanta escuridão pode tornar em vão a luz que acendeu fora de ocasião

Outro dia, na Praça São Salvador, eu e uma amiga travamos um curto diálogo após minha recusa em aceitar a caipirinha que ela me oferecia:

- vai dirigir? – perguntou.
- Não. É que hoje eu estou curtindo minha lucidez.

Acontece algumas vezes. É que eu tenho consciência que existem muitas coisas capazes de interferir no meu mais amplo raciocínio. Algumas delas são bem mais dissimuladas ou ocultas que caipirinhas, mas acrescentar a estas coisas alguns mililitros de cachaça no momento errado é pedir para cair numa cilada.

Estados emocionais como paixão, encantamento ou ciúmes são craques nisto. A gente fica meio bobo quando está encantado por alguém. Se o encantamento atinge a fase da paixão, aí mesmo é que o discernimento fica comprometido.

Contudo, encantamento e paixão dão barato, geram a maior onda. É bom sentir enquanto dura a festa. Quando termina é que vem a pancada: A ressaca é igual a um trator te atropelando. Quase óbito.

Aí tem que ficar inventando artifícios para sobreviver. Tenta esquecer, tirar da cabeça. Mas a única coisa que consegue esquecer é da velha lição que diz que só o vagaroso tempo é quem vai curar a maldita saudade dos tempos da alegria.

Pior quando a gente acha que está curado, inteiro, pronto para outra e do nada sente no ar um perfume que lembra o cheiro dela, ou encontra na memória da câmera uma foto, um retrato da flor. Dizem que a gente vive e morre uma só vez. A exceção é quando se morre de paixão: A gente morre varias vezes e ainda vira masoquista, igual criança que não sabe nadar quando vê um “toboágua”: Quer voltar para morrer de novo.

Outra noite eu cheguei cansado e decidi dormir cedo. Fiquei procurando algo para ler e acelerar a chegada do sono. Peguei um livro que desejo reler há anos. Abri e li na última página:

"(…) tudo o que estava escrito neles era irrepetível desde sempre e por todo o sempre, porque as estirpes condenadas a cem anos de solidão não tinham uma segunda oportunidade sobre a terra”.         
(Cem Anos de Solidão – Gabriel García Márquez)

A frase do livro se ligou a outra, que me veio à lembrança:

“Quero te contar um segredo agora. Eu vejo gente morta, andando por aí como gente comum. Uma não vê a outra. Elas só vêem o que querem ver. Não sabem que estão mortos. Estão em toda parte.”
(Coler Sear, o menino do filme O Sexto Sentido)

Eis aqui outras características dos que morrem de paixão: Eles também só vêem o que querem ver. E estão por toda parte.

Conclui que devo fazer parte das estirpes citadas em “Cem Anos de Solidão”, pois pessoas, coisas e oportunidades por mim perdidas são sempre, por mais que eu tente remover montanhas por elas, inevitavelmente irrecuperáveis.

Deitei e dormi feito pedra. E curti isto.

sexta-feira, 8 de julho de 2011

Felicidade é uma cidade pequenina, uma casinha, uma colina, qualquer lugar que se ilumina quando a gente quer amar

Minha amiga Sandra Costa e eu conversávamos outro dia sobre o filme Meia-Noite em Paris, de Woody Allen. Ela falou que esperava mais do filme, devido a expectativa gerada nos comentários e críticas. E eu disse que comigo aconteceu o contrário. Eu desconhecia opiniões e fiquei surpreso com o filme, que me agradou. Não é um clássico, nem sei se é um excelente filme diante da crítica. Mas fala da insatisfação com o tempo em que se vive, da esperança de felicidade futura tendo referência "eras de ouro" - tempos passados nos quais não vivemos e acreditamos terem sido melhores que o presente.

Hoje Sandra enviou este texto, da jornalista Leila Ferreira. Tem a ver com o personagem Gil, do filme, que projeta sua felicidade a partir do sonho de se tornar um grande escritor, e que se transporta, dentro da realidade fantástica do autor, literalmente para o passado e encontra ídolos que naqueles tempos viveram.
Com o tempo Gil acaba por caindo na realidade e descobre que há felicidade em caminhar sob chuva, nas ruas de Paris, ao lado de uma mulher bem real.

Então: Ctrl C + Ctrl V - Eis o texto de Leila Ferreira, que por coincidência cita Paris:


A felicidade é a soma das pequenas felicidades. Li essa frase num outdoor em Paris e soube, naquele momento, que meu conceito de felicidade tinha acabado de mudar. Eu já suspeitava que a felicidade com letras maiúsculas não existia, mas dava a ela o benefício da dúvida.

Afinal, desde que nos entendemos por gente aprendemos a sonhar com essa felicidade no superlativo. Mas ali, vendo aquele outdoor estrategicamente colocado no meio do meu caminho (que de certa forma coincidia com o meio da minha trajetória de vida), tive certeza de que a felicidade, ao contrário do que nos ensinaram os contos de fadas e
os filmes de Hollywood, não é um estado mágico e duradouro.

Na vida real, o que existe é uma felicidade homeopática, distribuída em conta-gotas. Um pôr-de-sol aqui, um beijo ali, uma xícara de café recém-coado, um livro que a gente não consegue fechar, um homem que nos faz sonhar, uma amiga que nos faz rir. São situações e momentos que vamos empilhando com o cuidado e a delicadeza que merecem alegrias de pequeno e médio porte e até grandes (ainda que fugazes) alegrias.

'Eu contabilizo tudo de bom que me aparece', sou adepta da felicidade homeopática. 'Se o zíper daquele vestido que eu adoro volta a fechar (ufa!) ou se pego um congestionamento muito menor do que eu esperava, tenho consciência de que são momentos de felicidade e vivo cada segundo.

Alguns crescem esperando a felicidade com maiúsculas e na primeira pessoa do plural: 'Eu me imaginava sempre com um homem lindo do lado, dizendo que me amava e me levando pra lugares mágicos Agora, se descobre que dá pra ser feliz no singular:
'Quando estou na estrada dirigindo e ouvindo as músicas que eu amo, é um momento de pura felicidade. Olho a paisagem, canto, sinto um bem-estar indescritível'.
Uma empresária que conheci recentemente me contou que estava falando e rindo sozinha quando o marido chegou em casa. Assustado, ele perguntou com quem ela estava conversando: 'Comigo mesma', respondeu. 'Adoro conversar com pessoas inteligentes'.

Criada para viver grandes momentos, grandes amores e aquela felicidade dos filmes, a empresária trocou os roteiros fantasiosos por prazeres mais simples e aprendeu duas lições básicas: que podemos viver momentos ótimos mesmo não estando acompanhadas e que não tem sentido esperar até que um fato mágico nos faça felizes.

Esperar para ser feliz, aliás, é um esporte que abandonei há tempos. E faz parte da minha 'dieta de felicidade' o uso moderadíssimo da palavra 'quando'. Aquela história de 'quando eu ganhar na Mega Sena', 'quando eu me casar', 'quando tiver filhos', 'quando meus filhos crescerem', 'quando eu tiver um emprego fabuloso' ou 'quando encontrar um homem que me mereça', tudo isso serve apenas para nos distrair e nos fazer esquecer da felicidade de hoje.

Esperar o príncipe encantado, por exemplo, tem coisa mais sem sentido? Mesmo porque quase sempre os súditos são mais interessantes do que os príncipes; ou você acha que a Camilla Parker-Bowles está mais bem servida do que a Victoria Beckham?

Como tantos já disseram tantas vezes, aproveitem o momento, amigos. E quem for ruim de contas recorra à calculadora para ir somando as pequenas felicidades.

Podem até dizer que nos falta ambição, que essa soma de pequenas alegrias é uma operação matemática muito modesta para os nossos tempos. Que digam.

Melhor ser minimamente feliz várias vezes por dia do que viver eternamente em compasso de espera.

terça-feira, 5 de julho de 2011

Atravessei o Largo da Carioca, o bueiro estava quente e explodiu na minha cara! Ala la Ô...

A gente mal se livrou das balas perdidas e começou a onda dos bueiros perdidos. Em breve o noticiário informará assim:

Rio de Janeiro - Blindados da Marinha tentam conter a intensa troca de bueiros entre as duas facções concessionárias, a Light e a Rioluz. Foram identificados alguns modelos de bueiros de uso exclusivo das forças armadas
O governo do estado afirma que não houve dano significativo após as explosões, mas ficou constatado que existem pelo menos 423 bombeiros moralmente feridos e a imagem do Governador totalmente queimada.
Deprimido, Cabral vai passar 15 dias na mansão de Mangaratiba, longe das ruas “embueiradas” do Rio.
Apesar dos problemas o Governador do Rio já anunciou que a Empresa Delta, que vencerá a licitação para a recuperação das ruas e avenidas danificadas ou sob ameaça de novas explosões de bueiros, já iniciou as obras no submundo, digo, subsolo, e até já constatou que o valor previsto das obras é insuficiente, pois não previam que terão que conter as portas do inferno, que assim como nossos presídios, está lotado, quase jogando cristão pelo ladrão.

Chupa esta manga!
Um abraço!
Mauro Sá

A Praça e a Cachaça

Uma garrafa de cachaça levada para a Praça São Salvador gerou pelo menos duas situações engraçadas, envolvendo Haroldo, o morador de rua que vive ali e adora dar uns goles.

A primeira foi no momento imediato em que Tânia nos oferecia a bebida em pequenas doses. Haroldo se aproximou e ficou ao lado dela. Sua silenciosa expressão dizia tudo. Ele olhava para ela com cara de “me dá aí!”.
Comovida, a “Síndica da Praça” decidiu ceder-lhe um pouco da valiosa cachaça, explicando, contudo:

- Olha Haroldo, presta a atenção: Isto não é quaquer cachaça! Isto é “Nega Fulô”!
 
A expressão de satisfação do Haroldo ao receber a dose da cachaça não escondeu a outra, que lhe diviviu a face. Seu rosto dizia claramente: - “Nega Fulô? Caguei!”.
 
Minutos depois chega à Praça o Alex, “Maluco Problema”. Surgiu fazendo escândalo, gritando de longe. No caminho, caiu sozinho. Levantou e aproximou-se, pedindo cachaça. Aí o Haroldo se adiantou:
 
- Você não! Você não sabe beber! Caiu sozinho e fica dizendo que tropeçou! Tá fora!
 
Inacreditável, hilário e profundo.
Não existe quem, em algum momento, não se sinta superior a um semelhante.
 
Haja cachaça.

Um abraço!
Mauro Sá


Do Cauim Ao Efó, Com Moça Branca, Branquinha
 

Samba-enredo do Salgueiro em 1977
(Geraldo Babão e Renato de Verdade)

A moça branca é amiga
Não há quem diga que não tenha valor
Só por ser tão boa
Vive assim à toa, sem querer se impor
Ela dá coragem, dá vantagem
Dá inspiração
Não admite
Falta de apetite numa refeição (bis)
No Salgueiro tem

Tem gente que bebe pra esquecer ê ê
Tem gente que sabe beber e comer ê, ê, ê, ê (bis)

Churrasco no Sul
Buchada no Norte
Tutu à milanesa
Com pinga da forte
Comendo Efó
Jerimum com jabá
Feijoada, peixada
Ou o bom vatapá
Tem que ter cachaça

Ela não pode faltar...
... E depois quindim (bis)
E doce de elite com amendoim
A moça branca



Essa negra fulô
(Jorge de Lima)

Ora, se deu que chegou
(isso já faz muito tempo)
no bangüê dum meu avô
uma negra bonitinha,
chamada negra Fulô.

Essa negra Fulô!
Essa negra Fulô!

Ó Fulô! Ó Fulô!
(Era a fala da Sinhá)
— Vai forrar a minha cama
pentear os meus cabelos,
vem ajudar a tirar
a minha roupa, Fulô!

Essa negra Fulô!

Essa negrinha Fulô!
ficou logo pra mucama
pra vigiar a Sinhá,
pra engomar pro Sinhô!

Essa negra Fulô!
Essa negra Fulô!

Ó Fulô! Ó Fulô!
(Era a fala da Sinhá)
vem me ajudar, ó Fulô,
vem abanar o meu corpo
que eu estou suada, Fulô!
vem coçar minha coceira,
vem me catar cafuné,
vem balançar minha rede,
vem me contar uma história,
que eu estou com sono, Fulô!

Essa negra Fulô!

"Era um dia uma princesa
que vivia num castelo
que possuía um vestido
com os peixinhos do mar.
Entrou na perna dum pato
saiu na perna dum pinto
o Rei-Sinhô me mandou
que vos contasse mais cinco".

Essa negra Fulô!
Essa negra Fulô!

Ó Fulô! Ó Fulô!
Vai botar para dormir
esses meninos, Fulô!
"minha mãe me penteou
minha madrasta me enterrou
pelos figos da figueira
que o Sabiá beliscou".

Essa negra Fulô!
Essa negra Fulô!

Ó Fulô! Ó Fulô!
(Era a fala da Sinhá
Chamando a negra Fulô!)
Cadê meu frasco de cheiro
Que teu Sinhô me mandou?
— Ah! Foi você que roubou!
Ah! Foi você que roubou!

Essa negra Fulô!
Essa negra Fulô!

O Sinhô foi ver a negra
levar couro do feitor.
A negra tirou a roupa,
O Sinhô disse: Fulô!
(A vista se escureceu
que nem a negra Fulô).

Essa negra Fulô!
Essa negra Fulô!

Ó Fulô! Ó Fulô!
Cadê meu lenço de rendas,
Cadê meu cinto, meu broche,
Cadê o meu terço de ouro
que teu Sinhô me mandou?
Ah! foi você que roubou!
Ah! foi você que roubou!

Essa negra Fulô!
Essa negra Fulô!

O Sinhô foi açoitar
sozinho a negra Fulô.
A negra tirou a saia
e tirou o cabeção,
de dentro dêle pulou
nuinha a negra Fulô.

Essa negra Fulô!
Essa negra Fulô!

Ó Fulô! Ó Fulô!
Cadê, cadê teu Sinhô
que Nosso Senhor me mandou?
Ah! Foi você que roubou,
foi você, negra fulô?

Essa negra Fulô!