segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

A gente fica a lembrar, vendo o céu clarear, na esperança de vê-los...

- Mauro Casemiro!
- Diga Borjão!
- Avança!

E eu atendia o chamado, indo até a sala onde trabalhava o auxiliar da chefia do CMA-GL. Quase sempre um documento para assinar, uma informação a ser dada ou, quando eu mais gostava, uma convocação para ajudar o Borges a aprontar alguma brincadeira, uma ou outra zoação.

Foi assim desde o primeiro dia, quando o conheci ainda na Rodoviária Novo Rio, indo para São José dos Campos fazer o curso de formação para operar estações meteorológicas. Ele já trabalhava com vários amigos e com meu irmão, na antiga TASA, o que tornou fácil a conversa. Aliás, nada mais fácil que bater um bom papo com ele.

Chegamos a São José e éramos os cariocas da turma. Tinha gente de várias cidades do Brasil: Macapá, Vitória, Barra do Garças, Caravelas, Uberaba, Uberlândia. Nós dois fazíamos a festa. A batucada, no alojamento, era marcada na mesa de estudos. Pranchetas eram tamborins, copos de vidro viravam agogôs. Os sambas do Salgueiro atraiam os outros colegas e as horas destinadas aos estudos iam para o espaço.

Fim do curso o Borges voltou para o Rio e eu fui trabalhar no aeroporto de Guarulhos. Quando voltei para o Rio, ela ainda trabalhava no Galeão. "Demorô!"

Foram anos de bons papos, de brincadeiras, de churrascos e eventos promovidos por ele. Compadre do Martinho da Vila, Borges se aposentou cheio de saúde e foi curtir seu samba e o seu Mengão por aí, deixando um silêncio estranho no meu setor de trabalho.

O tempo passou, sua saúde foi enfraquecendo. Teve problemas cardiovasculares. Foi ficando cada vez mais quieto. Mesmo assim viu a Furiosa Bateria arrepiar ano passado na vitória da Academia do Samba. Pra completar, nosso Flamengo voltou a ganhar o Brasileirão. Comemorou na sua poltrona e ali se manteve, quando, na semana passada, ouviu:

- Borjão!
- Diga Bom Deus!
- Avança!

E lá se foi o Borges ser feliz ao lado do Criador.

Se encontrar com meu pai só vai dar Salgueiro lá no céu.

Quando chegar a minha hora eu juro que levo a minha cuíca. Vai ser uma festa!

4 comentários:

  1. É assim que eu também me lembro do Borges, só alegria. Esperava revê-lo ainda uma vez.Saudades.

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  2. Pois é, minha querida! Fiquei também com saudades do nosso amigo Borges. A canção tem razão quando diz:
    "...Deixemos de coisas e cuidemos da vida
    pois senão chega a morte ou coisa parecida
    e nos arrasta moço sem ter visto a vida..."

    Eu ainda sou bem moço pra tanta tristeza, Lau!
    Quero viver a alegria!

    Um beijo!

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  3. Apesar do pouco tempo de convívio com ele, lembro claramente de suas brincadeiras, me chamando de "arroz com couve" ou então de "Romarinha", era uma grande figura!!!
    Que ele descanse em paz...

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  4. Pois é! Imagina a decepção quando ele soube que eu estava na bateria da Imperatriz! Realmente grande figura.

    Beijos, minha querida!

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