quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

As Cinco Pessoas Que Você Encontra No Céu

O entra e sai de pessoas na minha vida fizeram dela uma espécie de Casa da Mãe Joana. Uma infindável sucessão de Encontros e Despedidas:

“... Todos os dias é um vai-e-vem
A vida se repete na estação
Tem gente que chega prá ficar
Tem gente que vai
Prá nunca mais...

Tem gente que vem e quer voltar
Tem gente que vai, quer ficar
Tem gente que veio só olhar
Tem gente a sorrir e a chorar
E assim chegar e partir...
São só dois lados
Da mesma viagem...”

Algumas foram tão intensas, tão significativas, de tamanha participação em alguns períodos da minha vida que me deram a impressão de que ficariam comigo até meus últimos dias. Grande ilusão: “Foram como vieram, como o vento passaram” – Como diria Candeia.

Mas existem pessoas que permanecem, ignorando tempo e distância. Que mistério é este? De onde vem tal poder seletivo, capaz de manter uns e afastar outros?

Muitos afastamentos foram justificados pela “sequência natural dos acontecimentos”: casamentos, mudanças inesperadas, excesso de responsabilidades e de ocupações, falta de tempo. Novas prioridades.

Quando a Internet surgiu, eu acreditei que através dela eu traria as pessoas que me foram importantes para o meu presente. Com algumas fiz contato, iniciei trocas de e-mails, telefonemas.

Sinal Fechado, de Paulinho da Viola, Perfeita para retratar:

“Olá, como vai?
Eu vou indo e você, tudo bem?
Tudo bem eu vou indo correndo
Pegar meu lugar no futuro, e você?
Tudo bem, eu vou indo em busca
De um sono tranquilo, quem sabe...
Quanto tempo... Pois é...
Quanto tempo...
Me perdoe a pressa
É a alma dos nossos negócios
Oh! Não tem de quê
Eu também só ando a cem
Quando é que você telefona?
Precisamos nos ver por aí
Pra semana, prometo talvez nos vejamos
Quem sabe?
Quanto tempo... Pois é... (pois é... quanto tempo...)
Tanta coisa que eu tinha a dizer
Mas eu sumi na poeira das ruas
Eu também tenho algo a dizer
Mas me foge a lembrança
Por favor, telefone, eu preciso
Beber alguma coisa, rapidamente
Pra semana
O sinal...
Eu espero você
Vai abrir...
Por favor, não esqueça,
Adeus...”

.Acredito que as pessoas que ficam não são as que foram importantes, nem as com quem vivemos momentos inesquecíveis. Não as que nos prestaram caridade, que nos apoiaram em algum momento difícil.

Estas ficam nas nossas memórias que acionam as lembranças e estas muitas vezes nos emocionam. Mas de repente tudo passa. É o esquecer.

As pessoas que ficam são aquelas que desde o primeiro encontro, mesmo inconsciente, acenderam uma chama no coração do outro. E preservaram esta chama em lugar seguro, mesmo que muitas vezes oculto, muitas vezes silencioso.

Estas pessoas, quando se reencontram, sentem e reconhecem imediatamente esta chama que queima espaço e tempo, e mostra claramente que nada mudou.

Hoje aconteceu uma coisa curiosa. Retornei, após anos, ao SESI Clube para me exercitar com a natação.

Ainda na portaria, enquanto me identificava para poder ter acesso ao clube, percebi que uma pessoa vinha, de dentro do clube, na minha direção. Era a Mônica, professora de Educação Física do SESI.

Fiquei muito surpreso quando a vi e não tive outra atitude senão abraçá-la eufórico, com muito carinho.

Minha filha, que me acompanhava, demonstrou surpresa com a cena, visto que desconhecia aquela pessoa que me provocou tamanha euforia ao reencontrar. Procurei uma explicação, uma forma de apresentá-las. As palavras mais sinceras e precisas que me surgiram foram: -“Filha, este é um dos anjos da minha vida.”

Em 2001 eu estava sofrendo com uma grave crise na coluna lombar. Ao procurar o neurocirurgião Eduardo Barreto fui informado por ele que meu caso era cirúrgico e para realizar a cirurgia eu deveria emagrecer, pois com o peso que eu estava a mesma se tornaria inviável. – Você tem duas opções: – disse ele – emagrecer ou emagrecer. E depois fazer a cirurgia.
Sugeriu dieta rigorosa e exercício físico. E foi bem claro ao afirmar que o único exercício que eu poderia fazer seria natação.

Procurei o lugar com piscina mais próximo da minha casa: O SESI Clube.
Estava havendo uma palestra sobre um evento que iria iniciar em breve, chamado SPA SAÚDE: Um mês de exercícios físicos diversos, acompanhados por médicos e nutricionistas.
A palestrante era a Mônica.

Após a palestra ela se dirigiu às pessoas para saber a quem interessaria participar do evento. Eu disse que seria muito interessante, mas não seria possível devido ao problema na coluna. Inconformada ela pediu para ler o laudo da minha ressonância magnética e pegou o número do telefone do neurocirurgião.

No dia seguinte ela entrou em contato comigo dizendo que havia demonstrado e convencido o médico de que eu poderia realizar diversos tipos de exercícios, desde que cuidadosamente orientado por um profissional. Ela se responsabilizou por me conduzir nos exercícios.

Participei com sucesso do evento. Ela me acompanhou e orientou em cada exercício que eu fazia. No final daquele mês eu pesava oito quilos a menos. Corria, nadava, fazia ginástica, hidroginástica e musculação. Desde então meus problemas com a coluna diminuíram muito, mesmo após voltar a engordar.

Eu não sabia que gostava tanto da Mônica. O encontro foi uma surpresa e uma descoberta. Não a havia esquecido, mas poucas vezes ela me vinha à lembrança. Havia uma chama que eu desconhecia no meu coração que pertencia a ela.

Se você me perguntasse, até hoje, quais as cinco pessoas que eu encontraria no céu, certamente eu teria a relação das pessoas na ponta da língua. Mas depois do reencontro de hoje vi que é possível que ocorra algo semelhante ao que aconteceu no livro escrito por Mitch Albom, que serviu como título desta postagem.

Eu quero mais. Desejo mesmo é encontrá-las, cada vez mais vivo, aqui na Terra. Que sejam mais que cinco. Que as feridas e dores sejam curadas. Que haja, também, a oportunidade de agradecer e reconhecer a quem um dia me trouxe benefícios. Que cada abraço, assim como o de hoje, me aproxime do paraiso. E que tenha o poder de a ele conduzir cada uma dessas pessoas. Assim na Terra como no céu.

Um comentário:

  1. Isso é uma verdade absoluta.
    A gente é capaz de enumerar as pessoas que achamos que vamos encontrar no céu, e na verdade elas são muito mais do que somos capazes de lembrar...

    Beijos!

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