quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Para abraçar meu irmão e beijar minha menina na rua, é que se fez o meu lábio, o seu braço e a minha voz


Depois de dias sem encontrar uma grande amiga, sentindo saudades, peguei o telefone e... Whatsapp! Mensagens de texto:

 - Posso ligar pra você?

- Lóóóóógico!

Repetindo: Eu estava com saudades, há dias sem encontrar... minha AMIGA! Amigona! Dessas que a gente vira a noite rindo de barriga, falando bobagens, falando de sentimentos e da alma. A amiga que a gente deve procurar quando está triste, pra quem a gente deve correr para o abraço quando está alegre. Caramba, pra quê o Whatsapp?
Encontrei uma séries de justificativas: - Ela poderia estar em um momento importante de trabalho, ou poderia estar no teatro, cinema, médico, namorando... Não queria atrapalhar...

Por trás de tudo isso a  justificativa que melhor parece explicar a mensagem de texto: O hábito contemporâneo do agendamento.

Fato: Eu enviei uma solicitação para agendar uma ligação. Caso não pudesse ser encaixado imediatamente, aguardaria resposta indicando data e hora (Ela, minha amiga dos porres e das gargalhadas. Minha amiga do coração).
Por que agendar? O “lógico” de sua resposta, com todos os onomatopeicos “ós”, indicou-me o quanto tal agendamento era absurdo, trouxe na memória momentos nos quais mensagens de texto substituem o calor da voz, assim com outros em que formalidades congelam a sinceridade e o abraço.

O padrão de aviso de demissão atualmente utilizado nas empresas:
"- Senhor funcionário, convocamos esta reunião para informar que a partir de hoje não é mais do interesse da empresa mantê-lo como nosso colaborador.” - Já foi usado comigo, com algumas adaptações, para o término de um relacionamento. A sensação de estar sendo demitido foi, acreditem, o pé na bunda mais eficiente que já recebi! Saí sem aviso prévio pra nunca mais voltar.
Houve com outra amiga (espero que assim ainda me considere), carência de conversa importante que nunca aconteceu. Não por falta de tentativas, via SMS, de marcar o papo. Tal conversa foi abortada definitivamente após minha derradeira e ousada ligação via celular, sem agendamento, no início de uma tarde de domingo, quando ouvi do outro lado da linha uma voz destruidora, num sussurro com desejo de matar:
- Eu não acredito que você me acordou!

Há outros casos semelhantes, mas o que desejo é definir minha estratégia, meu movimento neste jogo. Assim, pra encurtar conversa tão longa e não previamente combinada, cito o que acabei de ler de Pablo Neruda:

“Se sou amado
quanto mais amado
correspondo ao amor.
Se sou esquecido,
devo esquecer também.
Pois amor é como espelho:
- tem que ter reflexo.”

Então deixarei sempre ligado meu celular. Dispenso agendamento, não importa a hora. Precisou, desejou, sentiu saudades, me amou ou quis me xingar, digite meu número e a gente se fala. Se por algum motivo eu não atender na hora, pode ter certeza do retorno. É como espelho.
Obrigado Neruda!

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