terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Não se afobe não que nada é pra já

Minha grande amiga Edite Maltez, há anos vivendo na França e com pouco contato com o nosso Português, comentou um link que coloquei no Facebook - O vídeo de Chico Buarque cantando "Futuros Amantes" - e disse que não entendeu nada da letra.
O interessante é que a letra da música ilustra em suas passagens como o desuso de uma língua pode torná-la morta, por esquecimento.
Minha interpretação da letra foi a seguinte:

Futuros Amantes

(Chico Buarque)


Não se afobe, não
Que nada é pra já
O amor não tem pressa
Ele pode esperar em silêncio
Num fundo de armário
Na posta-restante
Milênios, milênios
No ar
E quem sabe, então
O Rio será
Alguma cidade submersa
Os escafandristas virão
Explorar sua casa
Seu quarto, suas coisas
Sua alma, desvãos
Sábios em vão
Tentarão decifrar
O eco de antigas palavras
Fragmentos de cartas, poemas
Mentiras, retratos
Vestígios de estranha civilização
Não se afobe, não
Que nada é pra já
Amores serão sempre amáveis
Futuros amantes, quiçá
Se amarão sem saber
Com o amor que eu um dia
Deixei pra você


 Imagino um homem falando para a sua amada que seu amor não carece de pressa, pois pode aguardar ser vivido.
O interessante que ele fala do amor como uma energia que independe de sua própria existência, pois o mesmo pode sobreviver e esperar “milênios, milênios no ar”.
Aí começa a imaginar uma paisagem futurista, na qual a cidade do Rio de Janeiro poderá estar submersa, e mergulhadores irão explorá-la, e na casa da  mulher amada irão encontrar “as cartas, o quarto, as coisas”, a sua própria alma e esconderijos (lugares secretos ou pouco usados – desvãos).
Por terem se passado milênios, a língua dos textos escritos já será uma língua morta que nem os sábios saberão decifrar "os vestígios de tão estranha e antiga civilização".
Termina confirmando que seu amor, assim como outros, permanecerá “no ar” (pois amores serão sempre “amáveis”, quer dizer, permanecerão com a capacidade de serem vividos) e o amor que ele hoje dedica à sua amada, que pela vagarosidade dela em aceitá-lo (ou por desdém) talvez nunca seja por ela correspondido, irá se manter vivo e perdido, até que futuros amantes, mesmo sem saber, acabem por encontrá-lo e finalmente vivê-lo.


E agora, querida Edite, clareou?
A nossa amizade sobreviverá à nossa existência e futuros amigos a viverão.
Vão se dar muito bem.

2 comentários:

  1. Agora que você tão bem explicou os versos do nosso poeta, gostaria que você me explicasse o que quer dizer: "açaí, guardiã, zoom de besouro, imã, branca é a tez da manhã" Sandra

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  2. Fácil Sandra. Quer dizer: pequena fruta do norte, guarda municipal feminina, barulho produzido por escaravelhos, que são insetos pertencentes à ordem Coleoptera, objeto com carga magnética capaz de atrair metais, cor alva é a pele do período entre o amanhecer e o meio-dia.

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