Uma semana entrincheirado no meu apartamento. Saí de carro na terça-feira para levar minha filha ao colégio e depois fui trabalhar. No retorno à nossa casa, no transporte escolar, ela me telefonou, assustada, dizendo que estava tudo bem. Não entendi nada até ela descrever o que vira pelo caminho, ao passar pelo bairro da Penha. Primeiro viu um “Caveirão” do poderoso Bope destruído. Metros depois um grupo enorme de policiais armados e mais quatro veículos semelhantes ao danificado, só que em perfeitas condições. O Bope se preparava para invadir a Vila Cruzeiro.
Meus filhos pararam de ir aos seus colégios. Eu fui trabalhar no turno da noite da minha escala de serviço. Não ousei sair de carro. Peguei a condução fretada pela minha empresa. Quinta-feira em casa. Vendo helicópteros e ouvindo sirenes. Na TV assisti o “show da guerra”, pela Globo e Globo News.
Ligaram da Beija-Flor: Não houve ensaio, por motivo de segurança, naquela noite.
Sexta-feira eu arrisquei uma feira pela manhã. Sobrevivi.
Sábado eu já não agüentava mais. Decidi ir a todos os lugares que sempre vou: Fui à minha escola esotérica e depois à Praça São Salvador. Nada como fechar o dia entre gente feliz e música gostosa.
Bebi cerveja. Dei um tempo, deixei o efeito passar com as horas e muita água. Saí de lá uma da manhã. Voltei dirigindo pelo Aterro do Flamengo e Avenida Brasil. Passei por mais de dez carros da polícia, circulando em todas as direções, em missões de patrulhamento. Cheguei tranqüilo em casa, meia hora depois.
Domingo fui a um casamento no início da manhã, deu um pulo no chorinho, lá na praça. Bati um pouco de papo com a turma e voltei para casa. Preparando-me para a rotina da semana percebi que as coisas ainda não estavam tão normais assim. Ainda não tenho coragem de permitir a ida de meus filhos à escola. Temo passar pela Penha, no caminho para o trabalho.
O Rio não ganhou guerra nenhuma. Pode estar ganhando uma batalha, mas nem prendendo ou matando todos os bandidos descamisados, de chinelos, motos e fuzis, vamos eliminar o crime. Pode surgir uma confortável, conveniente e natalina sensação de paz. Mas temos as milícias, os financiadores e importadores de armas e drogas. Temos comunidades ocupadas pelas Unidades de Polícia Pacificadora, que permitem que lá aconteça, “pacificamente”, a continuação da venda de drogas.
Canta Nelson Sargento:
“Nosso amor é tão bonito! Ela finge que me ama e eu finjo que acredito.”
E as autoridades do Rio, apoiado pelas mídias, vão cantar:
“Nosso povo do Rio é tão bonito! Apóia a Copa e Olimpíadas e eu finjo que pacifico!”
Êta papo pra rolar!
Fala Casimiro! Adoro seu Blog! Parabéns! Você tem muito talento, genial!
ResponderExcluirForte abraço do amigo Garça!
Oops! Minha admiração é sincera, nem reparei no título "Falso amor sincero". SINCERAMENTE, parabéns!
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