segunda-feira, 11 de abril de 2011

Gosto do Pessoa na pessoa, da rosa no Rosa. E sei que a poesia está para a prosa, assim como o amor está para a amizade. E quem há de negar que esta lhe é superior?

Vale visitar a exposição "FERNANDO PESSOA, PLURAL COMO O UNIVERSO", no Centro Cultural Correios do Rio de Janeiro.
Fernando Pessoa é um daqueles poetas que sempre tem um texto, uma poesia que explica as coisas que me chegam à ponta da língua mas não encontro as palavras, a linha lógica das idéias para expressá-las. Ontem, na exposição, mais um destes caminhos se desvendou por suas palavras:

Nunca amamos alguém. Amamos, tão-somente, a idéia que fazemos de alguém.

É um conceito nosso – em suma, é a nós mesmos – que amamos.


Isto é verdade em toda a escala do amor. No amor sexual buscamos um prazer nosso dado por intermédio de um corpo estranho. No amor diferente do sexual, buscamos um prazer nosso dado por intermédio de uma idéia nossa. O onanista (que ou quem pratica o onanismo; masturbador) é abjeto, mas, em exata verdade, o onanista é a perfeita expressão lógica do amoroso. É o único que não disfarça nem se engana.

As relações entre uma alma e outra, através de coisas tão incertas e divergentes como as palavras comuns e os gestos que se empreendem, são matérias de estranha complexidade. No próprio ato em que nos conhecemos, nos desconhecemos. Dizem os dois “amo-te” ou pensam-no e sentem-no por troca, e cada um quer dizer uma idéia diferente, uma vida diferente, até, porventura, uma cor ou um aroma diferente, na soma abstrata de impressões que constitui a atividade da alma.

Estou hoje lúcido como se não existisse. Meu pensamento é em claro como um esqueleto, sem os trapos carnais da ilusão de exprimir. E estas considerações, que formo e abandono, não nasceram de coisa alguma – de coisa alguma, pelo menos, que me esteja na platéia da consciência.

Talvez aquela desilusão do caixeiro de praça com a rapariga que tinha, talvez qualquer frase lida nos casos amorosos que os jornais transcrevem dos estrangeiros, talvez até uma vaga náusea que trago comigo e me não expeli fisicamente…

Disse mal o escoliasta de Virgílio. É de compreender que, sobretudo nos cansamos. Viver é não pensar.

Fernando Pessoa – Livro do Desassossego

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