A letra da música O
que será, composta por Chico Buarque em três versões para o filme Dona Flor e seus dois maridos, de Bruno
Barreto, é, entre todos os textos que já li, a mais perfeita descrição da
paixão que conheço.
Em à flor da pele, a versão que trata do desejo emocional, mais profundo e dilacerador, direto no coração. Descreve não a ciência ou a consciência, avessas à paixão. Ao contrário, através de perguntas (o que será...?) relaciona todos os efeitos dentro de tantas dúvidas e interrogações, que acompanham todo o sentimento.
Assim, tenta entender:
O que será que me dá que me bole por dentro? Que brota à flor da pele, e que me sobe às faces e me faz corar? E que me salta aos olhos a me atraiçoar? E que me aperta o peito e me faz confessar o que não tem mais jeito de dissimular e que nem é direito ninguém recusar? E que me faz mendigo, me faz implorar? O que não tem medida, nem nunca terá. O que não tem remédio, nem nunca terá. O que não tem receita.
Em à flor da pele, a versão que trata do desejo emocional, mais profundo e dilacerador, direto no coração. Descreve não a ciência ou a consciência, avessas à paixão. Ao contrário, através de perguntas (o que será...?) relaciona todos os efeitos dentro de tantas dúvidas e interrogações, que acompanham todo o sentimento.
Assim, tenta entender:
O que será que me dá que me bole por dentro? Que brota à flor da pele, e que me sobe às faces e me faz corar? E que me salta aos olhos a me atraiçoar? E que me aperta o peito e me faz confessar o que não tem mais jeito de dissimular e que nem é direito ninguém recusar? E que me faz mendigo, me faz implorar? O que não tem medida, nem nunca terá. O que não tem remédio, nem nunca terá. O que não tem receita.
O que será que dá dentro da gente que não devia? Que
desacata a gente, que é revelia? Que é feito uma aguardente que não sacia? Que
é feito estar doente de uma folia? Que nem dez mandamentos vão conciliar? Nem
todos os ungüentos vão aliviar? Nem todos os quebrantos, toda alquimia, que nem
todos os santos, será que será? O que não tem descanso, nem nunca terá. O que
não tem cansaço, nem nunca terá. O que não tem limite.
O que será que me dá que me queima por dentro? Que me
perturba o sono? Que todos os tremores me vêm agitar? Que todos os ardores me
vêm atiçar? Que todos os suores me vêm encharcar? Que todos os meus nervos
estão a rogar?
O que será que será que todos os meus órgãos estão a clamar? E uma aflição medonha me faz implorar?
O que não tem vergonha, nem nunca terá. O que não tem governo, nem nunca terá. O que não tem juízo.
O que será que será que todos os meus órgãos estão a clamar? E uma aflição medonha me faz implorar?
O que não tem vergonha, nem nunca terá. O que não tem governo, nem nunca terá. O que não tem juízo.
Em outro nível o desejo carnal, do sexo, forte e poderoso, pulsando
em todos os corpos, desde os mais toscos até os mais santos, é tratado na
versão à flor da terra:
O que será que andam suspirando pelas alcovas? Que andam sussurrando em versos e trovas? Que andam combinando no breu das tocas? Que anda nas cabeças, que anda nas bocas? Que andam acendendo velas nos becos? Que estão falando alto pelos botecos? Que gritam nos mercados? Que com certeza está na natureza, será que será? O que não tem certeza, nem nunca terá. O que não tem conserto, nem nunca terá. O que não tem tamanho.
O que será que andam suspirando pelas alcovas? Que andam sussurrando em versos e trovas? Que andam combinando no breu das tocas? Que anda nas cabeças, que anda nas bocas? Que andam acendendo velas nos becos? Que estão falando alto pelos botecos? Que gritam nos mercados? Que com certeza está na natureza, será que será? O que não tem certeza, nem nunca terá. O que não tem conserto, nem nunca terá. O que não tem tamanho.
O que será que vive nas ideias desses amantes? Que cantam os
poetas mais delirantes? Que juram os profetas embriagados? Que está na romaria
dos mutilados? Que está na fantasia dos infelizes? Que está no dia a dia das
meretrizes, no plano dos bandidos, dos desvalidos?
...Em todos os sentidos (Significados? Sentidos físicos?
Cabem os dois.)?
Será que será o que não tem decência, nem nunca terá? O que não tem censura, nem nunca terá? O que não faz sentido?
Será que será o que não tem decência, nem nunca terá? O que não tem censura, nem nunca terá? O que não faz sentido?
O que será que todos os avisos não vão evitar? Porque todos
os risos vão desafiar? Porque todos os sinos irão repicar? Porque todos os
hinos irão consagrar? E todos os meninos vão desembestar? E todos os destinos
irão se encontrar? E mesmo o Padre Eterno que nunca foi lá olhando aquele
inferno, vai abençoar?
O que não tem governo, nem nunca terá. O que não tem
vergonha, nem nunca terá. O que não tem juízo.
E ainda a versão especial do amor entre Dona Flor e Vadinho, lindamente cantada por Simone, adequada aos dois personagens, na qual Dona flor inicia questionando o que faz com que Vadinho seja como é (O que será que lhe dá?). Depois questiona, pensando na paixão de um modo geral, conclui, como em todas as versões, que seja o que for, não tem e nem nunca terá governo, vergonha e juízo:
Tema de Abertura do filme Dona Flor e Seus Dois Maridos
E todos os meus nervos estão a rogar
E ainda a versão especial do amor entre Dona Flor e Vadinho, lindamente cantada por Simone, adequada aos dois personagens, na qual Dona flor inicia questionando o que faz com que Vadinho seja como é (O que será que lhe dá?). Depois questiona, pensando na paixão de um modo geral, conclui, como em todas as versões, que seja o que for, não tem e nem nunca terá governo, vergonha e juízo:
Tema de Abertura do filme Dona Flor e Seus Dois Maridos
E todos os meus nervos estão a rogar
E todos os meus órgãos estão a clamar
E uma aflição medonha me faz implorar
O que não tem vergonha, nem nunca terá
O que não tem governo, nem nunca terá
O que não tem juízo
O que será que lhe dá
O que será meu nego, será que lhe dá
Que não lhe dá sossego, será que lhe dá
Será que o meu chamego quer me judiar
Será que isso são horas dele vadiar
Será que passa fora o resto do dia
Será que foi-se embora em má companhia
Será que essa criança quer me agoniar
Será que não se cansa de desafiar
O que não tem descanso, nem nunca terá
O que não tem cansaço, nem nunca terá
O que não tem limite
O que será que será
Que dá dentro da gente, que não devia
Que desacata a gente, que é revelia
Que é feito uma aguardente que não sacia
Que é feito estar doente de uma folia
Que nem dez mandamentos vão conciliar
Nem todos os unguentos vão aliviar
Nem todos os quebrantos, toda alquimia
E nem todos os santos, será que será
O que não tem governo, nem nunca terá
O que não tem vergonha, nem nunca terá
O que não tem juízo.
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