domingo, 25 de maio de 2014

Eu sei Que Embaixo Desta Neve Mora Um Coração



Meu tempo é curto e meu mundo é hoje.
 Movo-me, contudo, sem pressa, pois sei que não há objetivo a ser alcançado senão a plena sensação de viver e registrar, em todas as dimensões do meu ser, cada experiência vivida como aprendizado para o meu crescimento.
Sem perder os movimentos por medos de possíveis dores, aprendi que a corrente da vida torna-se prazerosa a quem nela ousa se soltar.
Não espero nada. Criar expectativas significa tentar aprisionar a vida dentro de uma ideia, de um desejo que construímos para não sermos surpreendidos pelo novo, que pode não nos agradar.
Ao acordar, apenas abro os olhos e percebo a luz sobre as coisas e pessoas as quais ela ilumina, como se o Sol quisesse indicá-las para mim, como faz neste momento, iluminado surpreendentemente um belo brilhante que partindo a luz explode em sete cores, revelando então os sete mil amores...


O TEMPO E AS JABUTICABAS
(Texto de Rubem Alves)



Contei meus anos e descobri que terei menos tempo para viver daqui para frente do que já vivi até agora. Sinto-me como aquela menina que ganhou uma bacia de jabuticabas. As primeiras, ela chupou displicente, mas percebendo que faltam poucas, rói o caroço.
Já não tenho tempo para lidar com mediocridades.
Não quero estar em reuniões onde desfilam egos inflados.
Não tolero gabolices. Inquieto-me com invejosos tentando destruir quem eles admiram, cobiçando seus lugares, talentos e sorte.
Já não tenho tempo para projetos megalomaníacos.
Não participarei de conferências que estabelecem prazos fixos para reverter a miséria do mundo. Não quero que me convidem para eventos de um fim de semana com a proposta de abalar o milênio.
Já não tenho tempo para reuniões intermináveis para discutir estatutos, normas, procedimentos e regimentos internos.
Já não tenho tempo para administrar melindres de pessoas, que apesar da idade cronológica, são imaturos.
Não quero ver os ponteiros do relógio avançando em reuniões de 'confrontação', onde 'tiramos fatos a limpo'.
Detesto fazer acareação de desafetos que brigaram pelo majestoso cargo de secretário geral do coral.
Lembrei-me agora de Mário de Andrade que afirmou: 'as pessoas não debatem conteúdos, apenas os rótulos'.
Meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos, quero a essência, minha alma tem pressa...
Sem muitas jabuticabas na bacia, quero viver ao lado de gente humana, muito humana; que sabe rir de seus tropeços, não se encanta com triunfos, não se considera eleita antes da hora, não foge de sua mortalidade, defende a dignidade dos marginalizados,
e deseja tão somente andar ao lado do que é justo.
Caminhar perto de coisas e pessoas de verdade, desfrutar desse amor absolutamente sem fraudes, nunca será perda de tempo.'
O essencial faz a vida valer a pena.

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