Depois de uma pausa de mais de um ano, esta semana eu
voltei a escrever e a publicar no Batuque Meteórico. Fiquei
surpreso, no dia seguinte, quando um amigo do trabalho me agradeceu.
É que ele havia reclamado, na semana anterior, acusando-me por eu
ter abandonado meu blogue.
Aquilo foi uma
provocação.
Não era verdade. Eu sabia que, no momento em que as minhas palavras pedissem para serem expressas de forma escrita, eu voltaria a escrever. E assim aconteceu: Um retorno tímido, como os movimentos de quem se espreguiça após uma longa noite.
Não era verdade. Eu sabia que, no momento em que as minhas palavras pedissem para serem expressas de forma escrita, eu voltaria a escrever. E assim aconteceu: Um retorno tímido, como os movimentos de quem se espreguiça após uma longa noite.
Tal ausência
de textos escritos não aconteceu, contudo, por motivo que pudesse
causar preocupação a quem por eles, e talvez por mim, reserva
alguma simpatia. É que eu estava navegando em uma onda de dias
felizes na minha vida. Eu vivia, como cantava Gal, um “Barato Total”:
“Quando
a gente tá contente (...)
(...)Tudo que você disser deve fazer bem
Nada que você comer deve fazer mal
Quando a gente tá contente
Nem pensar que está contente
Nem pensar que está contente a gente quer
Nem pensar a gente quer, a gente quer
A gente quer, a gente quer é viver”
(...)Tudo que você disser deve fazer bem
Nada que você comer deve fazer mal
Quando a gente tá contente
Nem pensar que está contente
Nem pensar que está contente a gente quer
Nem pensar a gente quer, a gente quer
A gente quer, a gente quer é viver”
Sem nada me
fazer mal, curti minha adorável onda, experimentando sensações e
sentimentos nunca tão límpidos, claros e leves. Estive feliz desde
antes do começo, nos primeiros olhares, nos estudados movimentos:
“Vivia a te buscar
Porque pensando em ti
Corria contra o tempo
Eu descartava os dias
Em que não te vi
Como de um filme
A ação que não valeu
Rodava as horas pra trás
Roubava um pouquinho
E ajeitava o meu caminho
Pra encostar no teu
Subia na
montanha
Não como anda um corpo
Mas um sentimento
Eu surpreendia o sol
Antes do sol raiar
Saltava as noites
Sem me refazer...”
Não como anda um corpo
Mas um sentimento
Eu surpreendia o sol
Antes do sol raiar
Saltava as noites
Sem me refazer...”
Então vieram os dias, firmando sua
característica de constante mutação, nos quais nada se mantém
como está. Nem parado, nem em movimento, nem bom, nem ruim, nem
alegre, nem triste. Sempre oscilando, sempre mudando, veloz, veloz.
São dias que ensinam que nunca se é, apenas se está.
A vantagem, nestes dias, é que nem
mesmo a morte é definitiva. E, sobretudo, ela dura pouco. Lembro-me de
uma amiga que, resumindo sua recente desilusão, disse:
- Mauro, eu morri aqueles três
dias.
Reparem que ela não disse que esteve
morta. - “Morri aqueles três dias”. - Ela se viu morrendo a todo
momento e imediatamente após percebendo-se viva e assim, e também por
isso, morrendo novamente, sem parar de morrer e permanecer viva, após
cada sentimento gerado por cada pensamento a cada segundo.
Degustação da morte. A estranha
contradição de pensar (logo, cartesianamente, existir), estar
morto.
Como são devastadoras as dores
emocionais!
Mas as músicas sugerem que deixemos de
coisas e cuidemos da vida, senão chega (realmente) a morte ou coisa
parecida, e que a vida é cigana.
Aí a gente fica só com a gente mesmo,
sem abraço, sem o perfume.
É momento de deixar o que passou
guardado dentro da gente e avaliar o que foi feito de nós e sabermos
o que somos. Reparar as velas no cais e seguir, atento, alternando
dias bons e ruins, vivendo e aprendendo. E escrevendo. Eis, portanto,
o que me trouxe aqui.
"O meu
coração ateu quase acreditou
Na tua mão
que não passou de um leve adeus
Breve
pássaro pousado em minha mão
Bateu asas
e voou
Meu coração
por certo tempo passeou
Na
madrugada procurando um jardim
Flor
amarela, flor de uma longa espera
Logo meu
coração ateu
Se falo em
mim e não em ti
É que
nesse momento já me despedi
Meu coração
ateu não chora e não lembra
Parte e
vai-se embora"
(Coração Ateu – João Medeiros e
Sueli Costa)
"Súbito me
encantou
A moça em contraluz
Arrisquei perguntar: quem és?
Mas fraquejou a voz
Sem jeito eu lhe pegava as mãos
Como quem desatasse um nó
Soprei seu rosto sem pensar
E o rosto se desfez em pó
Por encanto voltou
Cantando a meia voz
Súbito perguntei: quem és?
Mas oscilou a luz
Fugia devagar de mim
E quando a segurei, gemeu
O seu vestido se partiu
E o rosto já não era o seu
Há de haver algum lugar
Um confuso casarão
Onde os sonhos serão reais
E a vida não
Por ali reinaria meu bem
Com seus risos, seus ais, sua tez
E uma cama onde à noite
Sonhasse comigo
Talvez
Um lugar deve existir
Uma espécie de bazar
Onde os sonhos extraviados
Vão parar
Entre escadas que fogem dos pés
E relógios que rodam pra trás
Se eu pudesse encontrar meu amor
Não voltava
Jamais"
A moça em contraluz
Arrisquei perguntar: quem és?
Mas fraquejou a voz
Sem jeito eu lhe pegava as mãos
Como quem desatasse um nó
Soprei seu rosto sem pensar
E o rosto se desfez em pó
Por encanto voltou
Cantando a meia voz
Súbito perguntei: quem és?
Mas oscilou a luz
Fugia devagar de mim
E quando a segurei, gemeu
O seu vestido se partiu
E o rosto já não era o seu
Há de haver algum lugar
Um confuso casarão
Onde os sonhos serão reais
E a vida não
Por ali reinaria meu bem
Com seus risos, seus ais, sua tez
E uma cama onde à noite
Sonhasse comigo
Talvez
Um lugar deve existir
Uma espécie de bazar
Onde os sonhos extraviados
Vão parar
Entre escadas que fogem dos pés
E relógios que rodam pra trás
Se eu pudesse encontrar meu amor
Não voltava
Jamais"
(A Moça dos Sonhos – Chico Buarque
e Edu Lobo)